Quatro Semanas ( Degustação. Disponível na Amazon)

Capítulo 43

Mantendo Ágata junto ao peito, Erick comenta.

- Stella, você precisa conhecer Fabrício, ele chegou esses dias da Alemanha. Você se lembra dele, não é, Marcel? - Erick beija o rosto de Ágata e, olhando em seus olhos, prossegue: - A senhora nos daria licença? O sonho de Stella é conhecer essa parte do planeta e nós não vemos Fabrício desde a época de colégio.

Erick gesticula indicando sua intenção de sair nos levando. Ágata põe a cabeça de lado, estreitando o olhar de avaliação na minha direção.

- Stella não se incomodaria em me fazer companhia enquanto vocês buscam esse amigo para se juntar a nós, não é mesmo?

Ela é direta e realmente quer me conhecer.

Problema dela!

- Claro que não! - respondo sem emoção. Libero um franco sorriso ao notar o divertimento sumindo da face de Marcel. Está tudo bem! Separo nossos dedos. - Espero vocês bem aqui.

Ressabiado, Marcel beija minha testa e acompanha Erick. "Tia" Ágata não tira seus olhos de fera protegendo a cria de cima de mim, empina o nariz, estufa o peito e retoma enfática:

- Como estava lhe dizendo antes do Erick nos interromper, você encontrou uma joia rara. É uma mulher de muita sorte.

Superprotetora?! Pouco é bobagem.

- Marcel é um bom rapaz.

- Bom!? Ele é excelente. Ester teve muita sorte. Os filhos começaram a trabalhar jovens, em bons empregos - a fala altiva da tia não deixa dúvida, estou diante de uma mulher de personalidade muito forte e, assumidamente, uma exímia matriarca. - Liberaram minha irmã da preocupação sobre o futuro da família.

- A senhora também tem sorte. Lili é um doce e Isa...

- Aline é uma inconsequente. Nunca teve juízo - extremamente ríspida, ela contra-ataca minha modesta tentativa de ser simpática. - Sempre viveu no mundo da lua. Estaria formada há anos se não participasse de tantas festas, se não desperdiçasse tanto tempo pelos shoppings, se não tivesse corrido para casar. - Antes de prosseguir, seu rosto inclina para baixo e, por entre os longos cílios postiços, me lança um olhar intimidador. - Não havia necessidade de engravidar para apressar o casamento.

Se a senhora está pensando que quero dar o golpe da barriga no seu sobrinho está redondamente enganada. Sustento seu olhar que hora alguma desvia de mim.

- Esmero-me em não ocorrer esse tipo de risco. Cuidar da Isa ontem foi encantador, mas confirmou minha decisão de não querer ser mãe. Quanto a unir-me a alguém, somente o farei quando for em comum acordo. Não sou adepta a trocar de relacionamento como se troca de roupa. - Mantendo meu semblante tão sereno quanto o dela, copio seu tom de voz e seu linguajar. - Mas antes desse dia chegar, pretendo realizar uma série de projetos. E o primeiro deles, a senhora ouviu Erick dizer, é estudar na Alemanha. Por hora, esse é meu principal objetivo de vida.

Atinjo em cheio meu objetivo de agora, deixo-a de boca aberta e de curiosidade aguçada. Ela se senta, me convida a ocupar a cadeira a seu lado e um verdadeiro bombardeio de perguntas se segue. Sou especulada de forma desconfiada e direta. Respondo ao questionário sem ser intimidada por sua postura vigorosa.

Sendo leal, conto-lhe que também comecei a trabalhar nova, aos dezoito anos meus pais não mais me sustentavam. Mesmo envaidecida comigo mesma, poupo-lhe de saber que o dinheiro guardado ao longo dos anos me permitiu alugar o apartamento e mobiliar meu quarto como sonhava. Informo que vim morar em Belo Horizonte quando meu estágio na Ecoviva de Piracicaba se transformou em um emprego. E quanto a minha família? Falo com orgulho sobre meus pais estarem casados e felizes há mais de quarenta anos. Não deixo de acrescentar que meu pai não aceita a aposentadoria, segue funcionário público do estado de São Paulo enquanto minha mãe é professora de canto lírico e meu único irmão, três anos mais velho, além de ser meu melhor amigo, é solteiro e trabalha na aérea de telecomunicações.