As mulheres da casa se assanharam para admirar o espadachim.
Madrugaram na avenida para conseguir um lugar próximo à passagem das
bandas e pelotões. Levaram chapéu de palha, suco de abacaxi e uma sacola
cheia de tucumãs. Esperaram três horas sob o sol forte de setembro. Viram o
desfile do Batalhão de Caçadores do Exército, com seus blindados, bazucas e
baionetas e sua coreografia de onças-pintadas que esturravam sob o sol a pino.
Logo depois, o alto-falante anunciou o desfile do colégio dos padres. Ouviram o
rufar dos tambores e a harmonia dos metais num crescendo impressionante; a
banda, ainda invisível, emitia sons cada vez mais graves, estrondos
cadenciados ecoando no centro de Manaus. A multidão voltou-se para o topo
da avenida. Zana foi a primeira a divisar uma figura de branco, ostentando
uma lâmina reluzente. A figura avançou, devagar; os passos ritmados pela
cadência dividiam a avenida. O espadachim marchava à frente da banda e dos
oito pelotões, sozinho, recebendo aplausos e assobios. Jogavam-lhe açucenas-
brancas e flores do mato, que ele pisava sem pena, concentrado na cadência
da marcha, sem dar bola aos beijos e gracejos que vinham da mulherada, sem
nem mesmo piscar para Rânia. Ele não olhou para ninguém: desfilou com um
ar de filho único que não era. Yaqub, que pouco falava, deixou a aparência
falar por ele. A aparência e a imprensa: no dia seguinte um jornal publicou a
fotografia dele, com dois dedos de elogios.
Durante meses Zana mostrou aos vizinhos o parágrafo a respeito do belo
espadachim que ela havia parido. A espada cintilava na fotografia do jornal,
mas o tempo tratou de esmaecer o brilho metálico; no entanto, ficou a
imagem da arma com sua forma pontiaguda. As palavras elogiosas ao filho
bem que poderiam ter sumido, porque a mãe já as havia memorizado.
Yaqub vinha ruminando a mudança para São Paulo. Foi o padre Bolislau
quem o aconselhou a partir. “Vá embora de Manaus”, dissera o professor de matemática. “Se ficares aqui, serás derrotado pela província e devorado pelo
teu irmão.”
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Dois irmãos (Parado Por Um Tempo)
Lãng mạnA casa foi vendida com todas as lembranças todos os móveis todos os pesadelos todos os pecados cometidos ou em vias de cometer a casa foi vendida com seu bater de portas com seu vento encanado sua vista do mundo seus imponderáveis [. . .] Carlos Dru...