..:: ATENÇÃO: TEM RECADINHO NO FINAL, POR FAVOR LEIAM! ::..
Acho que acordei antes dele. A claridade do sol atravessava as frestas da janela e deixava o quarto meio iluminado. Na cama à nossa frente, Cláudio e Francisco dormiam—Francisco roncava; talvez tenha sido isso o que me acordou. Léo estava ao meu lado, deitado de barriga para cima, respirando devagar. Acordei de súbito e por completo, pronto para correr uma maratona. Consultei o celular debaixo do travesseiro e constatei que ainda não eram onze da manhã; eu não dormira tanto assim. Chequei as notificações do aparelho e depois dediquei alguns minutos a admirar a beleza do homem adormecido ao meu lado.
Como era fácil se apaixonar por ele; como era fácil achá-lo o cara mais lindo do mundo. Ele não era um homem elevado à última potência, da ponta do pé ao último fio de cabelo, não: não tinha o corpo mais definido que já existiu; não tinha o maior pênis que já existiu; não tinha os olhos mais azuis ou verdes que já existiram; não tinha dois metros de altura para me pegar no colo sem dificuldade e me subjugar como um Macho estereotípico faria. Não: Léo era um homem da vida real, um jovem gay como eu, que me amava e me desejava por eu também ser um jovem gay da vida real, e era exatamente isso que o tornava tão extraordinário.
Tidos esses pensamentos, um ímpeto de ternura me levou a repousar minha cabeça no ombro dele e passar meu braço por sua barriga, e foi só então que percebi que ele também já havia acordado. Em um movimento preguiçoso, Léo levou a mão do braço que me aninhava até minha cabeça e acariciou meus cabelos lentamente. O outro braço se pôs sobre o meu, repousado em sua barriga, e seus dedos também acariciaram minha pele com as pontas, causando pequenos arrepios ao longo daquela região. Minha perna esquerda se pôs sobre a esquerda dele; sua direita se dobrou para deixar o joelho a balançar de um lado para o outro enquanto nos acarinhávamos despretensiosamente na primeira manhã de dois mil e catorze.
O tempo parecia voar quando estávamos juntos. Logo Francisco acordou e se levantou, e depois Cláudio, e restamos nós dois no quarto, e já era quase meio-dia. Também não nos sobrou alternativa senão encerrar aquele momento e levantar. Era o início do fim daqueles dias de paraíso que passamos em Atma. Depois de lavarmos o rosto, escovarmos os dentes e nos juntarmos a pai e filho, pulamos o café da manhã e fomos direto para o almoço, que comemos na rua, conversando sobre a madrugada de réveillon.
— Que hora vocês chegaram? — Léo perguntou.
— Umas três, três e meia, não lembro direito.
— Eu não tenho mais idade pra isso, não — Francisco disse com a boca cheia de comida. — Só em ano novo, mesmo, pra eu fazer umas extravagância dessa.
— E vocês dois? — Cláudio perguntou, analisando-nos em segredo com olhos de detetive.
— O que é que tem?
— Foram dormir cedo?
— Cê quer saber se a gente transou, Cláudio? É lógico que a gente transou. Você acha que eu e o Eugênio íamos perder a oportunidade?, com o apartamento vazio e a cama de casal inteira pra nós? Nunquinha.
Léo respondeu com toda seriedade. Minha cara foi ao chão. Francisco e o filho não esboçaram uma reação muito grave, só levantaram as sobrancelhas e torceram os beiços, admirando a sinceridade do amigo. Mas segundos após o efeito que suas palavras causaram, Léo emendou uma risada alta, gozosa, dizendo:
— É lógico que não, né? Eu tô zoando! A gente chegou cansadaço; só tomamos um banho e fomos pra cama mesmo.
— Hum...
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Prazer e Remissão (romance gay)
Romansa::: LIVRO COMPLETO! ::: NÃO RECOMENDÁVEL A MENORES DE 18 ANOS. Quando ingere uma superdose de sedativos para dar cabo da própria vida, Eugênio só quer se livrar daquele poço sem fundo de desgosto, tristeza e solidão. Ao acordar deitado no chão de...