Capítulo 9

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Aceito dirigir a Pajero TR4 preta do Erick e nos primeiros quilômetros, aprendo a marca dos grandalhões, Troller. Mas isso não faz diferença, entre eles qualquer carro 4x4 é simplesmente chamado de jipe.

Tudo ocorre muito bem enquanto estamos no asfalto. O meu problema começa quando entramos no caminho alternativo, no trecho de terra. A dificuldade em dirigir nesse tipo de terreno me pega desprevenida. Eu nunca usei a opção 4x4 de carro algum e pior, admito constrangida aos meus próprios pensamentos, nunca dirigi um carro 4x4 na vida e ainda mais: fiz o que meu coração mandava, aceitei a oferta de dirigir o jipe colocando toda minha concentração na estrada sem informar ao Erick minha total falta de experiência. E na primeira parte de lama, muito pesada diga-se de passagem, não dá outra, atolo. Atolo, de não conseguir ir um pouquinho para frente ou para trás e quando engato os comandos mencionados por Erick, consigo somente nos afundar ainda mais no barro. Por fim, ao observar todos os jipes parados, desligo o motor.

"Legal!" Meu consciente desaba desolado. "Passeio interrompido por minha culpa."

— Parabéns, estreando com chave de ouro, Stella! — Erick brinca, sacando o celular do bolso. — Nas trilhas, quando um carro estraga ou atola ou tem um problema qualquer, alguns esperam enquanto outros ajudam.

Ele liga para Daniel, conversa sobre os procedimentos para nos salvar e eu, chateada, não consigo manter o nervosismo distante, aperto o volante.

— Stella — Erick diz pacientemente, depois de desligar o celular e, percebendo o sangue fugindo de meus dedos travados no volante, ele leva sua mão sobre a minha. — Atolar é normal.

— Engata o 4x4 reduzido e a ré, vire o volante para direita e saia devagar.

Libero minha mão dos dedos de Erick. Estico o pescoço ao ouvir a voz, conhecida de alguma forma e vinda de fora do jipe. Vasculho através da janela e dou de cara com o estilo mais despreocupado da face da terra, o do carro... Não, nada disso! Diante de mim está o dono do jipe vermelho que conheci em São Bartolomeu. Mas de onde ele surgiu? Hora alguma havia algo vermelho no retrovisor ou a minha frente, mas, agora, ele está o mais perto que consegue chegar de "minha" janela sem se afundar na lama.

Ele fala mais alguma coisa, sinaliza o que deve ser feito e eu faço o que Erick pede, deslizo o vidro da janela para dentro da porta. Meu olhar encontra o do dono do jipe vermelho. E ele bem merecia uma repreensão ao ver uma mulher ao volante, suas sobrancelhas elevam demonstrando sinal de legítima surpresa, enquanto seus lábios contorcem, esboçando o sorriso de quem está se divertindo... muito.

Meu nervosismo aumenta ao ter a nítida impressão de meu batimento cardíaco ter falhado uma vez. Meu consciente se irrita comigo e eu me irrito com aquele ali do lado de fora:

— O que você acha que eu tentei primeiro o... o — Mordo na língua! Não acrescento um sonoro, idiota, porque Erick é gentil à beça e não merece ter uma parceira grosseirona ao seu lado. Inspiro, doso a arrogância na voz, mas minha língua libera a espontaneidade de meu irracional. — O... Ô do Jipe Vermelho? Claro que já usei todos os recursos do carro.

Seus olhos não desviam de mim.

— Vou posicionar meu jipe atrás do seu e a puxo. — Seu sorriso expande e eu, definitivamente, fecho a cara.

— Eu ficaria extremamente grata — respondo seca, mas amena e desvio minha atenção para o interior do carro.

Ponto final nesse blá, blá, blá ridículo.

Lanço–me para frente e segurando a alavanca debaixo do banco, o empurro para trás.

— O está fazendo, Stella? — Erick pergunta aturdido.

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