Thomaz Beckham

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02 de março de 2014.
Seattle (EUA).

   O tempo amanheceu nublado em Seattle, o clima está meio frio. É como se algo ruim fosse acontecer a qualquer momento. Quando meus pensamentos ficam sombrios, temo isso a toda hora. Jogo a cabeça para trás e suspiro, depois viro-me para chegar as novidades no computador.

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PEDIDO DE EMPREGO

Seattle, 01 de março de 2014

Caixa Postal 657
Seattle, EUA

Prezado Senhor,

Através do anúncio publicado no jornal Seattle Dean, de ontem, tomei conhecimento de que V.Sª procura-se uma Secretária Executiva para preencher a vaga existente na área de atendimento aos clientes da Diligent Beckham.

Anexo para tanto cópia de meu “curriculum vitae”, em que V.Sª poderá verificar que minha experiência profissional nesta área supera os dez anos requeridos por sua empresa.

Sou taquigráfa e falo fluentemente quatro idiomas: o inglês, o francês, o italiano e o português.

Aguardando contato para uma entrevista pessoal, firmo-me,

Atenciosamente,

Bethânia Lins
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   Vou pensar no caso dessa moça. Parece que ela é boa no que faz e, além do mais, estou à procura de uma nova substituta para Bia. Ela precisa de férias. Sou surpreendido com a presença de Anna no escritório, e ela está tão linda que eu paro de mexer no computador para admirá-la. Anna parece triste e cansada. Usa uma roupa que cobre quase todo o seu corpo, porém a deixa bonita. Anna é uma mulher extraordinariamente sexy, aposto que ela não sabe disso, pois se esconde muito em pedaços de pano, e é tão fascinante esse seu jeito. Levanto-me para cumprimentá-la.
— Srta. Florentiny, tão cedo aqui.
   Ela me olha rapidamente, pisca algumas vezes e encara o chão. O que há? Franzo as sobrancelhas.
— Bom dia, Thomaz.
   Thomaz? Ela me chamou pelo nome? É a primeira vez que ouço meu nome em sua linda boca. E fico irritado por ela não olhar em meus olhos.
— Anna? — aproximo-me dela.
   Noto que seus cabelos estão cobrindo quase toda a linha de seu rosto, mal dá para observar suas bochechas, seus lábios e sua testa. Ela continua de cabeça baixa, sem me olhar.
— Conversamos depois, Sr. Beckham — ela tenta fugir, mas seguro seu cotovelo com delicadeza, fazendo-a retroceder.
— Espere um pouco.
   Droga! Ela não me olha. Pego seu queixo com o dedo indicador e faço ela me encarar, vou afastando os cabelos que lhe cobria quase o rosto inteiro. Meu sangue ferve, à medida que vejo marcas de mão em sua bochecha, em seu pescoço e desconfio de que em seu braço também possa ter vários.
   Não posso acreditar que aquele imbecil bateu nela. Faça alguma coisa, Thomaz.
   Anna morde o lábio, agonizando o choro, os olhos vermelhos não escondem o sofrimento que ela passou. A vontade que eu tenho agora é de socar o marido dela até ter certeza de que ele morreu. Esse filho da mãe...
— Me desculpe — ela deixa uma lágrima cair de seu olho esquerdo. Isso me dói.
— Ah, Anna. O que ele fez? — Eu tenho certeza que foi ele.
— Eu não queria vir trabalhar assim, mas seria abuso da minha parte faltar no segundo dia de trabalho — murmura ela.
   Meus olhos também percorrem seu lábio inferior, pairando bem num cortado. Mas que porra de marido esse filho da puta é? Que ódio! Sinto nojo quando observo a obra que ele fez no rosto da mulher. Afasto mais ainda os cabelos de Anna, a fim de encontrar mais estragos.
— Meu Deus — deixo escapar a incredulidade na voz quando passo a mão nos hematomas. Como eu queria apagar todas essas marcas...
Anna, você não pode trabalhar assim.
— Eu sei, mas eu vim porque o senhor...
   Pego-a de surpresa num abraço reconfortante. Sinto como se meu corpo fosse derreter em seus braços. É a primeira vez que a abraço. Anna é tão magra, tão frágil, pequena e iludida pelo canalha do marido. Como pode um homem fazer isso?
— Anna, precisamos ter uma conversa séria. Tem que ser hoje.
— Mas...
   Solta-a e pendo minhas mãos em seu ombro, olhando-a seriamente.
— Você precisa denunciar esse cara.
— Não!
— Anna, vamos discutir isso em outro lugar, por favor?
   Ela assenti com a cabeça.
— Espere só um pouco.
   Vou até a mesa e pego meu celular, as chaves do carro e a carteira. Anna observa meus movimentos.
— Vamos — digo, conduzindo-a para fora da sala.
   Na entrada do prédio da empresa, esbarro com Bia, ela olha de mim para a Anna meio sisuda. Não é o que você está pensando, sua tonta varrida.
— Bia, vou ficar ausente por hoje, cancele as reuniões e atenda uma senhora que diz ser eficaz para ficar em seu lugar.
   Bia arregala os olhos e sorri.
— Ah, Sr. Beckham, fico lhe devendo essa. Muito obrigada, me poupou de sair procurarando uma recepcionista.
— De nada.
— Pode deixar que eu resolvo as coisas por aqui, senhor.
— Obrigado, até mais, Bia.
   Anna e eu pegamos o elevador para descer, meus funcionários não tiram os olhos de nós dois quando a porta do elevador se fecha.

O preço da infidelidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora