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08:21

Se eu pudesse retroceder o que fiz, estaríamos salvos e nada disso estaria acontecendo. É como um vulcão, entra em erupção e depois explode. É assim que tudo aconteceu com nós dois.
Não era para ser assim. Não era.
Eu não escolhi isso. Ele apenas veio trazer a felicidade, o amor... Ele estava , não você, então, não me culpe por ter encontrado a felicidade nos braços de outro homem.

Está tudo escuro, não enxergo nada. É uma escuridão profundo. Um abismo. Meu rosto esquenta à medida que voo sobre estrelas que resplandecem ao meu redor.
Não sei onde estou. É tudo escuro. Não sei nem como estou voando e porquê.
Ai, meu Deus...
O que está acontecendo? Cadê a minha casa? A cidade? Thomaz? Karrigh? A universidade?
Eu preciso voltar para a minha vida. Onde estou indo? Por que estou indo mais à fundo?

Anna, você vai se
queimar no fogo
do inferno!
Você vai morrer!
Vai morrer!
Vai morrer!
Vai morrer!
Vai morrer!
Vai morrer!
Não brinque comigo, garota!

08:38 AM

- Não! - grito, ao me levantar da cama.
Estou suada, muito suada. O lençol da cama encharcado e meu corpo grudento. Onde estou? Ai, meu Deus, estou viva, era só um pesadelo ruim. O que dizia aquela cena?
Me sento no colchão para melhor me acalmar, encosto a cabeça na cabeceira da cama e solto o ar dos pulmões.
- Era só um sonho, Anna - pego o meu celular em cima do criado-mudo.
Ao discar o número de Thomaz, recebo uma chamada de Karrigh. Sou obrigada a atender. Esfrego o rosto antes.
- Oi, Karrigh, bom dia.
- Oi, meu amor. Tudo bem por aí?
Sua voz está pacífica como um pano de linho fino. Desde quando ele fala assim comigo?
- Tudo, obrigada.
- Como foi sua noite?
- É... esquisita. Tive um pesadelo.
- Ah, é? Me conta.
- Não sei explicar, deixa pra lá.
- Pode falar, se você quiser.
- Não precisa.
- Anna, meu bem, quero que me conte tudo daqui para a frente. Não esconda nada de mim. Você pode desabafar comigo - diz ele docemente.
Sua voz é tão bonita por telefone... Nem parece o bruto e grosseiro que conheço.
- Eu estou ótima, Karrigh, não se preocupe, é sério.
- Ok, mas se precisar falar comigo me chame.
- Combinado. Quando você volta?
- Amanhã, na parte da noite. Vou direto para a casa, me espere.
- Te esperar? Para quê?
- Comprei um presente para você.
- Ah, Karrigh, eu não quero presentes. Não precisa.
Ah, meu Deus!
- Anna, você é a minha esposa, esqueceu? Quero te tratar bem. O presente é lindo, você vai gostar.
- Tá.
Ouço uma voz masculina, de repente, vindo do outro lado da linha.
- Tenho que ir, amor. Estão me chamando, mais tarde te ligo, está bem?
- Está bem.
Desligo o celular primeiro, em seguida ligo o abajur. Quase morro de susto quando vejo Thomaz sentado na poltrona do quarto, olhando-me sereno e impassível. Ele está... Como vou dizer?... Muito estranho, parece que acabou de comer um limão.
- Thomaz.
Ele continua me olhando, impassível, com os braços na cadeira, o tornozelo no joelho e compostura reta.
- Era ele?
Thomaz está com a voz grossa e séria. Quando confirmo, ele volta a atenção para um anel de prata no dedo.
- O que ele queria?
- É... avisar que está vindo amanhã, à noite, e que comprou um presente pra mim.
Por que ele está tão estranho? É como se algo o tivesse mudado.
- O que foi?
Thomaz não responde.
- Presente? Hum. E você vai aceitar esse maldito presente?
Franzo as sobrancelhas.
- Karrigh é o meu marido, eu não posso contê-lo.
- Mas pode recusar.
- O que está acontecendo com você?
Ele se levanta da poltrona e anda em minha direção. Reparo sua postura, sua expressão, a mandíbula, que está totalmente trincada, a roupa (ele não foi trabalhar), usa apenas uma calça jeans e uma camisa preta. Só isso. Está descalço também.
- Estou cansado desse seu maridinho e de tudo que ele diz no seu ouvido.
A voz dele é mais grossa do que eu pensei. Não acredito que Thomaz está zangado.
- Por que está zangado?
- Sente aí. - Ele não responde minha pergunta. Eu o obedeço depressa demais. Thomaz toma o espaço da cama.
- O que ele queria a essa hora da manhã?
- Saber se estou bem.
- Anna, seja franca comigo. Você ainda gosta do seu marido?
Observo o rosto de Thomaz, incrédula.
- É claro que não! Thomaz, você duvida de mim?
Ele suspira bem mal-humorado e encara o chão.
- Ah, Anna, é difícil para mim ter que lidar com os meus sentimentos. Às vezes acho que vou explodir e contar tudo sobre nós dois para esse babaca do seu marido.
- Nem pense nisso, Thomaz. Já imaginou se ele souber? Ele é capaz de me matar.
- Mas não parece que ele é capaz disso. Viu o jeito que esse cretino estava falando com você? E você, Anna, praticamente acreditou.
- Não! - aproximo-me dele no colchão, depois me sento em seu colo, colocando as pernas uma de cada lado em sua cintura.
Thomaz me observa sem se mexer e muito menos sem falar nada. O rosto dele está repleto de medo, tristeza. Beijo sua boca, agarrando ele de uma vez só, enrolando minha língua em cada movimento da dele só para deixá-lo distraído.
- Thomaz, faz amor comigo.
- Não, Anna, não - sussurra ele com os lábios encostados nos meus. Os olhos fechados, apenas respirando o ar que eu respiro.
- Esqueça o Karrigh. Ele não é palho para você.
- Como não é? Ele tem você por inteira. Dorme e acorda com você ao lado dele. Você, Anna, é uma jóia rara. Será que ainda não entendeu? Não entendeu, Anna? - ele pega meu rosto com as duas mãos e me obriga a olhar em seus olhos.
A tristeza bate em meu peito, e percebo que não é só eu quem estou assim.
- Meu amor...
- O quê? - digo, surpresa.
- Eu disse amor.
- Por quê?
- Porque eu te amo, Anna. Eu te amo. Me desculpe... Não consegui evitar.
Meu rosto cora, meu coração acelera, minha boca fica seca. Algo dentro de mim me queima no mesmo instante em que pronúncio suas frases novamente. As lágrimas ameaçam a sair. Antes de eu contê-las, elas saem, pingando na roupa de Thomaz. Nem olho para ele, apenas fico de olhos fechados, sentindo a carícia dos seus dedos gélidos na minha nuca.
O que eu fiz?
- Me ama?
- Sim, amo.
- Me ama... Thomaz...
Devagar, olho para ele, chorando.
- Não chore, Anna. A última coisa que quero é que você chore.
Toco a base do maxilar dele e o beijo com reverência, sem pressa, e digo em seus lábios:
- Eu também. Também te amo, Thomaz. Mas eu tenho medo...
- Shhh... Eu estou aqui. Lembra que eu disse que ia te proteger, Anna?
- Lembro. Thomaz, eu tenho pesadelos horríveis comigo mesma. São coisas que presumo que irá acontecer.
- Não, Anna. Olhe para mim.
Obedeço.
- Nunca pense nisso. Eu estou aqui. Tem um segurança meu aqui, morando ao lado da sua casa e mais dois na casa da minha tia. É só gritar que eles vêm, e logo vou ser avisado, ok?
Como ele pode ser tão cuidadoso assim comigo?
- Obrigada. Você é tão bom comigo - contemplo seu rosto, maravilhada.
- Obrigado você por existir. Minha Anna.
- Sua Anna. Só sua.
Sorrio.
Ele me gira na cama, me deixando deita no colchão e volta a me beijar, com tanto cuidado que nem se atreve a jogar o peso dele em mim.
- Hoje eu acordei tão para baixo, não fui trabalhar, então vim te ver porque sabia que você ia me tirar um sorriso.
À medida que sussurra em meu ouvido, sinto seu perfume doce me embriagar.
- Então... - beijo o queixo dele - quando pensar em mim, me estenda suas mãos, que eu vou te levar para um outro lugar, onde eu e você estaremos juntos.
Ele sorri com doçura. Seu sorriso é de dar inveja.
- Por que tudo é tão lindo quando estou com você?
Sorrio de novo.
- Porque a gente combina.
- Pena que eu não posso desfazer o que eu falei agora a pouco. Me desculpe, meu bem. Sinto ciúmes quando se trata de você.
- Os dias vão se acertar. Torço para que um dia você possa me ter. Eu também odeio brigar com você, Thomaz. Agora chega de falar...
- É.

O preço da infidelidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora