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11:00 AM

Chegarei um pouco tarde em casa, marquei um encontro com a minha mãe no restaurante do centro, para conversarmos sobre tudo. Ela me atendeu mais cedo e disse que logo estará aqui, mas pelo visto, eu cheguei atrasada mais uma vez e ela ganhou a partida.
- Mamãe - abraço-a tão demorado que acabo fazendo-a rir.
- Filha, você está forte. Que bom que se alimentou bem de manhã.
- Engano seu, mal tomei café da manhã hoje - solto ela e nos sentamos na cadeira.
- E por quê?
- Saí cedo demais, então não tive tempo.
- Ah.
Um garçom de meia-idade deposita sobre a mesa uma comida que, para mim, é estranha. São muitos legumes ao redor de um peito de frango, arroz do lado, ervilha e um pouco de salada. Minha mãe sorri ao ver o meu espanto.
- Sei que você gosta dessas comidas.
Sorrio também. É, eu gosto.
- A senhora ainda lembra.
- Eu nunca vou esquecer, meu amor.
- Que bom, mãe. Como está o Mack?
Minha mãe dá de ombros e diz, tranquilamente:
- Está bem, inclusive, ele perguntou de você hoje, também.
- Mande um abraço para ele, por favor.
- Mando sim.
Ao iniciarmos a comida, eu me antecipo:
- Mamãe, te chamei aqui porque quero contar tudo o que Karrigh me fez.
Ela para de se mexer na cadeira e me dá a atenção, um pouco intrigada.
- Como assim, contar tudo? O que ele andou fazendo com você, filha?
O tom de sua voz agora é grave.
- Muita coisa.
Para observar melhor a minha face, ela retira o pequeno vaso de flor, do centro da mesa, para o lado. Fico sem jeito com isso.
- Peço-lhe compreensão. Eu suportei tudo por você e pelo Mackenzie.
- Suportou o quê? Fale logo, Anna.
Suspiro.
- A senhora nunca soube da verdade. Além de Karrigh e eu vivermos em brigas, ele me batia, me torturava e abusava de mim.
Ela fica sem ação, não fala nada, apenas respira, incrédula com a revelação. Nos entreolhamos longamente, como se nossos olhos fossem uma estrada sem término. Com certeza é pena de mim, ou ódio do meu ex-marido. Mamãe vira o rosto e encara o chão, depois me olha de novo como se eu fosse uma coisinha frágil.
- Filha...
De repente, ela toma a cadeira ao meu lado e me abraça com tanta ternura e cautela que mal consigo conter às minhas lágrimas impertinentes.
- Ah, filha! - lamenta, chorando comigo. - E todo esse tempo você me dizendo que era apenas brigas como qualquer outro casal. Tudo pela minha proteção. Ah, meu amor! Me desculpe por estar ocupada demais a ponto de não procurar por você e perguntar se estava bem.
- Mamãe - abraço ela. Choramos em silêncio, compartilhando as mesmas dores.
- Por que não percebi antes? - ela acarecia meus cabelos.
- Porque fiz de tudo para a senhora não saber. Ele dizia que mataria a senhora se eu o denunciasse para a corporação da polícia.
- Meu Deus do Céu, Anna! Que tipo de marido faz isso? Viu, filha? - ela pega o meu rosto com ambas as mãos e me encara, chorando. - Viu como eu tinha razão? Lembra do que eu disse antes de você se casar?
Chorando também, fecho os olhos e relembro a época em que eu mal havia completado meus 18 anos e estava louca para me casar.

- Anna Florentiny, casa comigo? - dizia Karrigh, ajoelhado no meio do salão da festa de aniversário da minha tia, irmã do meu falecido pai.
Cerca de duzentas pessoas estavam ao redor de nós, gritando para eu aceitar.
Eu chorava de emoção, pois, naquela época, ele estava trabalhando, cumprindo uma ocorrência perto do local da festa e não tinha tempo para marcar presença no aniversário.
Vendo Karrigh daquele jeito, tão lindo fardado, sensual, leve, transparecendo à minha mais pura segurança, me fez pensar em muitas coisas.
Mas foi aquele brilho no olhar, aquele sorriso de canto de boca, aquele cavalheirismo, aquela adrenalina de paixão me dominar, para eu aceitar.
- Sim.
Ele colocou a aliança em meu dedo depois da resposta. Em seguida, pegou-me nos braços e rodopiou, gritando:
- Eu te amo.
Os aplausos das pessoas me faziam pular de alegria. Mas, mais tarde, em meu quarto...
- Casar?! Filha, o que você tem? Sabe que não confio naquele policial.
Mamãe estava sentada na minha cama.
- Por que não confia nele?
- Ah, Anna, esse cara é estranho, autoritário, arrogante. É... Meu Deus, eu não sei explicar.
- Porque não tem o que explicar. - Eu dava mais atenção a aliança que havia ganhado do que a minha mãe.
- Não se case tão cedo, minha filha. Você fez 18 anos agora. curtir a vida, sair, conhecer pessoas legais...
Com os pés pro alto da parede, observando a aliança, pedia para ela parar com a conversa.
- Eu estou noiva. Vou me casar. Não está feliz? - olhava para mamãe, que fazia cara feia.
- É isso que você quer, Anna? Pense bem. Sua vida é ótima morando aqui em casa e você não tem com o que se preocupar.
- É isso que eu quero.
Me jogo na cama de novo e escancaro os braços no colchão.
- Eu amo aquele policial! - grito. - Ele é gostoso demais. E é todinho meu.
- Anna!
Fechei os olhos e mamãe saiu do quarto sem pestanejar, dizendo:
- Credo.
- Eu também te amo, mãe.

O preço da infidelidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora