16 - VIRADA (parte 1)

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A verdade era que eu estava me apaixonando por Léo. E a melhor, ou pior, parte era perceber que o que eu sentia era recíproco. Quando eu pensava e dizia que o amava, dizia-o com sinceridade, não por amá-lo como um namorado ama o outro, mas por amá-lo por dentro, pela alma. A paixão vinha de outro lado, de outra parte do meu coração, mas eram sentimentos que se completavam e formavam um todo heterogêneo; uma amálgama de emoções para mim muito claras, mas ao mesmo tempo muito difíceis de explicar. Essa dificuldade, eu acreditava, vinha de eu nunca ter sentido nada parecido antes. As paixonites passageiras se manifestavam de formas bem mais tímidas, bem humildes; já com Léo... Ele me fazia sentir importante, bonito, valente, indomável.

Amado.

Assim que entramos em casa, fomos jantar, e no jantar Francisco me perguntou como foram as coisas lá em casa, ao que eu repliquei com uma meia verdade, para poupar o dispêndio de repetir toda aquela história desafortunada mais uma vez. Ele lamentou que tudo não tivesse saído conforme o planejado e só. Ele não era muito de querer saber da minha vida particular, e eu achava ótimo, pois eu também não era muito fã de ficar dando às pessoas explicações para coisas com as quais elas não poderiam me ajudar.

— E o ano novo? Vai passar onde? — ele perguntou.

— Eu vou ficar por aqui mesmo, até segunda ordem.

— Vamo' pra praia com a gente.

— Praia?

— É, ali em Atma. Final de ano a gente costuma passar lá. A gente tem um apartamentinho num condomínio, que só usa pra ir passar o final de ano quase.

— Ué... Por mim...

— Você não gosta de praia?

— Fui poucas vezes, mas gosto.

— Chama o Leônidas pra ir junto — Cláudio sugeriu.

— Pode chamar, ué. Ano passado ele foi, não foi?

— Não, foi em 2011.

— Hum.

Cláudio era esperto, muito esperto. Sem precisar que ninguém tivesse dito nada, ele já havia sacado que meu lance com Léo estava ficando sério, que a gente estava se envolvendo.

— Chama sua namorada também, Cláudio.

— Não, a Carol não vai estar na cidade. Vou sozinho mesmo.

Não reagi com muito entusiasmo à ideia, mas ela me pareceu muito, muito boa. Embora Léo e eu nos gostássemos tanto, nós nos víamos pouquíssimo. Ele era o tipo de pessoa que eu encontrava por acaso e sempre era atravessado por um rompante de felicidade que durava até o dia seguinte. Vê-lo pessoalmente era ganhar a semana. Parecíamos fazer de propósito: evitar os encontros para nunca perder o sabor de novidade... Mas não fazíamos; e pensar em passar o ano novo, um dia inteiro, ao lado dele me fez ansiar para que isso se concretizasse.

— Você fala com ele? — Cláudio perguntou antes de entrar em seu quarto para ir dormir.

— Falo.

Muito estratégico, é claro, deixar o convite sob minha responsabilidade, para fazer parecer que a ideia havia sido minha. Pensei em chamá-lo no mesmo dia, mas seria forçar muito a amizade: era melhor deixar para amanhã. Mesmo assim, quando conferi o celular pela última vez naquela noite, foi incontrolável a vontade de mandar uma mensagem, um "boa noite" que fosse, só para que ele soubesse que eu estava pensando nele. E, lembrando-me do que ele me dissera pouco mais cedo, que era partidário da livre expressão dos bons afetos, acabei enviando:

Prazer e Remissão (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora