Anna Florentiny

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   Ele para na minha frente, perto o suficiente do meu rosto. Me olha por um instante e diz:
— Por que me traiu? Isso não combinava com você, Anna.
   Constrangida, tento fugir do seu olhar, mas não consigo, pois está perto demais. Com a voz baixa, respondo:
— Eu apenas queria um homem que me respeitasse, que me desse carinho e amor, ficasse mais tempo comigo do que na rua. Só queria um marido...
   Decepcionado e triste, ele emenda:
— Dedicado e que não batesse em você.
   O que está acontecendo com esse cara?
Eu sei — e massageia os meus cabelos, cravando a mão na base da minha nuca e a cabeça.
   De repente, sinto um arrepeio, que não queria sentir, percorrer o meu corpo inteiro, aquela energia estranha pulsando em meu cérebro junto com a vontade de fazer sexo.
   Não se engane, Anna.
   Karrigh põe a mão esquerda em meu pescoço e desce lentamente pelos meus seios, apertando-os no caminho, enquanto me encara cheio de desejo e vontade de me beijar.
— Não — digo, gemendo, enquanto ele vem com sua boca na minha. Viro o rosto, derramando lágrimas.
   Não acredito que estou em dúvidas. Não acredito que estou me prestando a isso, a esse homem. Um canalha, um assassino, um policial corrupto e ainda por cima é meu marido.
— Me aceite de novo, Anna — sussurra, chupando meu pescoço, fazendo-me revirar os olhos.
— Como? Como aceitar um homem que deixou de tratar bem sua esposa? Que bate nela? Que não a ama?
— Eu te amo sim, meu amor.
— Mentira — afasto-o. Ele me olha.
— Se me amasse não estava fazendo isso.
— Era o único jeito de tirar você daquele cara.
— O nome dele é Thomaz Beckham.
— Tanto faz. Ele não vale nada. É apenas um comedor de mulheres casadas. Ele roubou você de mim. Entrou na minha casa sem ser chamado, se meteu na minha vida.
   Agora ele fala com um pouco mais de raiva.
— E o que você fez, Anna?
   Se aproxima, até não sobrar mais lugar para fugir.
— O que você fez? — altera a voz. — Se deitou com ele na cama em que você e eu dormiamos juntos. Foi para vários motéis com ele. Fez coisas que uma mulher casada não deveria fazer.
— Quem é você para me...
— Cale a boca! — grita. — Eu tenho nojo do que você fez.
   Karrigh respira, depois ri, me encarando. Sem entender nada, permaneço no meu lugar.
— Cristã? Eu sou cristã, Karrigh. Não posso fazer isso, não posso fazer aquilo — ele emita meu modo de falar, parecendo mais um gay com as mãos levantadas e a voz fina. — Ah, mulher! Cristã? Pelo amor de Deus, Anna! Foi por isso que a sua mãe lhe deu esse nome, Anna? Rá, rá, rá... A Anna da Bíblia não teve amante, diz a história que ela queria apenas um filho, não?
   O que é isso?
— Pare já com isso, Karrigh! Não brinque!
— Não é brincadeira. A verdade é a verdade, dona Anna. Não quer ouvi-la? Tudo bem, eu paro. Vem cá, vem. Olha aqui, olha bem pra mim — ele pega meu rosto com as duas mãos, obrigando-me a olhá-lo. — Ainda vai persistir em ter uma vida com seu amante?
   Não respondo, fico confusa, os olhos se mexendo para todos os lados, menos para o homem frustrado, sem camisa e com o rosto vermelho à minha frente, pedindo, implorando em silêncio para que um não saia da minha boca.
— Por favor... O seu silêncio... o seu silêncio me dá vontade de socar tudo ao meu redor. Fale, fale, por favor — diz, rosnando.
— E se eu disser que sim?
   Karrigh suspira com pesar, em seguida, passa a costa da mão na minha bochecha, acariciando lentamente, olhando cada traço da minha faceta.
— Diga.
— É isso que eu quero.
— Eu sinto muito. Você escolheu.
   Como assim?
As escolhas têm suas consequências, Anna.
   Ele continua me olhando, como se nunca havia me visto antes.
— Karrigh.
   Ele pega minha mão já se dirigindo para a porta comigo.
— Não fale o meu nome. Chega. Não fale nada até chegarmos no nosso destino.
   Franzo o cenho sem entender a reação dele. Ele está esquisito demais, tranquilo, decepcionado, enervado. Sinto porque estamos de mãos dadas, indo para não-sei-aonde.

O preço da infidelidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora