Quatro Semanas ( Degustação. Disponível na Amazon)

Capítulo 45

Diferentes estilos musicais se sucedem assim como as taças. As pessoas sorriem mais, dançam mais e eu as acompanho.

A turma convidada por Lili é animada. Revezando a atenção entre Ágata e Augusto, não perdem o pique da música e não permitem à Lili um único minuto de sossego, sua taça está sempre abastecida e, ao seu lado, há sempre um punhado de conhecidos acompanhando seu festejar. Embora eu possa curtir a festa olhando para onde bem entender, porque aqui ninguém invadirá minha privacidade, somente me sinto livre para desfrutar inteiramente do baile quando meu coração percebe, que lá no fundinho, Marcel tem uma boa dose de consideração por mim.

Marcel sempre se mostrou descontraído e hoje, em especial, sinto-o completamente relaxado. Ele se mantém ao meu lado emitindo ondas de carinho em olhares de admiração e em beijos roubados. Contamos pequenos casos um para o outro ou para os outros e dançamos, dançamos muito. A qualidade do repertório não se discute, se curte.

A sensualidade, contida de ambas as partes no início do baile, depois das tradicionais valvas, exala em grandes doses de movimentos sensuais ao som de You Can Leave Your Hat On. Marcel revela-se um ótimo dançarino, de maneira requintada, inventa passos, tornando divertido ficar ao seu lado em Dancing Queen. Abro o sorriso quando ele insiste em me fazer acompanhá-lo e eu sigo ao seu lado sem atropelar em seus pés. Mas quando a música acaba, ele estaca no meio da pista de dança.

— O que foi? — pergunto avaliando ao redor.

Marcel não responde. Mantendo-se quieto entre os dançarinos agitados pelo som de Mas Que Nada, suas mãos imobilizam meu rosto, o brilho cor de mel cravado em mim eleva meus lábios num discreto sorriso e os dele, espontaneamente, copiam meus movimentos. Um passo à frente retira o espaço entre nossos corpos. Engulo sem que minhas pálpebras e meus lábios me obedeçam, meu sorriso expande acompanhando o dele. A vivacidade espalhada na face ligeiramente rosada... Nossa! Minha boca arrebatada pela sua, libera um gemido vindo do fundo da garganta, sua língua me invade trazendo seu hálito quente e fresco para junto do meu. Sua ternura invade meu coração, envolvo seu pescoço entre meus braços e ele está me beijando e eu o estou beijando, nossas línguas se entrelaçando ao som dos ritmados badalos dos sinos.

Ele conseguiu!

Fez-me sentir diferente das demais e se fez, totalmente, único no longo beijo. Comentários sussurrados por diferentes timbres misturados aos acordes afinados de A Sky Full Of Stars soam longe quando sua boca afasta da minha. Não somos mais parte integrante dessa festa. Envoltos em nosso contentamento, nossos corpos aproximam e afastam no ritmo da ternura que nos invade. Nossas pernas encaixam em encontros propositais, em leves toques de nossos quadris, na insistência de zerar o espaço em disfarçados amassos. Seus expressivos olhos estão atentos a mim, ganho um forte abraço ao término da canção, forte o suficiente para eu ter de abafar um gritinho ao sentir os pés fora do chão e receber um beijo no queixo. As pupilas dilatas não se escondem debaixo dos longos cílios, as encaro escorregando por seu corpo de volta ao chão e a evidente força de seu desejo sentida por meu quadril, inflama meu já aquecido sangue. Procurando nos acalmar, envolvo seu pescoço e afasto nossos corpos dando um passo atrás, mas não contenho o sorriso vencedor. Bingo! Vantagem feminina. Entre minhas pernas somente eu sei o que se passa. Minhas bochechas afogueadas agregam à maquiagem um novo tom avermelhado. Marcel inspira fundo, muito fundo, apoia sua testa na minha, sorri em meus lábios.

— Você vai me enlouquecer. — Sua voz falha entrecortada pela respiração ofegante.

— Já enlouquecemos — respondo dando-lhe um selinho.

— Stella, sua ingênua sedução está nos cozinhando em banho Maria e sei que não estou sozinho nessa panela. Sei o que essas bochechas escondem.