5 - HORA EXTRA (parte 1)

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Os dias passaram. Eu sentia cada vez mais que minha vida estava de fato se encaixando nos trilhos. Eu tinha um visual novo, o pessoal da faculdade me chamava para os passeios, Cláudio parara de me aborrecer... Eu não vinha tendo muitos motivos para reclamar. A única coisa que continuava sendo um chute no saco era Viriato... Mas não por muito tempo.

Pouco antes de essa epopeia toda começar, o clima na empresa não estava muito bom. Duas pessoas anônimas da equipe de suporte pediram uma reunião com o diretor das unidades de Taigo, Marcelo. Viriato era nosso supervisor; não era quem mandava e desmandava, mas tinha crédito e poder para ferrar com quem quisesse, se quisesse. Sempre tememos que ele fosse querer. Por isso, todos, eu inclusive, o evitávamos o máximo que fosse possível e procurávamos andar na linha para evitar dores de cabeça.

Depois dessa primeira reunião, porém, as coisas começaram a mudar de figura. Como percebeu que muita gente tinha ao menos uma coisinha a reclamar de Viriato, Marcelo convocou uma série de reuniões com todos os funcionários de todos os setores. De dois em dois ou três em três, íamos à sala de reuniões para ter uma conversa franca sobre o serviço, sobre o escritório, sobre tudo que pudesse ser de interesse, e, pelo que me parecia, o comportamento de Viriato foi pauta em boa parte dos encontros.

Preferi não me posicionar muito fortemente em relação a tudo, mas não pude deixar de confirmar que ele era um ditador, assediador, inconveniente, babaca—isso tudo utilizando as palavras mais sutis possíveis, é claro. Marcelo trabalhava em outo escritório, em outra região da cidade. Era uma pessoa extremamente agradável, mas não tinha contato diário conosco; nós o víamos bem esporadicamente, e, evidente, quando ele estava por perto, Viriato era a melhor pessoa do mundo e um amorzinho de supervisor. Ninguém jamais diria que ele era o desgraçado que era quando estávamos só nós por perto.

O que aconteceu foi que, dias atrás, depois dessas reuniões todas, sendo a última com Viriato ele mesmo, sozinho, Marcelo decidiu fazer algumas alterações no nosso quadro de funcionários, e uma delas me foi altamente benéfica. Um dos rapazes que pediu a primeira reunião, o que já não suportava olhar a cara de Viriato, foi transferido para a outra unidade, para trabalhar junto com Marcelo. Isso aconteceu porque alguém de lá também pediu transferência e a vaga ficou disponível. Consequentemente, o cargo do rapaz no meu escritório ficou à disposição, e a primeira pessoa na lista de possíveis candidatos, para meu espanto, era eu.

Levei um verdadeiro susto quando Marcelo me disse isso. Segundo ele, foi o próprio rapaz transferido que me indicou, e agora bastava saber se era do meu interesse. O cargo era na área de manutenção e suporte técnico de software, coisa de que eu entendia muito bem, graças à faculdade e às minhas andanças pela (not so) deep web em fóruns de hackers. A minha atual função na área de documentação, Marcelo disse, qualquer um poderia ocupar, não exigia conhecimento técnico específico, mas o novo posto carecia de alguém mais capacitado. Além disso tudo, a carga horária era menor e o salário, bem mais alto.

Não precisei pensar um minuto para aceitar. Trabalhar menos, ganhar mais, saber que Viriato levara um esporro e que agora ficaria mais manso... Era tudo que eu pedira a Deus. Agradeci imensamente tanto a Marcelo quanto ao rapaz transferido por ter me indicado e me prontifiquei a começar o serviço o quanto antes.

Três dias de treinamento na outra unidade foi tudo que levou para que eu pudesse começar. Na semana seguinte, então, eu já estava pronto para assumir minhas novas responsabilidades na empresa. Limpei minha antiga mesa e me instalei na nova sala, que era maior e onde eu teria colegas junto comigo. Eram pessoas que eu já conhecia, mas com quem tinha pouco contato por sermos de setores diferentes. Foram todos muito receptivos e atenciosos comigo, sempre se oferecendo para me ajudar no que eu precisasse.

Prazer e Remissão (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora