Às 8 horas da manhã do domingo, 8 de abril de 2018, estou de banho tomado e devidamente vestida ao melhor estilo "Lili passeando de jipe". Uso uma bermuda jeans transada, troco a bota de trilha por um tênis feminino e delicado. Sem a mínima ideia do que está por vir, tenho por debaixo da camiseta descolada, um coração batendo loucamente. Mas antes da ansiedade pensar em se apossar de mim, Marcel toca o interfone e eu vou ao seu encontro.
Que delícia, ele não me deu o fora e ainda teremos companhia!
Recostados no jipe prata estão Daniel e Erick, do preto, descem Sérgio e Lili. Ela se apressa em me abraçar.
— Sabia que tinha coisa no ar — ela sussurra no meu ouvido depois de beijar minha bochecha.
Todos me cumprimentam, inclusive Erick.
— Agora vai sossegar?
— Também senti sua falta.
Senti mesmo! Dou-lhe um forte abraço.
Passamos o amanhã apreciando as montanhas nas trilhas não muito distantes de BH. Ao ser apresentada à Serra do Gandarela, peço para Marcel estacionar. Impossível dar só uma passadinha sem apreciar os magníficos detalhes do visual. E estar no alto da montanha mais alta da região, nos permite visualizar o belo horizonte de todos os ângulos. De um lado, ele foi ocupado pelo homem, morros foram desmatados e a cidade de Belo Horizonte se ergueu ao fundo, mas o extremo oposto é verde. Verde como toda mata nativa tem de ser. A floresta densa, intocada, sobe e desce as montanhas cobrindo-as dos mais deslumbrantes nuances de verde.
Os ocupantes dos demais carros se juntam a nós. Marcel usa o jipe vermelho de encosto e eu me enfio entre suas pernas para admirar a paisagem. Perco-me na beleza do lugar. Meu espírito sai a passear e volta encantado para descansar ao meu lado. Agradeço a Deus e a Marcel pela a oportunidade de estarmos diante de tamanha exuberância.
— Uma cobertura maravilhosa para todos os tipos solos — penso alto e o ar retido escapole em meio ao pensamento, relaxo os ombros. — Não imaginava encontrar uma área completamente preservada próxima a uma metrópole. Dá para ver que a vegetação aqui é totalmente intocada. Podia se manter assim.
— Seu objetivo é preservar a natureza? — Marcel pergunta roçando seu queixo no meu ombro.
— Por mim, a natureza nunca seria tocada, mas deixo para os amigos ambientalistas lutarem por essa causa. Eu prefiro recuperar áreas manipuladas pelo homem. — Apesar de seu olhar acompanhar o meu perdido no horizonte, ele está prestando atenção à minha fala e sua atitude me encorajada. — O desenvolvimento é inevitável, o que torna a retirada de recursos da natureza também inevitável, mas precisamos aprender a fazê-lo de maneira segura e a recuperar as áreas estratificadas. Por isso quero ir à Alemanha, já ouviu falar na transformação do vale do Rhur? Quero ver de perto como as minas de carvão e siderúrgicas desativadas foram reinventadas. A região sofreu uma transformação profunda, criaram um corredor verde que se desenrola pelas dezessete cidades da região, seguindo o curso do rio Emscher. — Abaixo a cabeça, tomo fôlego. — Gostaria de aprender a concertar o que o homem "revirou", só isso! — Giro. Meus dedos enfatizam as aspas quando encontro o olhar de Marcel atento. Mas desvio rapidamente o rosto. — Falei demais, né? Cadê os outros?
É constrangedor o jeito de seu olhar se prender ao meu.
O que ele tanto procura?
Alongo a coluna e ele responde:
— Cansaram de ver seu deslumbramento e seguiram para pedir o almoço.
— Não notei os carros saindo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quatro Semanas ( Degustação. Disponível na Amazon)
RomanceStella Lopes Ernanes é uma jovem cansada de ser submissa aos desejos do namorado. Decidida a ser ela mesma e dona do próprio destino, diz sim ao novo emprego e sai da casa dos pais para morar sozinha em uma cidade desconhecida. Quatro Semanas depois...