Capítulo 4

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Quatro Semanas DEPOIS

28 de março de 2018

— Stella!

A suavidade da pronuncia de meu nome agita meu coração e faz minha mente entrar em alerta, mas como normalmente não sou Stella para Edu, não me permito sobressaltar. Mantenho os olhos fechados enquanto reviro o corpo de maneira sutil a espera do que está por vir.

— Você está bem?

Ah! A doçura da voz é estimulante. Minha língua desliza por entre os lábios umedecendo-os. Edu quer conversar e eu esperei tanto por esse momento.

— Você só precisa me ouvir, atentamente — respondo rápido, utilizando de igual suavidade na voz.

— Não diga que vai aumentar o pomar?

Pomar!?

Franzo o cenho. Eu não quero mais nenhum mal-entendido em nossas vidas, então, retruco em alto e bom som.

— Qual pomar?

— Stella? Você está bem?

Abro os olhos. Erick! A visão do magnífico rosto me sacode de volta à plena consciência.

— Desculpa, Erick!

Inspiro fundo. Santa ilusão a minha! Onde já se viu? Confundir a amena voz do simpático Erick com a grave, baixa e durona de Edu.

Endireito o corpo, a blusa e o cabelo. Engulo o nada, a procura de umidade para a mucosa seca de minha boca. Enquanto esfrego a língua nos lábios, elevo os olhos para a janela do carro. Suspiro fundo. Não estou em um quarto de hotel ouvindo o que ninguém merece ouvir, estou no banco traseiro da caminhonete da Ecoviva-BH, acompanhada do meu parceiro de trabalho Erick e de Raul, o motorista. Nós estamos indo em direção à cidade de Ouro Preto por uma estrada de terra, mais especificamente, estamos a caminho da Fazenda Amarílis onde iremos avaliar o projeto de reflorestamento encomendado pelo proprietário.

Prendo o cabelo em um rabo de cavalo alto.

A voz de Edu em minha mente precisa me largar e eu preciso parar de pensar que ainda estou em Piracicaba. Abaixo a cabeça, choramingando em pensamento. Não que eu esteja arrependida de ter vindo morar em Belo Horizonte, longe disso, apenas sinto saudades de casa.

Balanço levemente a cabeça e, depois de conseguir alguma organização em mim, pergunto sem gaguejar.

— Você disse alguma coisa Erick?

Pisco duas vezes para enxergar nitidamente o rosto do meu parceiro de trabalho. Ele tem um certo ar de preocupação misturado a muita curiosidade enfiado entre os bancos dianteiros da caminhonete, mas eu nem ligo, suspeitando que entre seus dedos esteja uma garrafa d'água, encaro sua mão.

— Eu queria saber se está tudo bem. Você está muito quieta. — Erick acompanha meu olhar e me entrega a garrafa térmica.

— Estou bem. — Viro um generoso gole d'água na minha boca seca. Depois falo compenetrada. — Acho nossa visita à Fazenda Amarílis um tanto quanto inútil. O projeto de reflorestamento foi bem elaborado, não vejo onde melhorá-lo.

— Talvez você não devesse aumentar o pomar...

— Já discutimos isso — o interrompo, de forma rápida e rasteira — , não ouse mexer no pomar planejado para essas terras.

Ontem passamos mais de uma hora discutindo esse ponto e deixei bem claro que, por nada, abro mão no tamanho e na distribuição das frutas no "meu" pomar. Viro-me para janela da caminhonete e observo o maltratado pasto.

Quatro Semanas ( Degustação. Disponível na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora