Desilusões

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-Katherine Jackson 

   Foi como se cada pedaço do meu coração se partisse novamente, cascos multiplicados. Juntei minhas forças para seguir em frente, tinha que ser forte, negar o amor que em mim queria viver, um amor falso!
   Deixar Adam para trás foi dolorido, mas necessário. Ele estava me matando aos poucos, e eu a ele. Era errado sempre um ferindo o outro, rejeitando os desejos pelo outro. Se alguem ousasse ameaçar minha familia novamente eu surtaria, desta vez não pensaria duas vezes, de vez a perna agora seria a cabeça ou o coração. Com Adam estou sujeita a uma vida perigosa, tanto para mim quanto para os meus, não posso viver assim, não posso ser egoísta a ponto de pensar apenas em minha felicidade.
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  Reencontrei Sarah, a mesma parecia preocupada me disse muitas coisas, me fez muitas perguntas, claro, com a mascara novamente vestida passei a mentir, fiz um belo teatro e ela acreditou em cada palavra.
  Nick estava feliz, seu sorriso demonstrava seu sentimento, nem parecia ter acabado de sair do hospital, suas forças estavam renovadas e aquilo me motivava, ver meu irmão sorrindo, vê-lo bem era motivador, ninguem tocaria naquele garoto, nem Adam, ou Joe e muito menos Thomas.
   O clima, a multidão e a droga dos momentos anteriores aquilo estavam me sufocando, por mais maravilhoso que fosse ver minha família bem, ainda sim era difícil segurar a realidade pulsando dentro de mim.
  Inventei uma desculpa planejada para convencer Sarah e consegui a permissão para voltar para casa, disse que havia terminado com Adam e que ficar ali só pioraria as coisas, de certa forma não menti, meus laços com ele estavam cortados realmente.
  Andar sozinha pelas ruas e ouvir meus pensamentos gritarem, aquilo tudo estava a me enlouquecer, minha vontade era gritar, chutar tudo ao meu redor e voltar a surtar.
   Quando dei por mim estava passando por um beco escuro e vazio, aquele era o meu momento, encostei na parede a minha direita podendo sentir o peso de minhas costas diminuir, as lagrimas queriam escapar dos olhos enquanto a vontade de desabafar para o mundo apenas aumentava.
   Foi então que um assobio me fez gelar dos pés a cabeça, olhei ao redor e nada vi. Outra vez como se vinhesse o som pelos ares, olhei para cima e nada, quando voltei-me para baixo senti meu coração pulsar em minha garganta.

------- Está com problemas lindinha? - um rapaz de capuz negro, um tanto mais alto que eu e com um olhar devorador estava a me encarar, parado do outro lado da parede, carregando um sorriso mau e uma garrafa de vodka.
  Ignorei o mesmo e continuei a me condenar interiormente, sem ligar para o perigo de estar em um lugar praticamente deserto, escuro e acima de tudo sozinha no momento  que devia estar indo para casa.
   Ouvi os passos do rapaz em minha direção, o mesmo parou em minha frente me fazendo levantar a cabeça para encará-lo, ainda era difícil decifrar o rosto do mesmo, a baixa iluminação e o capuz dificultavam minhas deduções.

------- Sabe o quanto é perigoso andar a essa hora por aqui!?
------- Vai me matar!? Vá em frente, faça! Eu não ligo. - o rapaz sorriu.
------- Uma decepcionada pela vida!? - riu - Ou uma grande medrosa se fazendo de durona?
------- E você o psicólogo da noite!? - retruquei - Vá para o inferno idiota. - me virei para seguir porem o mesmo me segurou pelo braço e rindo me voltou para a parede.
------- A garotinha marrenta. - sorriu.

  Senti minha raiva subir e meu medo se esconder, acabei usando minha força no momento de distração do mesmo e o virei em direção a parede, acabando por deixá-lo de boca aberta.

------- Vejamos um psicopata? Patético. - o soltei, me virei e segui.
------- Sei do que precisa garota! Sei o que está sentindo e sei o que te fará melhorar. - gritou me fazendo parar.
------- Aé? Sabe!? Mesmo? - me voltei para ele - Então me diga, vejamos se é mesmo bom nisso.
------- Tem algo em você que é diferente, sei que esconde coisas, sabe verdades e esconde em mentiras, sei que nesse olhar tímido uma garota ousada se camufla. Quer se soltar porem tem medo da reação dos demais. - que droga de garoto era aquele!?
------- Maravilha, errou génio! - disfarcei - Estou perdendo o meu tempo!
------- Eu nunca erro.
------- Tanto faz! Isso não muda nada.
------- É tem razão. - sorriu - Não muda nada, por isso eu bebo. - levou a garrafa de vodka até a boca.
------ Desculpe, mas eu te conheço?
------ Já passou aqui antes!? - balancei a cabeça em sinal negativo - Então não..
------ Hum, ótimo! - agarrei a garrafa de vodka da mão do mesmo e levei a boca - Um desconhecido, não vai se importar, ou vai!? - ri - Dane-se não me importo.
------- Você é louca... - sorriu enquanto retirava a touca, seu rosto apareceu, cabelos e olhos castanhos, psicopatamente belo - Quem diria que alguem assim apareceria aqui hoje, agora... - se aproximou - Destino?
------- É... Não! Sem duvidas, não! - me afastei - Apenas coincidência.
------- Tem razão, você não  faz o meu tipo - riu, se virou e caminhou até uma escada grudada a parede.
------ Onde vai? - perguntei o vendo subir.
------- Por que não descobre sozinha? - chegou ao topo de uma casa e de cima da mesma me olhou e sorriu como convite para acompanhá-lo.

   Provocador como Adam, um toque de malícia, sinceridade e carência. Um completo estranho, porem o tipo de estranho no qual eu estava acostumada.
  O que mais eu poderia perder? Ah! Dane-se, quem não arrisca, não petisca.
 
   Sem pensar em meu ato acabei por tambem subir a escada, era velha e enferrujada, mesmo assim arrisquei minha segurança por algo que eu não fazia ideia. Era estranho, mas havia aprendido a não ter medo, meu coração estava partido, mas como uma droga a adrenalina o acalmava, era como se cada pedacinho dos cascos e toda a situação perdesse o sentido, emoção e perigo, juntos me faziam esquecer quem eu realmente era.
   Cheguei ao topo da casa, e me deparei com o rapaz, seus olhos iam de encontro ao horizonte. Me aproximei dele podendo assim ter a mesma visão, todos pareciam miniaturas, tanto as demais casas, quanto a multidão no centro e na praça.

------- O que faz em um lugar como esse a essa hora? - perguntei.
------- Não me sinto bem em lugar algum, exceto aqui. - deu outro gole na garrafa de vodka - Sem pessoas para me julgar, ou para me encher...
------- Queria eu ter um lugar como esse... - cochichei.
------- Não se sente aceita? - se virou em minha direção.
------- A um tempo atrás sim, hoje tudo o que quero é voltar a ser a esquecida... - o rapaz sorriu.
------- Parece ter uma historia fascinante por trás desses olhos... - sentou a borda do telhado e fez sinal para que eu o acompanhasse. Assim fiz, me aproximei e sentei, uma perna balançando ao vento, e a outra fixa no lado em que eu estava, olhei para baixo e a altura me fez ter calafrios, meu estômago se contorceu e o medo pensou em surgir. Porem senti uma mão apertar a minha, me virei para o garoto e o mesmo sorria, um sorriso que me fez lembrar Nobel e sua indecência, tão mágico e louco.

------- Então... Desabafe para um estranho, aposto que consigo entendê-la - me soltou.
  Pensei bem e aquilo tudo era louco, o que mais eu tinha a perder?
------- Bem, minha vida sempre foi como a de outras garotas... Ou pelo menos como de muitas, meu pai cuidava de mim, minha mãe passava dias fora á trabalho, meu irmão era o garoto prodígio dela e eu a boneca do meu pai. Não era perfeito mas também não era horrível, um dia tudo mudou, meu mundo caiu sobre a minha cabeça, meu pai sofreu um acidente e veio a falecer, isso destruiu minha família, minha mãe que já era ausente, passou a nos ignorar por completo, meu irmão de aluno dedicado e exemplo, entrou nas drogas e virou alcoólatra, e eu... Bem eu conheci as... - me calei refletindo sobre o que eu acabará de falar.
------- Conheceu as lâminas. - completou me fazendo olhá-lo.
------- Sim, conheci as lâminas e depois do primeiro corte não parei mais, me escondi por trás de um sorriso falso, todos pensavam que eu estava a superar minha perda, a verdade era que não, eu não havia superado. Nesse meio tempo não percebi, mas meu irmão estava ainda pior, estava sozinho, sem mãe, sem pai e sem a mim, ele fingia tanto quanto eu, e se afundava tanto quanto. Quando pensei que seria o fim, quando pensei que não poderia ficar pior... Conheci o "amor da minha vida", sabe... Era louco, estranho e excitante, passei a me sentir viva como nunca antes... - o rapaz me interrompeu.
------ E o que isso tem de ruim? - perguntou confuso.
------ Era tudo mentira, meu "amor" fazia parte da familia inimiga á minha, ele estava  a mentir para mim, porem não parou nisso, esse tal garoto é um psicopata louco, tem surtos quando é contrariado, além de se achar soberano sobre tudo e todos. Ele planejou um acidente envolvendo o meu irmão, planejou me conhecer, me manipular e me deixar no chão. Ameaçou os meus amigos, usou garotas por diversão, engravidou a mulher que fez da minha vida um inferno e se não bastasse ainda mandou me sequestrarem para apenas "conversar", ainda ousa dizer que comigo é diferente... O melhor amigo dele me apontou uma arma e ameaçou me matar, depois matar aqueles que amo... O pior não é nada disso, o pior é que apesar de tudo eu ainda amo aquele desgraçado! É como um veneno em minha mente, parece não ter cura, parece me matar aos poucos. Confuso? Sei disso, acredite não é um filme, é apenas a droga da minha vida.

------- Tem algo em você que é diferente... Não sei dizer ao certo, é algo que...
------- Ah ótimo! Tenho um imã para psicopatas! - o garoto riu.
------- Vejamos... Você é uma garota com problemas com as lâminas e esse garoto é um maníaco louco, uma suicida e um psicopata... Opostos se atraem, não é mesmo!?
------- Ah sim! Ele mataria por ela e ela morreria por ele, não estamos em um filme! Estamos na vida real, isso é impossivel...
------ Impossível? Tem certeza? - aquele olhar me fez gelar interiormente, logo após meu coração subiu a boca, disparado.

> uma suicida e seu psicopata <Onde histórias criam vida. Descubra agora