4 - VERDADE

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:: ATENÇÃO: O CAPÍTULO 3 - RENASCER JÁ FOI POSTADO! SE VOCÊ NÃO CONSEGUIU ACESSAR, SIGA MEU PERFIL E LEIA AS INSTRUÇÕES NA POSTAGEM ANTERIOR A ESTA! ::


Ainda fiquei mais cinco minutos no banheiro. Foi todo o tempo que tive para processar o que acabara de acontecer. Eu acabara de transar pela primeira vez com uma pessoa que eu jamais vira. Eu perdera minha virgindade com um estranho em um banheiro de loja de departamentos... Quão romântico era isso? Quão absurdo? Quantas pessoas teriam tido uma experiência igual à minha?... Eu sempre pensei que minha primeira vez seria algo especial, com alguém importante para mim, que me fizesse sentir bem, sentir seguro... uma pessoa por quem eu sentisse algo expressivo—ou não: que fosse o Cláudio, por exemplo, por quem eu tinha sentimentos confusos. Nada disso; tudo muito prático e realista.

Mas o xis da questão não estava exatamente no fato de que eu perdera a virgindade com um qualquer: estava no fato de que eu não me importava. Para mim, para o Eugênio ideal, a primeira transa seria um marco miliário, um momento único de elevação pessoal, espiritual. Não foi nem uma coisa nem outra. Foi uma transa, uma foda deliciosa num local público com um ser humano qualquer. E foi aí que eu caí em mim e percebi que sexo era só aquilo: sexo. Talvez por ingenuidade, ou pura imbecilidade, mesmo, algo em mim dizia que uma relação sexual era algo como uma cerimônia, em que se entrava em algum tipo de estado de graça, de nirvana das sensações e então um ser humano entregava-se ao outro num ato de conexão metafísica que só se atinge sob condições muito específicas.

Balela.

Tudo que foi necessário foi meu corpo e o corpo daquele cara, minha boca e a dele, meu pau e o dele, meu pau dentro dele. Não teve nirvana, não teve cerimônia, não teve preparação, só teve adrenalina, tesão e uns beijos bem bons. Por que eu deificava tanto, distanciava tanto aquilo que poderia estar tão perto de mim? Se eu tivesse tido essa realização antes, talvez minha vida tivesse começado a dar certo há muito tempo... Sim, dar certo no sentido mais puro desse termo. Tudo que eu queria era que minha vida desse certo, que eu fosse alguém relevante, que eu fosse feliz. E era isso que eu estava: feliz. Saí daquele banheiro sorrindo, sorrindo com todos os dentes. Aquele era o Eugênio que eu queria ser, um Eugênio que se permitia, que arriscava e que, no final, ganhava um momento passageiro de felicidade sincera; isso era exatamente do que eu precisava.

No dia do aniversário da minha mãe, não teve festa. Fomos à casa dos meus avós para um jantar. Eu e eles temos uma boa relação, mas nos vemos só de vez em quando. Os pais do meu pai eu vi poucas vezes, não moram em Taigo e nunca foram parte efetiva da minha vida, por isso não era como se fossem minha família família; só tínhamos o mesmo sangue. Meus avós maternos, por outro lado, foram, junto da minha mãe, quem cuidou de mim até meu pai voltar a fazer parte do meu convívio. Eu tinha um carinho muito grande por eles... E minha avó cozinhava muito bem, também; meu avô era muito engraçado e sempre tinha umas histórias estapafúrdias para contar.

Assim como noventa por cento das pessoas que me viram nas últimas três, quatro semanas, eles perguntaram o que aconteceu comigo, que eu estava diferente, tinha cortado o cabelo, estava com uma cara mais animada. Eles sabiam que eu sempre fora o garoto meio lesado, nerd, forever alone de todos os setores da existência... Eu não conhecia a raiz da minha mudança, mas fui pauta da conversa por algum tempo.

— Ele não fala o que aconteceu — minha mãe dizia. — Mas aconteceu alguma coisa, não aconteceu, mãe?

— Ahh, aconteceu! Pode ter certeza! Isso tá com cara sabe de quê? De namoradinha nova!

— Será?!

Ah, se eles soubessem... Eu sorria e negava as pressuposições, dizendo que não tinha namoradinha nenhuma, que eu só estava feliz porque tinha cortado o cabelo e comprado umas roupas novas. Uma mudança no visual não poderia ser o suficiente para mexer drasticamente com a autoestima de alguém? Pois então. A minha estava muito boa, obrigado. Pela primeira vez em vinte e três anos eu estava me sentindo bem, bonito, disposto... Ainda faltava sair um pouco do meu quarto e ter contato com pessoas de carne e osso, mas isso foi vindo com o tempo.

Prazer e Remissão (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora