Thomaz Beckham

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   Durante um dia, minha vida virou de cabeça para baixo. Sem notícias da busca de Anna, eu me sinto, a cada segundo, um homem desolado e frouxo. Quando os investigadores disseram que perderam a localização do carro e do celular de Karrigh, eu fiquei impotente, me sentindo inferior, sem o poder de executivo que tenho. Karrigh conseguiu ser mais forte do que eu, agiu rápido, sem vacilar. Prometeu e cumpriu.
   Andando de um lado para o outro, no meio da sala, com a minha família em casa, meus pensamentos vão para o lado negativo.
   Preocupado além da conta, não comi nada até agora. Apenas bebi um copo d'água, à espera de telefonemas da delegacia.
   Estou angustiado, o coração batendo  descompassado. A minha paz se foi.
— Filho, você quer um chá?
   Minha mãe vem até mim com empatia, tocando meu ombro de forma carinhosa.
— Não, mamãe. Obrigado.
— Olha, filho...
   Meu pai levanta do sofá, d.eposita o copo de água e se aproxima de mim, envergonhado ao prosseguir:
— Me desculpe por julgar a Anna, por ter falado com vocês dois daquela maneira e por não te procurar durante esses meses. Eu deveria te apoiar, mas fui contra. Agora entendo o quanto a Anna é valiosa, principalmente pra você.
   Olho para ele, sério. Noto o arrependimento misturado com a vergonha no modo dele falar. Penso em desprezá-lo, mas digo:
— Está desculpado, papai.
   Dou um leve sorrisinho, e isso o faz relaxar.
— Vem cá — ele estende os braços para mim.
   Meio sem jeito, abraço o meu pai. E, no momento, me senti mais tranquilo.
— Vai ficar tudo bem, filho.
— Eu espero, pai.
   Ele me conforta com palavras carinhosas. E assim fizemos as pazes, no meio da dor e da angustia. Mamãe e minha irmã nos abraça também, completando o abraço coletivo. Num fio de momento, senti-me melhor ao redor da minha família. Mas ainda havia o sequestro de Anna, que me despertava a cada segundo.
— Estaremos com você todos os dias, sempre que precisar — garante minha irmã, pegando minha mão.
— Obrigado, Alison.
— E conte com a gente — completa mamãe.
— Sempre, filho — diz meu pai.
   Olhando para todos, quase chorei. Pensei que estaria sozinho nessa, que minha família não ligaria para isso, mas, pelo visto, me enganei. Não estou sozinho.

O preço da infidelidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora