Thomaz Beckman

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03 de março de 2014.
Seattle (EUA).


   Estaciono o carro na garagem do restaurante, em seguida desço e entrego as chaves para o manobrista. Ele é um rapazinho baixo, gordinho e um pouco convencido. Está usando roupa social: terno e gravata. Ele me agradece depois que lhe dou um dinheirinho extra.
   O restaurante que Bia escolheu é bem chique e falado na boca do povo de Seattle. Ela sabe ser extravagante quando saímos para jantar, e olha lá que é só para resolver assuntos de negócios que deixamos pendentes por coisas mais importantes.
   Bia está usando um vestido preto, sensual, bem decotado entre os seios e as costas e é... bem curto. Sem contar os cabelos soltos e a corrente com pérolas, combinando com o vestido.
   Ela deve ter se arrumado assim só para eu notar e ficar com o pau duro, mas se enganou feio. A mulher que eu quero se chama Anna Florentiny, e eu vou arrancá-la do marido de qualquer jeito. Ela tem que ser minha. Detesto pensar que ela faz amor com aquele miserável e não comigo. Às vezes penso que deveria deixar isso para lá, Anna é muito nova para mim. Só tem 20 anos e parece uma menina que não sabe nada da vida, mas isso não é verdade e já estou com a cabeça virada; não consigo não pensar nela, nos amassos que a gente dá de vez em quando. Hoje quase transei com ela, mas fui interrompido duas vezes. Na próxima, eu passo a tranca na porta da minha sala para ninguém nos perturbar.
Caralho! Que porra de pensamento é esse? Estou querendo fazer da minha empresa um motel. Isso não é bom. É perigoso demais. Para piorar a situação, Bia me pegou no flagra querendo entrar dentro de Anna.
   Pense, Thomaz. Você tem que agir com cautela daqui para frente. Mas com Anna... tudo é perdição para mim, eu esqueço do mundo e até mesmo dos assuntos importantíssimos da empresa. Como essa mulher faz isso?
   Eu queria ao menos ter a chance de estar com ela a toda hora, mas sei que isso é impossível. Anna é casada e não pode sair de casa sem que Karrigh perceba. Eu queria poder vê-la à noite, mostrar a ela o que perdeu antes de se casar. O que é bom, gostoso e... Merda! Perigoso também. Mas, foda-se! Eu vou ser o amante dela. Wagner já deixou claro que está preparando tudo para poder pegar o marido dela com a mão na massa, e aí Anna estará livre.
   Passo pela entrada do restaurante, cumprimento alguns homens que conheço e aproximo-me da mesa onde Bia está. Ela sorri ao me ver.
— Boa noite, Sr. Beckham.
   Tomo a cadeira para me sentar.
— Boa noite, Srta. Jackson. Trouxe o computador?
— Sim.
   Ela saca, de uma bolsa preta quadrada, o minicomputador que usamos fora da empresa e deixa-o sobre a mesa, depois me entrega dois papéis de contrato, que dobro e guardo no bolso do paletó do terno.
— O senhor já assinou tudo? — ela me observa.
— Os dois contratos, sim, Bia.
— Ah. Bom, senhor...
— Antes de começarmos, quero saber o que estava discutindo com Anna hoje de manhã, quando eu não estava na minha sala?
   Ela enrubesce.
— Coisas.
— Que coisas?
   Bia fica sem saída, inibida. Olha para todos os lugares do restaurante, menos para mim.
— Bem, é...
— Não enrola, Bia — digo rispidamente.
   Ela percebe que não estou para brincadeira, então desanda a falar:
— Fui censurar Anna por aquela cena que vi. Achei ridículo, Sr. Beckham.
   Arqueiro as sobrancelhas.
— E quem é você para achar alguma coisa lá dentro do meu império?
  Pegue leve, Thomaz.
— Me desculpe, eu só queria...
— Eu vou deixar uma coisa clara aqui, Srta. Jackson: não quero ver ninguém amedrontando a Anna na minha empresa, pode avisar a Alexia também.
— O senhor está tendo um caso com a Srta. Florentiny? — diz, estupefata.
— Minha vida pessoal não te diz respeito. Se eu quiser sair com a Srta. Florentiny, eu saio sem temer a ninguém.
— Mas o senhor disse que não sairia com nenhuma das suas funcionários.
— Porque todas não me agradam, exceto uma.
— Por que não?
   Reviro os olhos.
— Oras, Bia, não me force a dizer coisas que vão te magoar.
   Ela deve estar achando que sou fácil de lidar. Mudo de assunto para não prolongar o nome de Anna no meio de tudo isso.
   Ao virar o rosto para os cantos do restaurante, vejo um grupo de policiais em uma mesa há dois metros de mim. No meio de dois homens fardados está Karrigh Phillips rindo de algo.
   Então é ele... Ele é quem tem a esposa perfeita em casa, todinha para ele.
   Que desperdício!
   O tal Karrigh é grandalhão, robusto igual a mim, loiro, cabelo liso e pele branco. Está de bem com a vida junto com os amigos. A postura, de autoritário e arrogante. Conheço a laia dele, é do tipo que bate nos bandidos até ver o sujeito morto.
   Só de pensar que ele usa aquelas mãos para bater na Anna, eu fico furioso.
   Meu punho se fecha na mesma hora em que recebo uma mensagem de Wagner.

De Wagner:
Karrigh está no mesmo restaurante que você. Tome cuidado. Temos que pegá-lo na hora certa.

  Parece que Wagner adivinhou o que acabei de pensar. Digito outra mensagem enquanto Bia tagarela sobre o contrato.

De Thomaz:
Estou vendo ele aqui. O babaca está bebendo com uns colegas de trabalho.

   Minutos depois, Wagner responde.

De Wagner:
Ótimo. Disse a Anna que ele põe chifre nela?

De Thomaz:
Falei, mas ela meio que não acreditou.

De Wagner:
Relaxe, com um tempo ela vai acreditar. Estou fazendo o serviço com cautela, Thomaz. A fachada desse imbecil vai cair a qualquer momento.

De Thomaz:
Ok. Me avise quando tiver novidades. Estou ocupado no momento, depois nos falamos, Wagner. Beleza?

De Wagner:
Beleza.

   Bia continua falando, e ela fica irritada quando percebe que não estou prestando a atenção.
— Posso continuar trabalhando? — diz ela com um tom áspero na voz.
— Claro.
— Então, como eu estava dizendo...
   Meu telefone toca, interrompendo a fala de Bia. Ela fica furiosa. Se eu não fosse o patrão, ela me mandaria para os infernos agora mesmo.
— Me desculpe. Vou atender rapidinho.
   Levanto-me e vou ao banheiro masculino, que fica no andar de cima do restaurante. Sorrio ao ver o nome da mulher na tela.
_ Anna, que surpresa. É a primeira vez que você me liga.
   Encaro meu reflexo no espelho e poso o punho direito na borda da pia do banheiro. Até que não estou nada mal. Uso calça jeans, uma camisa cinza e um All Star original da Nike.
— Oi.
   A voz dela sai rouca e bem baixinha que quase não ouço.
— Fiquei alegre com a sua ligação, sabia? Como sempre, todas as reações em relação a você me alegra.
— Que bom. Liguei porque eu queria saber como você está.
— Agora estou ótimo.
   Ela fica em silêncio por uns segundos, deixando apenas sua respiração no ar.
— Anna?
— O quê?
— Está sozinha em casa?
— Estou.
— Cadê o Karrigh? — Apesar de eu saber onde está.
— Ele pegou o turno da noite para trabalhar.
   Ótimo.
A que horas ele volta?
— Só amanhã de manhã.
   O silêncio se prolonga. De repente, uma ideia surge na minha cabeça.
Não, cara. Você vai se ferrar.
— Vou desligar. Não quero atrapalhar seu jantar de negócios com a Bia.
— Não, espere, por favor. Eu... — pigarreio — posso... ir na sua casa?
   Droga, Thomaz, isso é pedir demais. Cruzo os dedos para que ela diga sim. Vamos lá, Anna.
Sr. Beckham...
— Thomaz. Me chame de Thomaz, Anna.
— Ok. Não é uma boa ideia, Thomaz.
— Por que não? Meu Deus, seu marido não está em casa.
— Os vizinhos vão notar.
   Lembro-me de um dia Wagner citar que uma tia minha mora atrás da casa de Anna. Ela se chama Frankie e é irmã da minha mãe, mora sozinha com o filho de 19 anos. Não tenho muita intimidade com os dois, mas posso aparecer por lá só para dar um pulo na casa de Anna.
— Eu tenho uma tia que mora atrás da sua casa.
— E daí?
— E daí que eu posso ser cauteloso.
   Sinto a hesitação na voz dela.
— É melhor não, Thomaz. Não quero ter um amante.
— Anna, por favor, eu quero você.
    É a mais pura verdade. Estou louco para me enfiar nessa mulher. Ela suspira no alto-falante do celular.
— Ter um amante não é bom. Um dia a casa cai.
— Ter um marido que te bate também não é bom.
— Eu sei me cuidar.
— Estou vendo. Me diz como.
— Thomaz.
— Anna, eu já deixei bem claro o que eu quero. Não vou desistir. Sei que você também quer.
   A voz dela se torna mais abafada ainda, e acho que está chorando.
— Não chore, Anna. Me desculpe, pelo amor de Deus.
— É que... eu não posso simplesmente botar outro homem na minha cama enquanto meu marido está lá fora, trabalhando.
— Você não acreditou em mim quando eu disse que ele te traí?
— Você não tem como provar.
— Ah, Anna, tenho, sim. Você vai cair para trás quando ver.
   Ela chora ainda mais.
— Não faça isso. Chega. Não chore mais, cariño.
— É difícil.
— Pense em mim, Anna, não nele. Sou eu que te quero bem.
— Eu também quero você, Thomaz, mas não podemos ficar juntos.
   Yes! Ela me quer, finalmente confessou.
— Se você me dar uma chance hoje à noite, vou fazer valer a pena. Eu prometo, Anna.
— Meu Deus.
— Eu vou te mostrar como se faz amor de verdade.
— Me mostrar?
— É. Prometo ser intenso com você, não te machucar e parar se você não gostar.
— Mas e se...
— Confie em mim, Anna.
— Tudo bem. Pode vir.
— Você quer que eu vá?
— Mais do que você imagina, Thomaz. Eu preciso... de...
— Estou indo.
   Obrigado, meu bom Deus!

O preço da infidelidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora