Para minha surpresa, não há cineminha após o trabalho. Sou levada ao mirante da cidade, no alto do bairro Mangabeiras para curtir uma maravilhosa visão panorâmica da cidade.
— A vista é linda e a pipoca, realmente, é muito gostosa. Esses pedacinhos de queijo são o máximo — comento e depois coloco um punhado de pipoca na boca.
— Não gostei. — Marcel franze a testa. — Cadê o olhar iluminado de fascinação?
— Hein...— Quase engasgo — Quer dizer... — engulo as pipocas mal mastigadas — ... que você está me levando para conhecer todos esses lugares só por causa do meu olhar?
— Claro que não! Estou cumprindo todas as etapas, você não pediu? — Seu olhar suaviza. — Gosto de sair com você, mas ver sua carinha intrigada é indescritível.
Ele usa cada adjetivo.
Sério!? Intrigada!?
Não retruco porque também gosto de sair com ele, mas não fico intrigada, fico em paz.
Posiciono-me entre seus braços para apreciarmos as luzes da cidade. Ouço, atentamente, onde estão nossas casas e pontos turísticos. É gostoso aprender a localização dos lugares e intrigante não entender de que lugar vem seu timbre e o porquê de ele me atingir dessa forma.
O que esse cara tem?
Quando a narrativa termina, me viro, retribuo o abraço, mordisco seu lábio inferior e esclareço.
— O olhar de fascinação é para a arquitetura divina. Para arquitetura humana, o olhar é de... interesse.
— Seu olhar de fascinação sobre mim? Me enquadro na arquitetura divina? — O sorriso divertido está no seu local habitual.
— Claro! — provoco-o, abusando de uma pausa prolongada. Copio o contorno alegre de seus lábios e completo lentamente: — Como... Homem... Você é uma criação divina.
— Como homem? — Seus olhos arregalam. — Tá aí, gostei! Você está mais relaxada hoje.
— É! Nem percebi.
— Está carinhosa.
— Gostou?
— Oh! Muito.
— Resolvi um probleminha no escritório e tirei um peso enorme das minhas costas ao saber que você não é um playboy fútil.
— Só uma imaginação fértil como a sua para imaginar uma coisa dessa.
— Fértil!? Minha imaginação apenas interpretou os fatos.
— Por que não pergunta? Seria mais fácil se você fosse mais aberta. — Ele me encara.
— Se eu me abrir... — Copio seu sorriso divertido. Já tive minha cota de conversas sérias por hoje. —... não teremos mais nenhuma etapa. Não serei a chatinha irritante que o atrai e você desistirá de mim. — Marcel libera um sorriso enviesado e com ar de provocação fala.
— Então, você não quer que eu desista de você?
— Não enquanto eu fizer bem a você.
Enfio um punhado de pipocas na boca dele e outro na minha. Volto a nossa posição de apreciar as luzes da cidade, recosto em seu peito e aos poucos aprecio uma serenidade que não sentia desde que parei de me reconhecer. A paz em meu espírito me eleva ao estado de êxtase, tudo é tão lindo! Tenho um trabalho empolgante, parceiros maravilhosos, Marcel ao meu lado, o namoradinho...
"Calma! Ele não é namorado, nem o ideal."
Meu racional parabeniza a sensatez do irracional, o deixa envaidecido e a mim ainda mais satisfeita pelo rumo tomado pela minha vida. Esse é um bom caminho, um passo de cada vez, mantendo a mente lúcida, ou pelo menos quase.
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Quatro Semanas ( Degustação. Disponível na Amazon)
RomansaStella Lopes Ernanes é uma jovem cansada de ser submissa aos desejos do namorado. Decidida a ser ela mesma e dona do próprio destino, diz sim ao novo emprego e sai da casa dos pais para morar sozinha em uma cidade desconhecida. Quatro Semanas depois...