Karrigh Phillips

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   Depois que a amarro na cadeira de madeira, ela começa a me questionar, mas não respondo nenhuma de suas perguntas. Eu apenas tomo outra cadeira, no centro do galpão e olho para a princesinha assustada, sem entender o que está acontecendo.
— Me tire daqui, por favor.
   Fecho os olhos e abro novamente, com o peito apertado de dor.
— Dei mais uma chance ao amor e realmente encontrei a mulher certa. Agradeço ao seu pai por ter feito você. É uma jóia rara, que não posso deixar outra pessoa tomar posse. É minha e sempre vai ser, mesmo não estando mais aqui.
— O quê?
   Ela desanda a chorar, desesperada, entrebatendo-se na cadeira.
— O que você quer dizer com isso?
— Teve uma vez que me enganei com uma mulher, bem mais velha que você. Ela jurou amor, prometeu tudo para mim, ao invés disso, me traiu. Traiu... Você fez o mesmo, Anna. Mas nunca foi igual a ela. Você foi uma esposa perfeita, sempre disposta quando eu queria. Foi tudo que eu quis. Acha mesmo que abrirei mão de você? Deixarei você para outro homem ser feliz? Nunca. Meu nome é Karrigh Phillips e tudo que eu falo, eu cumpro. Não sou homem de meias palavras. Jurei vingança, Anna, e vou cumprir.
— Não, por favor, não!
— Pare de gritar — ponho a mão na testa, sentindo dor por conta da voz fina dela. — Está me dando dor de cabeça. Cansei de dizer a você que aqui não tem vizinhança, ninguém vai te ouvir.
— Karrigh...
— Karrigh, Karrigh, Karrigh... Ah!
   Paro de falar por alguns minutos só para ter um momento com meu inconsciente. Penso em tudo e em nada, repenso novamente e penso. Olho para Anna, ela também. Ambos pensativos.
   Levanto o dedo indicador e digo:
— Você me obrigou a fazer isso.
   Em seguida, saco o celular do bolso.
— Vou ligar para Elizabeth, sua mãe. Darei três minutos para se despedir dela e do seu padrasto.
— O quê? Como? Me despedir?
   Ela se desespera ainda mais.
   Me aproximo da cadeira de Anna, ajoelho diante de seus pés e posiciono o celular entre nós dois, no viva-voz.
— Mãe — Anna chora, chamando a mãe em voz alta.
— Filha? Onde você está? Ai, meu Deus.
— Fui sequestrada, mãe. Estou numa fazenda, mas não sei a localização. Me ajude, mãe, vou morrer.
   Agora as duas choram, desesperadas.
— Filha...
— Mãe... Mamãe... Me perdoe por não ter ouvido os seus conselhos. Se tivesse ouvido, não casaria com esse monstro diante de mim.
   Ela me olha duramente, cuspindo as palavras com ódio. Apenas observo-a.
— Chame o Mackenzie, dona Elizabeth? — pergunto.
— Ele não está. Karrigh, solte minha filha, pelo amor de Deus. Eu faço o que você quiser, mas não a machuque.
— Tarde demais, dona Elizabeth. Não ensinou à sua filha qual é a posição de uma mulher casada? Sinto muito.
— Não! Por Deus, não! — implora, chorando alto.
— Se despeça de sua filha, Elizabeth. Ande logo, minha paciência está se esgotando.
— Anna! Anna! Diga onde está?!
— Não sei, mãe — chora.
— Como? Como, meu Deus? Karrigh, por favor, Karrigh. Não faça isso! Você quer dinheiro? Se for isso, eu dou a quantia que você quiser.
   Dou a minha mais pura e singela risada malvada.
— Escute aqui, sogrinha. Eu tenho muito dinheiro, tanto que mandaria a senhora para Marte. Não ouse a zombar de mim, ou eu mando te matar também.
   Ela chora.
— Por quê? Ela é a sua esposa! Não é você quem a ama? Por que fazer isso?
— Esse assunto é entre mim e ela.
— Karrigh...
— Se despeça — ordeno.
— Mãe, mamãe...
— Filha, já chamei a polícia.
— É tarde demais, mamãe.
— Não é.
   Tiro do bolso da calça uma seringa e um veneno fortíssimo, que a matará em poucos segundos.
   Anna arregala os olhos e grita, no mesmo instante, desligo o celular.
— Não! Não! Não!
   Aplico a seringa na bolsinha, furango o lacre. Deixo encher de líquido, em seguida...
— Não! Karrigh, eu volto pra você, mas me solte! — balança a cabeça.
— Eu não sou idiota, Anna.
— POR FAVOR! — grita desesperadamente, chorando.
   Posiciono o objeto nas mãos e direciono-o no braço direito de Anna. Ela grita mais uma vez, pede, implora, chora, balança o corpo e a cabeça.
   Aplico o veneno e espero uns cinco minutos até ela ter convulsões. Passado isso, ela diz, já sofrendo com o líquido no corpo:
— E... eu... acho... eu... acho... que...
   Misturei veneno de hemlock com roundup para obter morte rápida. Os dois produtos são altamente tóxicos.
   Abaixo a cabeça em suas coxas, fecho os olhos ali, beijo sua pele e espero enquanto a convulsão termina.
   As mãos delicadas vão perdendo as forças em cima do meu ombro. A vida dela vai se esvaindo em um minuto.
— Est... estou... grávi...
   Levanto o rosto rapidamente ao ouvir. Assustado, sacudo-a.
— O quê? Anna?
   Não! Isso não!
   Seu rosto vai ficando arroxeado e a boca escura. Tudo vai perdendo a cor aos poucos.
— Grávida?! Anna?!
   Agora é tarde... Está morta. Morta! Eu matei minha mulher! Matei!
— Não! Grávida, não! — grito com todas as forças que tenho. — Droga!
   Levanto-me do chão, desamarrando Anna, desesperado. Não vi a hora, nem quando pulei para o carro e o coloquei em movimento, indo novamente para Seattle.

O preço da infidelidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora