Tempo

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-Katherine Jackson

   Deitada na cama, olhando para o teto e para os móveis a minha frente, pensava em que ponto minha vida havia chegado, e o que ela era comparada ao que Lucas vivia.
  Sozinha, novamente sentia meu coração partir, e pensar que eu poderia ter morrido naquele beco, com uma arma apontada para a cabeça, ainda não acredito que tive coragem de revidar e atirar em Thomas, foi impulsivo e como nunca antes, vê-lo no chão me deu prazer, não me arrependi, nem mesmo me senti culpada, apenas fiz.
  Depois, novamente neguei Adam, vi a desilusão naquele olhar, desta vez não voltei atrás, simplesmente segui, tenho que aprender a viver sem ele, tenho que dar um rumo a minha vida, depois que o conheci, passei a me apegar a ele, meus dias de felicidade se resumiam a ele, mas, com Adam nada é certo, ele muda e remuda de opinião, não quero sofrer por novamente perdê-lo, tenho e vou superá-lo, aprender a andar com minhas próprias pernas.
  Como irei conseguir? Não faço a mínima ideia, como irei resistir? Ah, tenho! De dia o sorriso e a falsidade permanecem em meu rosto, de noite, bem, de noite as lagrimas caem, as lâminas reaparecem e a dor se intensifica.
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   Os dias se passam, todos estão pensando que estou bem, Adam me ligou outra vez, novamente não atendi, uma semana se passou e então as ligações cessaram. Ninguém desconfia mas estou piorando, não encontro espaço em meu corpo, estou cercada pelos cortes, sim! Não consigo mais resistir a eles, como em meses atras, voltei para a droga do inferno. Sabe, pensei que seria fácil esquecer e seguir, não é, esta doendo tanto que meu peito parece se espremer ainda mais.

#celular tocando#
Lucas

------- Alô? - atendi.
------- Olha para a rua...
------- Ah? - lentamente caminhei até a janela do meu quarto, olhei para a portaria metros abaixo e para a movimentação dos comércios ao redor.
------- Em frente a cafeteria! - levei meus olhos ao prédio ao lado, lá estava ele, olhando para cima - Precisamos conversar...
------- Tudo bem, já estou descendo. - desliguei.

  O estranho daquele maldito beco, agora era ninguém menos que um amigo. Débora ainda estava longe, Rick também, Nick não podia entrar novamente no inferno que acabará de sair, minha mãe, bem, aquilo não era assunto para ela, e Nobel... Estava totalmente excluído de minha vida, excluído até segunda ordem.
  Lucas fazia meus problemas parecem uma grande bola de nada, as histórias do desconhecido, suas palavras completamente idiotas me faziam sentir a vida, ele não me julgava, sabia dos cortes, não me pedia para parar, pois ele também os tinha, uma semana de convivência pareceu anos de amizade, o destino havia me dado um irmão de outra mãe, alguém que não me olhava como uma coitadinha.
  Desci até a portaria e dela caminhei para a rua, logo após em direção ao rapaz. Algo estava errado, o mesmo carregava lágrimas escondidas no olhar, porem ao me ver, contentou-se apenas em sorrir.

------- O que houve? - perguntei.
------- Vamos sair daqui...
------- Tudo bem, como quiser. - Lucas começou a caminhar na frente, passos largos e rápidos. Nos afastamos do lugar em que eu morava e seguimos para as ruas desertas de New York, em especial um predio velho no qual passávamos boa parte do tempo. Ele entrou, subiu as escadas e caminhou em direção ao terraço, fiz o mesmo com uma certa pulga atrás da orelha.
  Do ponto em que estavamos era possivel admirar boa parte do bairro, Lucas acendeu um cigarro e se virou em minha direção.

------- Te chamei aqui para te dispensar - oi? - Desculpe Katherine mas não podemos mais nos ver... Siga sua vida!
------- Você está me zoando!? - retruquei - Como assim "me dispensando"!? O que aconteceu Lucas?
------- Nada! Não aconteceu nada, apenas não quero sua amizade! Esqueça tudo, isso é um erro! - se virou para os prédios, ficando de costas para mim.

   Aquela historia, aquela desculpa, tudo, estava estranho demais.

   Me aproximei de Lucas a passos lentos, toquei em seu ombro e o fiz olhar para mim, aqueles olhos castanhos estavam lutando para segurar as lágrimas, levei minha mão em direção ao rosto do mesmo e o toquei.
------- Ei, o que está acontecendo? - perguntei novamente. 
------- Nada, não está acontecendo nada. - disfarçou.
------- Sei que está mentindo...
------- Não, eu... - parou, se virou e começou a tossir.
------- Lucas... - tentei ampará-lo e notei que havia pingos de sangue no chão - Ei... - o fiz olhar para mim, o cigarro aos seus pés, seus olhos contendo as lagrimas e seu nariz sangrando, maldita doença!
------- Não era para você ver isso... - se virou novamente.
------- O que não está me contando? - caminhei até sua frente, o olhando nos olhos - Lucas...
------- Está piorando! Estou morrendo Katherine... - me olhou - O câncer está se espalhando... Não tenho muito tempo.
------- Quanto tempo? - perguntei contendo o desespero que começava a surgir em mim.
------- Não sei, um mês, uma semana... - interrompi.
------- Não! Deve ter algo para impedir! Algum tratamento, remédio, não sei! Isso deve ter jeito! - Lucas me interrompeu.
------- Não Katherine... Não tem tratamento, não tem remédios, não tem cura! - limpou o sangue - O estágio é avançado, não tem mais solução. O médico disse para sentar e esperar.
------- Quem foi o idiota que te disse uma besteira dessas!? Você não vai morrer! - senti a realidade novamente bater em minha porta - Vou quebrar os dentes desse infeliz!
------- Ei... - me olhou fundo, e com o polegar direito enxugou uma lágrima que se atrevia a descer de meus olhos - Tudo bem, vai ficar tudo bem... - fingiu um sorriso.
------- Não Lucas... Não está nada bem! Não posso te deixar morrer assim! Temos que procurar ajuda - voltou a me interromper.
------- Katherine, para! - me olhou - Não tem jeito, sou um homem morto, tenho que aceitar e viver os momentos que tenho para viver! Chorar não vai adiantar nada. - sorriu no mesmo instante que tirava um novo cigarro do bolso.
------- Acha mesmo que vou ficar sentada te vendo soltar os pulmões para fora!? - agarrei o cigarro de sua mão.
-------- Pode ficar em pé... - pegou da minha mão, acendeu e levou a boca - Mas de pé pode cansar... - soltou a fumaça.
-------- Você é um idiota! - agarrei o cigarro e levei a boca.
------- Boate... - voltei a olhá-lo  - Vamos a uma boate Katherine... Comemorar minha libertação.
------- Está me zoando? - que Droga ele estava pensando em fazer?
-------- E eu lá tenho tempo para brincar!? - recuperou o cigarro logo após sorriu - Eu e você, hoje... Te pego as oito, não aceito outra resposta se não "sim"!

> uma suicida e seu psicopata <Onde histórias criam vida. Descubra agora