Deixar para trás

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-Katherine Jackson 

   Diga-me, se estivesse em meu lugar... Vivendo o que vivo, faria diferente?
  Essa dor aqui dentro, está me fazendo desejar a morte. Sabe qual a sensação?
  Diga-me, já teve uma grande ilusão, já sentiu que tudo ficaria bem e logo depois o mundo voltasse a desmoronar...
  Seu irmão recém acordado de um coma, sob a ameaça de idiotas que se acham.
  Pai que não era exatamente pai, mãe que esconde segredos. Amigos que nem sempre te entendem, amores rejeitados, olhar no espelho e se sentir horrível, ouvir os cochichos de pessoas alheias em relação a você, se sentir gorda, feia... Anormal. Estar cercada por psicopatas, loucos, alcoólatras e mentirosos.
   Já sentiu que tudo ao redor é cercado por desastre e problemas?
  Bem, eu devia realmente perdoar o Adam? Esquecer tudo e correr para ele? Vê-lo com a vadia da Ana enquanto espero por aqueles lábios? Diga-me, suportaria isso?
   Não me chame de fraca, você não faz ideia de quantas vezes tive que pedir a mim mesma para parar de chorar, e vestir um sorriso que não era meu. De dizer que as lâminas não eram a solução, e quer saber... Não são! Mas, acredite a dor física é muito menor que a da alma... Pensei que estar com Adam, ou com Débora, Rick... Lucas, até mesmo Nick, me faria parar, respirar e resistir mas não. Não tem como resistir, não consigo resistir, sou uma grande idiota! Tudo bem, diga o que quiser, mas antes de qualquer coisa, tente se por em meu lugar pelo menos uma vez.
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-------- Por favor pare o carro... - pedi ao motorista do táxi e o mesmo parou frente a um bar de esquina - Será que pode ir lá e me comprar uma bebida?
-------- Refrigerante? - me olhou.
-------- Vodka!
-------- Desculpe senhorita mas não acho que... - interrompi.
--------- Não diga que acha que sou de menor! Apenas esqueci a droga da minha identidade, por favor! - uma leve mentira.
--------- Tudo bem! Mas não saia dai! - saiu do carro me deixando sozinha.
  Não demorou muito e então meu celular começou a tocar, pessima hora. Débora.

-------- Sim? - atendi.
-------- Onde estão?
-------- Indo para casa... Por que?
-------- Katherine vocês não... - interrompi.
-------- Está tudo bem Débora, não aconteceu nada... Se minha mãe ligar diz que estou indo para casa, depois te conto tudo... Beijos!
--------- Tudo bem... Eu... - parou - Josh! - riu - Ok Katherine, mas depois quero saber tudo... - desligou.
   Nenhum surto, ou perguntas exageradas... Josh estava mudando Débora, não sei se devia agradecer ou me preocupar.

  Minutos depois o motorista voltou, em suas mãos uma garrafa de vodka como eu havia pedido. Me entregou e olhou para o velocímetro.

-------- Obrigada! Agora para os prédios da 201.
-------- Aquela área é deserta senhorita...
-------- Enquanto este velocímetro estiver rodando então posso ir onde eu bem entender! - retruquei - Por favor apenas dirija.

   O homem voltou a olhar para frente, girou a chave e deu a partida.
  A cada novo metro que o carro percorria mas meu estômago se contorcia, uma nova ideia surgia em minha mente, uma que mudaria minha vida definitivamente.
   Outra vez o carro parou, desta vez frente aos prédios velhos da 201, a poucos metros da praça central e proximo ao beco que por um mísero instante fez minha alma sorrir.
  Paguei o táxi e sai do mesmo, de frente para o antigo beco o mesmo ainda vazio.
   Passos lentos e coração apertado, como se o dia da festa anual voltasse inteiramente para me perturbar. Thomas, Adam... O sorriso de Nick a desconfiança de Sarah, meu encontro com Lucas.
   Olhei ao redor e avistei a escada em decadência, sem pensar duas vezes caminhei até ela e dela para cima do prédio, a vista ainda era bela, todos como pequenas miniaturas.
   Tudo como Lucas havia deixado, e ele havia realmente deixado.
  Voltei a olhar ao redor e instantaneamente sorrir para uma caixinha debaixo de uma telha velha. Caminhei até ela, abaixei e à abri.
  Lâminas, cigaros, uma foto antiga e uma frase.

"Não deixe que o mundo dite as regras, não seja quem não quer ser, faça isso mudar... O final é a morte, então viva enquanto puder"
 

 
  Estava na hora de dar um basta em tudo aquilo, parar de sofrer, de fingir... De sorrir falsamente.
   Agarrei o celular e um cigarro, disquei enquanto libertava a leve fumaça.

-------- Alô?
-------- Tio Robert?
-------- Katherine? - pareceu estar surpreso.
-------- Sim, estou ligando para saber se aquela proposta ainda está de pé...
--------- Proposta..? - se calou por um instante - Ah sim! - riu - Está precisando de algo querida?
-------- Na verdade sim, aquele apartamento em Chicago... Já foi vendido?
-------- Não... Por que? Está pensando em viajar com a Sarah e o Nick? As portas sempre estarão abertas.
--------- Não exatamente... - dei outra tragada no cigarro - Estou querendo sair de New York, terminar o ano e o colégio lá... Sabe, melhor ensino e tudo mais. - outra leve mentira.
-------- Hum... Sair de New York? Sua mãe por um acaso sabe disso?
-------- É ai que você entra, ainda tem uma dívida comigo "pai", mentiu sobre quem realmente era... Sei lá, diga que quer passar um tempo comigo, não sei! Apenas fale com a Sarah.
-------- O que está aprontando mocinha?
--------- Se não me ajudar então irei ficar em outro lugar... - me interrompeu.
-------- Katherine espera! Vou ver o que posso fazer, se me der um bom motivo para isso.
--------- Primeiro fale com ela, me tire daqui e então penso em te dizer. - desliguei. 

   Ir embora? É o melhor que pude pensar..? Sim!
  Se tem algo que me prende ao canalha do Adam, esse algo é aqui.
   New York trás más lembranças, minha vida parece não andar para frente, vou me livrar desse peso, dar um basta em tudo.

> uma suicida e seu psicopata <Onde histórias criam vida. Descubra agora