Capítulo 15

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Depois de cinco, longos, minutos, a corda presa ao guincho do jipe ondula forte e eu juro ter ouvido um urro de dor.

Desço do jipe e corro ao longo da corda até a margem do rio.

Caralho!

A margem desse íngreme até encontrar um aglomerado de pedras lá em baixo onde está o carro. A luz da lanterna e o material refletivo da capa de chuva, facilitam minha busca, mas localizar o corpo do Ô do Jipe Vermelho estirado sobre os galhos, me põe a mercê de meus instintos. Volto ao carro, visto o cinto da cadeirinha*, prendo a lanterna ao cinto e a anilha** na corda, rezando fervorosamente para ter feito o mesmo que ele.

Quando volto à margem, observo onde a água está passando, firmo a luz da lanterna em meus pés, as mãos nos galhos e desço com cautela sobre a mata retorcida, sem nenhuma base segura para pôr os pés.

Meus olhos finalmente se ajustam à precária claridade e o grito espontâneo e angustiado de: Ô do Jipe Vermelho, escapole de minha garganta.

Bem devagar ele ergue a cabeça e uma das mãos. Acho que uma gota de sangue escorre em seus dedos.

Meu Deus!

Ele está deitado de barriga para baixo na exata metade entre mim e o carro com um dos braços preso entre um grosso tronco de árvore e a parede de pedra.

Puta Merda!

— Cuidado! — Uma calma voz feminina vem lá de baixo. — O tronco maior está solto, foi ele que rolou sob os pés do seu namorado.

— Ele não é meu namorado — falo rápido de maneira automática enquanto vasculho o carro, mas não vejo nada além da lataria prateada retorcida.

— Então para que se arriscar dessa forma?

— Não enche, tá?

— Tá! Bem, sou Michele e você é a...?

— Stella. Você está... hum... bem?

Incido a luz da lanterna vasculhando os ângulos do carro de encontro as pedras e um par de olhos azuis pisca.

— Dentro do possível, sim! Seu... hum... inestimável amigo é um ótimo antídoto para ansiedade, trouxe boas notícias — ela responde copiando minha entonação sem convicção. — Meu marido está vivo. Pois bem, Stella! — Agora ela fala firme e se acomoda da melhor maneira possível para fora da porta aberta do carro, mantendo os braços firmemente atados ao redor de seu corpo trêmulo de frio, molhado até a calcinha com toda certeza. — Desça mais um pouco e role o tronco da árvore para longe da pedra, assim o braço dele será liberado.

Estreito o olhar sobre Michele, uma mulher pequena e parruda, provavelmente mais nova do que eu. Nova demais para ter um filho e, exageradamente nova, para o ter perdido.

"Concentração Stella."

Meu consciente a ignora e eu agarro o galho mais próximo, estendo o pé direito, mais abaixo e a direita que consigo. Desço um passo. Elevo o pé esquerdo...

— Não pise ai. — Ô do Jipe vermelho grita. Paraliso chocada com a força da correnteza onde meu pé quase se enfiou. Inspiro fundo. — Agora traga a perna esquerda e coloque o pé a frente do direito.

Sou obediente, sigo suas instruções e ele está tão perto de mim agora. Posso ver sua expressão calma e concentrada me avaliando, o corpo apoiado sobre os cotovelos enquanto uma mão está cobrindo o antebraço preso, absorto em me instruir onde devo pisar. Mais dois pequenos avançar de pernas e estou ao seu lado. Continuo seguindo suas instruções, então, apoio minhas costas na pedra e depois de prender minha corda de segurança nela, giro o tronco sobre seu próprio eixo usando toda força dos pés. Um braço surge na claridade de minha lanterna e novo calafrio me percorre. O antebraço não está moído, mas a cor vermelha se espalha em toda sua extensão. Prendo a respiração e o ajudo a rasgar a capa de chuva com alguma dificuldade utilizando o canivete, mas sem maiores problemas rasgo a parte da frente da minha camisa enfiando a lâmina nas costuras laterais por baixo da capa. Amarro o tecido em volta do corte sem prestar atenção no ferimento.

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