Capítulo 20

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Na manhã do dia seguinte, meus sentimentos estão em perfeita ordem. A noite insone e agitada, me permitiu arquitetar um minucioso plano. No final do expediente vou à mesa de Lara.

— Vamos sair para comer alguma coisa? — faço o convite de maneira direta, mas amistosa.

— Vamos — ela responde sorrindo e pega o celular. — Me dá só um minuto, preciso ligar para o Hugo.

— Não. — Sustento meu corpo no lugar para não voar em cima dela — É... Você liga de onde estivermos, sabe? Estou faminta.

Lara, você é mais inteligente que isso.

Seguro sua mão, a levanto da cadeira e não lhe dou chance de fazer outra coisa, a não ser me acompanhar para fora do escritório.

Lara tem, no máximo, um metro e sessenta de altura e vinte quatro anos. O pouco peso não lhe permite ter curvas bem definidas e o cabelo castanho-escuro, caindo em ondas até o meio de suas costas, combina perfeitamente com sua feição meiga e seus gestos doces. A companhia dela sempre é agradável e sua inteligência, fora assunto Hugo, bem poderia transformá-la na minha melhor amiga de BH depois da Lili.

"E você faria o que retende fazer com uma amiga, Stella?"

Minha consciência está apreensiva e meu coração contraído enquanto caminhamos pelas ruas da Savassi.

"Não sei! De verdade! Carla é minha amiga há muitos anos, me entenderia perfeitamente, mas Lara? Ainda nem é minha amiga!"

Meu racional perde a convicção, sabe que será um encontro de merda e ela nunca mais querer olhar na minha cara, será a menor das consequências.

Mas ela não deve ser a pobre coitada chifruda, a última a saber da canalhice do namorado porque Lucas meneou a cabeça confirmando quando lhe pedi para responder sim ou não sobre as escapulidas de Hugo.

"Todos nós devemos encarar a realidade."

Esse pensamento me pega totalmente de surpresa. Meu racional está certo! Por mais que a realidade doa, não devemos viver de ilusão. Então, permitir a Lara ver o que acontece nos bares da cidade me liberta de qualquer culpa.

Bom! Pelo menos eu acho.

Levo o plano adiante e o Idiota Babaca não é outra coisa além do nome que lhe dei. Sem esforço, vejo Hugo acompanhado de uma morena e, pelos meus cálculos, nos aproximaremos do casal pela lateral.

— Ei! Aquele é Hugo!

Que Lara o reconheceria de imediato eu sabia, mas, por mais que eu tivesse tentado antever sua reação, ela me choca... Totalmente! Seu rosto, normalmente corado, ganha novos vestígios de vermelho. Seu corpo avulta, cresce tridimensionalmente, meus dez centímetros a mais de altura desaparecem diante da mulher de imensa fibra aflorada ao meu lado.

— Onde?

"Quanto cinismo Stella!"

Ela ignora minha pergunta e responde a si mesma pausadamente.

— Sim, é ele.

Ela esfrega os olhos rasos de lágrimas, estufa o peito, empina o nariz, firma as mãos na alça da bolsa e sai andando sem olhar para trás. Eu a acompanho, de longe.

Lara é educada à beça! Antes de ocupar a cadeira ao lado de Hugo pede licença a morena, toma um longo gole do chope de Hugo e enquanto ele tenta me fuzilar com o olhar, ela prende seu rosto entre as mãos e lhe dá um beijo. E que beijo! Um beijo daqueles de desentupir pia, de deixar qualquer um constrangido, inclusive eu. Sorrio e abaixo a cabeça incrédula pelo tamanho da audácia dela. Meu Deus! A boca dela o está possuindo sem melindres, ela o reivindica por completo.

— Uau! — exclama desnorteada a "acompanhante" de Hugo. Os olhos repleto de surpresa.

Sim! Uau! A baixinha é quente!

Enfio os dedos no bolso da calça e assumindo uma expressão impassível, aprecio o curioso espetáculo.

Lara junta sua boca febril na de Hugo, demora a se afastar e quando o faz, escorrega os olhos ao longo do corpo da mulher. Depois de a ignorar novamente, acaricia o rosto perdido de desejo do namorado, perguntando:

— Pensei que estivesse em casa?

Plaft!

Pego de surpresa, ele segura tarde demais a mão de Lara.

Ela não é tão bobinha quanto pensei, o som do tapa no rosto do amado ecoa estridente e ela nem faz careta de dor ou balança a mão para se livrar da ardência.

— Vou indo. — A morena se levanta e sai de fininho.

Jeito chato de descobrir que Hugo é perdidamente apaixonado pela namorada caliente, né?

Quase lhe dou um adeusinho.

Lara não desaba em lágrimas, encara Hugo decepcionada, vira-se abruptamente, parte na minha direção feito uma locomotiva turbinada, crava seus dedos em meu punho e me arrasta para longe dali.

Mas eu não me afasto, sem antes sorrir para Hugo. Vejo ódio líquido escorrer de seu olhar e mesmo sem emitir som, ele move os lábios e se faz entender.

— Você me paga.

Eu!?

Ergo as sobrancelhas ironicamente e, unindo os lábios, retribuo o beijo recebido ontem. Depois aceno e parto atrás de Lara sem esconder o glorioso sorriso de satisfação.

 Depois aceno e parto atrás de Lara sem esconder o glorioso sorriso de satisfação

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