Capítulo 20

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Laila

Ouvir Lorena chorar feito criança por alguns minutos incessantes, já estava enchendo o meu saco. Eu tenho que fazer algo para tirar ela daqui ou eu vou arrancar meus ouvidos. Me levanto, me mantendo abaixada e retiro as parafernálias da minha frente com dificuldade, por causa do balanço  da van que se movimentava pela estrada escura. Eu não fazia ideia de onde estávamos indo, porém uma pequena floresta nos cercava.

Havia uma janela nos fundos porem estava trancada. Agarro meus cabelos e suspiro fundo, estou frustrada obviamente. Voltei para o meu posto anterior e Lorena abraçava seus joelhos de encontro ao seu corpo enquanto chorava, fico a olhando com seu semblante triste e perdido.

- Vamos sair dessa, Lorena, eu juro! - digo tentando ser compreensível.

- Eu só quero que o André, venha me salvar...eu não tenho culpa do que você fez, por que teve que ficar com ele?

- Eu precisava fugir, eles me machucavam muito, mas nunca foi minha intenção me aproximar de seu noivo.

- Então diga isso a eles, diga que não fugirá mais deles, por favor, eu não quero morrer!

- Você ama muito o André não ama?

- Amo, e tudo que eu quero é que ele me aceite de volta. Eu sei que ele ainda me ama...só que ele é muito orgulhoso para isso.

Escutar tais palavras cravaram-se em meu peito destruído, acabando com os únicos suspiros que ele tinha para bater. No lugar do calor se instalou o frio e o vazio, que machucavam profundamente meu ser. Lágrimas banharam meus olhos, mas impedi que elas caíssem e revelassem o que eu não queria que ela visse. Eu não poderia vê-la como uma rival, eu não tinha esse direito. Eles se amavam e nada poderia fazer para mudar isso.

Mesmo que isso me fizesse perder aquele homem para sempre, eu tinha que ajudá-la a reencontrar seu amor e lutar por ele, já que eu sou só uma garota que dança nos palcos masculinos para o público masculino, para colocar dinheiro no bolso de Cloyd.

Meu sangue aqueceu por debaixo da minha pele, meu corpo estava em chamas. Fecho meus olhos por um momento e vejo o rosto lindo de André e seus lindos olhos azuis fascinantes que me faziam ter força. E os abri, olhei para Lorena que estava assustada e com um pequeno estilete de sangue caindo de sua testa.

- Lorena, eu sei que está machucada, mas vai ter que aguentar mais um pouco. Eu tive uma ideia para tirar pelo menos, você daqui!

Ela deu um sorriso fraco e olho para trás vendo a janela de comunicação entre a cabine do motorista com a traseira da van e volto pra ela e explico exatamente tudo. Tento usar toda a minha força para abrir a porta lateral da van, mas ela parece estar trancada. Uso a cabeça para raciocinar e procurp alguma coisa comprida e de ferro e Lorena tentou me ajuda.

Ela encontra algo comprido com uma das pontas curvadas e sorrio em Vitória. Encaixo com dificuldade a ponta curvada na fechadura da porta, e forço-a a abrir mas só com a minha força é inútil. Lorena vem e me ajuda e ela faz um barulho ruidoso e sinto o coração disparar, vejo que ela se abriu mais e segurei a porta com minhas mãos a puxando com toda força que tinha, coloquei meu pé para dar melhor impulso e quando a porta ganha uma abertura formidável para ela passar, a janela de comunicação se abre e vejo Mark vigiar por ela e dar a notícia para Cloyd que freia o carro bruscamente e digo para ela pular agora e correr para dentro da mata.

Ela me agradece e sai cambaleante por causa de todos seus ferimentos, mas tudo vai por água abaixo, quando Mark corre atrás dela e volta com ela no braços em alguns minutos.

Cloyd me puxa pelos cabelos furioso e me joga no chão,  fazendo com que eu bata forte com a cabeça no chão ficando um pouco zonza, me viro lentamente e sinto um líquido espesso e quente escorrer da minha testa, mas eu não me importo qualquer morte vale a pena, do que ficar nas mãos desse doente mental. Eu prefiro morrer do que ver André e Lorena juntos outra vez, eu prefiro morrer do que continuar nessa vida mais um pouco.

Vou me despedindo de meus pais e de minha família mentalmente, principalmente de André, mesmo que eu não quisesse aceitar o triste fato de nunca poder estar ao seu lado e me condenar por ter nascido uma pessoa amaldiçoada. Ele precisava saber que durante todo esse tempo, em todo meu universo caótico,  consegui nutrir um sentimento bom, que era ama-lo, apesar de seu coração permanecer a outra pessoa. Eles mereciam ter a chance de tentar se reconciliar.

Olhei para o bico redondo da arma prateada de Cloyd apontada para mim, enquanto Lorena gritava desesperada. Seria uma morte rápida e tranquila, logo eu estaria num outro plano, longe de todo esse caos.

Fecho meus olhos e espero meu tão esperado fim, mas sirenes agudas sondaram meus ouvidos e olhei para o lado vi o carro de André ser o primeiro a chegar, meu coração disparou de felicidade ao ver que ele estaba aqui, mesmo sabendo que não era por mim.

Cloyd olha para trás e depois para mim e começa a atirar em cima de André que se abaixo e se esconde no seu carro que começa a ficar com os danos das balas arremessadas em sua direção. Carros da polícia pararam e várias patrulhas apontaram a arma para ele que mantém sua postura.

Mark larga Lorena e grita "Não sou pago pra isso", ele tenta fugir, mas três policiais correm atrás  dele por dentro da mata escura. Lorena se ajoelha ao meu lado chorando e segura a minha mão e dou um leve sorriso.

Sinto uma forte pressão na cabeça,  mas é indício de uma forte enxaqueca. Mas me sinto fraca para levantar. André grita o nome de Lorena, o que só me mata por dentro, a dor não era mais física e sim emocional, mesmo que não fosse sua amada, queria ouvir-lo chamar meu nome, me chateia a maneira como eu fui me apaixonar pelo homem errado para mim.

Vejo ele com os olhos semicerrados a puxar e olhar preocupado para ela.

Ele leva suas mãos ao rosto da doce menina que agora chorava aliviada, outra sirene foi ouvida. Mas me concentrei na cena de amor na minha frente, ele a abraça só para acabar de uma vez comigo, é como se eu não existisse mais, como eu não estivesse ali esperando sua atenção.

Talvez seja melhor assim, seja melhor eu esquecer esses súbitos sentimentos que nutri por esse delegado. Viro o rosto e vejo Cloyd ajoelhado com as mãos atrás da cabeça com um sorriso staisfeito e com um olhar que dizia "eu lhe disse, idiota", sorri por ver que ele teria seu destino traçado enquanto o meu vagava por um mundo de escuridão que era convidativa.

Uma forma se materializou como fumaça e estendeu sua mão para mim, sorrio e entrego a minha mão e começo a andar ao seu lado.

Delegado Sedutor - Livro 1 (Repostagem) Onde histórias criam vida. Descubra agora