Um mês depois

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06:58 AM

   Observo as lindas montanhas da fazenda. São grandes e extremamente perigosas, em épocas menos frias, sempre há escaladores quase no topo, correndo risco de vida. E quem disse que eles se importam com isso? Sabem o risco que correm e mesmo assim ainda persistem em prosseguir com a loucura.
   De costas para o casarão, vestido que nem um moleque de bermuda, sem camisa, reflito sobre tudo que aconteceu até agora. O que eu disse a Anna foi verdadeiro. Não menti em nada. Infelizmente, não posso apagar os meus erros, o que fiz com ela. Mas também não posso deixá-la para o Thomaz novamente. Isso não. Já basta! Ele roubou o que era meu, se meteu na minha vida, com a minha mulher, deitou na minha cama. Transou com ela na minha cama! Isso eu não aceito! Eu sou Karrigh Phillips, o homem que jurou vingança. E eu vou cumprir. Se ela não ficar comigo... Ah, Anna... Por que vai me obrigar a fazer isso? Me aceite de volta que tudo ficará bem.
— Anna, Anna... Minha mulher. Só minha — sussurro ameaçadoramente, respirando o ar fresco do mato. Depois rio, relembrando das artimanhas que fiz para a polícia não me achar. Já se passaram um mês e ninguém me achou. Isso é bom demais. Serviu para o Thomaz pensar bem, se revoltar, se sentir impotente.
   Você não sabe do que sou capaz. Não sabe nada sobre mim. Sei o que esses comedores de mulheres casadas merecem.
Roubou a minha mulher. Agora, não terá mais.
   Saio dali com a cabeça quente, os pensamentos flutuando, relembrando das fotos dela indo para o motel com o amante. Eu tenho todas bem guardadas.
    Lembro quando eu pegava o torno da noite para trabalhar, eu imaginava Anna, na cama daquele ordinário. Nunca pensei que um dia passaria por essa situação, que acabaria preso e traído. Relembrar disso me dá ódio e vontade de matar os dois, mas vou pegar apenas um: Anna.
   Abro a porta do quarto dela, entro em silêncio, sério, concentrado no meu alvo. Pego uma cadeira de madeira do canto e a coloco próxima a cama, onde Anna dorme como uma princesa.
    É difícil olhar para ela e pensar que vou sacrificá-la daqui a pouco.
   É uma menina mulher, linda e delicada, exatamente como a conheci. Não mudou em nada.
   Não me arrependo de ter me casado com ela. Anna sempre foi tudo que eu esperava. Tive tanto amor, carinho e dedicação da parte dela que não soube aproveitar. Às vezes me vem à cabeça o “e se”. E se eu não a maltratasse? E se eu fosse menos bruto e mais carinhoso? E se eu não a deixasse sozinha quase todas as noites? E se eu dedicasse mais a ela do que ao trabalho? E se eu fosse um bom marido? Ah! São tantos “e se”...
   Suspiro fundo.
   Anna acorda já assustada por eu estar ali, olhando-a dormir.
— Bom dia — murmuro com a voz grossa.
   Ao abaixar o cobertor até a cintura, noto que está mais magra do que quando a trouxe para cá, e mais branca também.
   Ela não responde o meu bom dia, pelo contrário, faz cara de quem não gostou da minha presença.
— O que você quer? — pergunta, azeda. O semblante caído, triste.
— Quero que vá a um lugar comigo.
— Não estou a fim.
   Passo a mão nos cabelos, puxando os fios, com raiva.
— Olha, Anna, você não decide nada aqui. Sou eu quem mando. Contribui comigo, por favor, ou farei coisa pior. Você sabe que eu não estou para brincadeiras.
— Onde mais vai me levar? Eu já conheci todos os lugares daqui.
— Todos não. Vá se arrumar.
   Ela levanta da cama sem vontade, vai para o banheiro e lá fica por um bom tempo. Permaneço no meu lugar. Vinte minutos depois, ela volta, arrumada dessa vez, usando um shortinho branco e uma blusinha de seda cor-de-rosa. Os cabelos amarrados num rabo de cavalo. Ela passa por mim e, no canto do quarto, pega um par de pantufas com a mesma cor da blusinha.
   Lembro-me de que são as mesmas roupas que comprei e lhe entreguei. Pelos menos ela está usando.
— Gostou das roupas que comprei pra você?
   Ela vira nos calcanhares lentamente, me olha frustrada e, bem rápido, desfaz a expressão. Eu sei porquê — eu não a olhava com nenhuma maldade, malícia, ironia ou sério como uma pedra, pelo contrário, eu a observei com muito carinho, tranquilo e até amoroso ao vê-la calçar as pantufas.
    Sorrio de leve quando vejo que a agradei. Ela não está mais zangada, mas não sorri.
— Por que está fazendo isso? Eu nunca quis nada de você, Karrigh.
— Eu tenho que fazer isso. Você é minha esposa. Os maridos agradam as esposas, não? E eu sempre gostei de comprar roupas pra você. Gosto do seu corpo. Você é bem magrinha, o que não dificulta a minha cabeça quando vou a uma loja. Me divirto com isso, principalmente quando opto por lingeries. Sei do que você gosta, Anna. Está tudo gravado na minha mente, até mesmo o seu peso.
   Ela fica me olhando falar, não diz nada. Parece que a surpreendi. Era para ficar emburrada, mas não está. Parece perdida.
— Sei o que quer. Algumas coisas não posso lhe dar, seria demais. Conheço você mais do que o próprio Thomaz. Já se perguntou se ele realmente te conhece?
   Ela nega com um movimento de cabeça, depois captura o chão e volta para mim novamente, confusa.
— Será que ele saberia comprar as suas roupas sem mandar um segurança ou um empregado fazer isso? Muitas das vezes você me pedia para fazer amor bruto com você. Algum dia ele fez amor bruto com você, Anna?
   Ela fica em silêncio, pensativa, enervada...
— Não? Responda.
— Não — murmura num fio de voz, tão baixo que quase não ouvi.
— Eu imaginei. Sei do que você gosta porque sou seu marido, vivi com você durante três anos e quatro meses. Conheço você e teu corpo na palma da mão.
   Eu me levanto da cadeira, me apróximo dela devagar, como um leão. Um leão cheio de amor e desejo.
— Conheço sua expressão quando goza. Se está gostando ou não. Sei onde fica seu ponto fraco, sei o que dizer a você enquanto estamos nos amando, sei qual motel você mais gosta, o restaurante, a comida. As palavras carinhosas que te faz arrepiar toda debaixo de mim — toco seu queixo com o polegar, sussurrando de modo sedutor. Encosto-a na parede. Anna não diz nada, me observa, mas não me faz parar. Isso é um bom sinal.
  

O preço da infidelidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora