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A presença de Karrigh faz com que os dedos de Thomaz tomem outro rumo; ele tira e coloca quatro vezes, fazendo-me gemer como uma mulher que está sendo ameaçada e estuprada ao mesmo tempo.
Estou suando como quem acabou de realizar uma corrida de dois quilômetros. Os movimentos circulares de seus dedos quase me levaram ao êxtase.
- Pegou muito bandido essa semana, Sr. Phillips? - pergunta Thomaz tranquilamente à Karrigh.
Que amante mais ousado!
- Matei também - retruca.
- Sério?
Thomaz finge estar incrédulo. Seus dedos vão mais fundo, mais um pouco, até... Droga! No último sinal ele tirou. Eu estava chegando lá.
- Ele queria atirar em mim. Era um bandido vagabundo.
Isso não significa que você deve tirar a vida dele. Que coisa horrível, eu tenho um marido assassino. Se todos os policiais pensassem igual à Karrigh, o mundo estaria acabado. Existe outras formas de resolver os atritos.
Thomaz se endireita na cadeira, dando toda a sua atenção para o meu marido. Dou uma rápida olhada nele: o cotovelo direito pousado na braçadeira da cadeira, uma mão no queixo, analisando Karrigh, a outra na coxa e o corpo encostado na cadeira, confortavelmente.
Você transou com esse cara.
Traiu seu marido.
Ele também é perigoso para você.
Cuidado. Thomaz é muito rico.
Ele pode foder com a sua vida também.
Abra os olhos, garota.
Dois homens estão te comendo.
Respiro fundo. Tudo o que acabei de pensar é verdade. Os dois estão se saindo bem, eu é que estou sendo destruída.
- Estou a fim de comprar mais um carro - comenta Karrigh. - Sem o logotipo da polícia.
- Legal - Thomaz responde desgostoso.
- Que tipo de carro você gosta?
- Compro somente os que me agradam.
- Tem quantos?
- Uns trinta mais ou menos, mas a maioria empresto para funcionários que não têm como vir para o trabalho. Apenas cinco estão na garagem do meu apartamento, dois em Nova York e um em Portland, na casa do meu tio.
Meu queixo vai no chão. Puta que pariu, hein? Karrigh assobia, admirado, assim como eu. Thomaz tem quase 40 carros. Para que tudo isso?
Se liga, amor, Thomaz Beckham é bilionário. Ele pode, pode muito.
A riqueza dele chega a me dar medo. No que estou me metendo? E por que diabos ele me quer?
Bom, pelo menos ele faz uma boa coisa com os carros que não usa: empresta para funcionários que não têm condições de ir ao trabalho.
- Uau! Isso é bom demais. Que carro você usa no trabalho?
- Uma Land Rover.
- Esse carro é bom.
Fala sério. Os dois estão falando sobre carros normalmente. Me sinto indigesta vendo meu marido dialogar com o homem que fez amor comigo há dois dias. Eu me sinto uma vagabunda.
- E você? - pergunta Thomaz.
- Tenho um Jetta.
- Também é bom.
Uma música bonita e sensual rola no centro do salão do coquetel, pegando-nos de surpresa. Leio o nome da música no telão, que ilumina o palco que Marx irá dar uma palestra daqui a pouco, a música se chama I'm not the only one, de Sam Smith. O cara tem uma voz muito esfuziante.
- Dance comigo, meu amor? - diz Karrigh com um olhar ludibriante, a boca se alargando num sorriso safado, mas de esquentar a calcinha de qualquer uma.
Inspiro profundamente. Hesito antes de me levantar da cadeira.
- Você sabe que eu não sei dançar - reclamo em voz baixa.
Thomaz fica de butuca, observando cada palavra que sai da minha boca, analisando minha expressão e a do meu marido.
- Eu não vou deixar você cair, prometo. Vamos, Anna - insiste.
Eu me rendo, ou ele vai me dar uma bronca quando chegarmos em casa. Eu conheço esse olhar e não duvido nada. Ele está dizendo: "Se falar não, você sabe o que acontece".
Vou de encontro com ele depois que peço licença ao pessoal da mesa 2, inclusive Thomaz, que deixa duas expressão em sua cara: impotência e ciúme. Me encara sério, com as mandíbulas trincadas e os lábios firmes numa linha rígida. Ele está com ciúmes e raiva. Nunca o vi assim, é a primeira vez. Merda.
A vontade que eu tenho é de sair correndo por esse salão para sumir e me livrar desse impasse, que está me dando nos nervos. Isso não está me fazendo bem. Ver dois homens me disputando.
Karrigh segura minha cintura e eu entrelaço meus braços em sua nuca. Nos mexemos ao som de Sam Smith.
- Ah, Anna - Karrigh sussurra em meu ouvido, enquanto suas mãos vagam por minhas costas e vai descendo na cintura - eu adoraria te dar uma surra e depois transar com você.
Reviro os olhos em seu pescoço. Ainda bem que não está me vendo.
- Isso não me impressiona. Sei que você é um covarde.
Ele ri, fazendo nossos corpos se colidirem.
- Você não entendeu, meu bem.
- Ah, não?
- Não. Eu quis dizer uma surra de prazer, intensa, que irá te fazer bem antes do sexo.
- Eu não estou a fim de ir para a cama com você.
- Ah, mas você vai, sim. Hoje vai - ele aperta meu corpo, fazendo-me soltar um suspiro.
- Karrigh, pelo amor de Deus.
- Pelo amor de Deus digo eu, Anna. Escute aqui, eu nunca vou aceitar as suas desculpas. Isso é puro cinismo. Quando quero a porra do sexo, não é você quem vai me impedir.
- Eu não mereço essa vida - rezingo em voz baixo, para que ele não me escute.
- Eu ouvi.
Estou torcendo para que essa música acabe logo. Quero voltar a me sentar. Aqui tem muita gente, umas esbarram em mim, outras me esmagam. Odeio esse tumulto.
Vagueio com os olhos pelo salão e dou de cara com os de Thomaz. Engulo minha saliva asperamente. O jeito como Thomaz olha faz qualquer um pensar que ele é um assassino que quer dar o bote a qualquer momento.
Ai, meu Deus. Será que aquele homem carinhoso e educado desapareceu? Não quero que ele mude, traga-o de volta. Não gosto desse Thomaz zangado, impassível, sombrio e arrogante. Ele está tão... Como posso dizer? Estranho. Isso me dá medo.
- Anna, Anna - Karrigh inspira o cheiro do meu pescoço.
Se ele está achando que vai me causar algum efeito, se enganou feio.
- Eu te amo - diz ele.
- Seria melhor se você dissesse a verdade.
- O que eu disse é verdade. E você, me ama?
Quase rio da cara dele. Realmente, a mulher que ama o marido que a espanca quase todos os dias, me desculpe, mas é uma trouxa total. Como vou amar Karrigh, se ele me maltrata? Acho que nunca o amei, estava apenas cega de paixão quando me casei.
- Sinceramente? Não.
Ele pigarreia e se afasta para me olhar, ainda dançado a música de Sam Smith.
- Por que não?
Agora a voz dele é grossa e grave. Karrigh está sério.
- Você sabe a resposta. Só estou com você porque não quero ver minha mãe morta. Estou disposta a tudo, menos perder mais uma pessoa que amo neste mundo - digo, olhando bem no fundo dos olhos dele.
- Você tem outro homem?
Tenho. E a culpa é sua.
- Se tiver, eu investigo Seattle inteiro e mato ele.
Ah, meu Deus. Meu coro cabeludo formiga.
- Eu não tenho.
- Pois parece, desde ontem você está esquisita comigo.
- Só por isso você pensa assim?
- Anna, se eu souber de qualquer vacilo, você vai pagar caro - ameaça, com um tom irônico na voz, mas o rosto sério.
- É por isso que não te amo. Você é mau, grosseiro, gosta de ver as pessoas sofrerem.
- Eu vou te mostrar meu lado grosseiro - ameaça novamente.
- Nem precisa me mostrar, eu já sei.
- Não sabe, não. Nem tem ideia do que eu faço fora de casa.
Agora ele está impassível, como uma pedra sem se mexer. Eu me desvencilho de Karrigh, mas sinto a força de suas mãos em minha cintura. Ele me segura firme, tirando todo o meu fôlego.
- Não adianta fugir, Anna.
- Até quando você vai ser assim? Um dia a casa cairá para você, Karrigh.
- Estou morrendo de medo.
- Me solte - aviso, rosnando entre os dentes. Ele dá risadas. - Eu sinto pena de você.
- Mande a sua peninha para o quinto dos infernos, eu não preciso dela. E fica parada aí - ele me aperta mais ainda, imobilizando-me de uma forma experiente.
Claro, ele é policial e sabe bem dessas coisas.
- Me solte - brando em voz baixa.
- Pare com isso, ou eu te arrasto para um canto e te dou umas palmadas, Anna.
Eu desisto devido ao cansaço. Não vai adiantar me entrebater contra esse touro em forma de homem. Karrigh tem uma força inacreditável. Isso que casar com um policial. Meu marido é esperto a cada movimento abrupto.
- Ah, assim que eu gosto. De mulher obediente.
- Idiota. Você não sabe o quanto te odeio - encaro ele com frieza.
- É? Amor, eu já lhe disse que sua boca fica sexy quando fala palavrões? Não? - Karrigh passa o dedo indicador em torno da linha do meu lábio. - Sua boca me deixa cheio de tesão. Ah, Anna, estou louco para sair daqui e me enfiar em você.
- Pare, por favor. Eu preciso ir ao banheiro.
Que raiva! Ele não me solta.
- Depois, me dá um beijo, agora.
Ele empurra minha cabeça para a frente, e sou obrigada a beijá-lo. Karrigh é tão forte que nem consigo me mexer em seus braços. Ele me beija com voracidade, um beijo agressivo, de cortar o lábio. Karrigh me aperta; me aperta forte demais, tirando todo o meu ar.

O preço da infidelidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora