Anna Florentiny

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08:24 AM

   Acordo com uma forte dor de cabeça, o rosto inchado de tanto chorar e uma marca arroxeada no lábio inferior. De frente ao espelho, observo cada detalhe do meu semblante. Estou horrível, acabada, enervada, sem saída.
   Noto a roupa limpa em mim. É um pijama cor vinho, sensual demais, com um v enorme entre os seios e muito curto. Estou parecendo uma puta de cabaré.
— Que horror! — murmuro com repugnância.
   Se Karrigh acha que vai me conquistar tirando minha roupa em troca de um pijama elegante, pode ir tirando o cavalinho da chuva.
   Volto para o centro do quarto com raiva, rosnando igual a um cachorro. Tomo a borda da cama como assento.
   Observo tudo no quarto. É um ambiente rico, organizado e social demais, sem graça e sem cores, tudo preto e branco.
   Onde estou? Onde fica esta fazenda? Será que estou longe da cidade? Será que aqui será o meu fim?
   Meu Deus, me ajude, por favor. Eu preciso voltar.
   Suspiro. Suspiro. Suspiro. Suspiro.
   Levanto da cama, vou até a varanda, abro as portas do janelão e deparo com uma paisagem extremamente linda. Um jardim no alge da perfeição, cheirando a flores e frutos.
— Céus! — exclamo, atônita, com a mão na boca.
   É lindo! O solo coberto por gramas bem aparadas, árvores ao redor de uma pequena lagoa. A água escorrendo pelo chão, molhando os pés de rosas. Coqueiros grandes, pássaros voando em torno de um pé de amora...
   Por um momento idiota achei que estava num paraíso, mas logo caiu a ficha de que fui sequestrada pelo meu ex-marido.
   Parada na varanda, observando o jardim do último andar da casa, ouço o barulho da porta se abrindo devagar. Abruptamente, viro-me e vejo Karrigh todo vestido de preto com uma bandeja de café da manhã nas mãos.
   Não acredito! Reviro os olhos. Ele está tentando me conquistar! Você não vai ceder, Anna.
   Ele deposita a bandeja no criado-mudo e se aproxima de mim elegantemente arrumado e cheiroso.
  O mesmo perfume...
   Penso comigo. O perfume que um dia lhe dei de presente e que nunca usou.
— Bom dia, meu amor — ele tenta me beijar no rosto, mas retrocedo um passo. Karrigh percebe e, mesmo assim, põe a mão na minha nuca, me imobeliza e me lasca um beijo na boca. Foi tão rápido e tão forte que não consegui afastá-lo.
— De acordo com a papelada do nosso casamento, ainda somos marido e mulher — diz com a voz grossa, sério e bruto, olhando-me nos olhos.
   Não digo nada, apenas fico de cara amarrada, inibida. Afasto a mão dele do meu pescoço, mas, com impertinência, ele a mantém.
— De acordo com a sua ilusão, seu louco, psicopata.
— Olha essa boca, Anna. Tome cuidado com ela, muito cuidado — avisa, tocando meu lábio com o polegar direito.
— Me deixa.
   Ele me ignora e vai até o criado-mudo.
— Trouxe seu café da manhã, princesa.
   E volta os olhos em mim, examinando-me de cima abaixo, com malícia.
— Gostosa como sempre. Essas pernas, os seios, a boca... Ah, Anna! A quanto tempo estamos sem fazer amor?
   Se aproxima de novo.
   Meu coração dispara, o medo me atinge e a vontade de correr também.
— Você não vai querer fugir de mim, vai? — ele pega o meu braço direito.
— Por favor, eu faço o que você quiser, menos isso.
— Negativo. Você é minha mulher, querida. Acha que vou deixar tudo para o Thomaz? Se enganou. Vou querer fazer todas as coisas com você, inclusive, amor. Em qualquer lugar e a hora que eu quiser.
  Argh!
— Eu adoraria cuspir na sua cara.
— E eu adoraria ver você gozar de novo, gemer o meu nome, se contorcer debaixo de mim...
   A voz dele soa sedutoramente como um mantra em meu ouvido, melodiosa, grossa e perigosa. À medida que ele diz coisas indecentes, sinto seus lábios tocarem de levinho o lóbulo da minha orelha. Apenas abaixo a cabeça, mesmo com a dor que ele está causando em meu braço.
   Fecho os olhos bem forte e, intrépida, digo:
— Se algum dia você me forçar a transar de novo, eu pensarei no Thomaz. A cada metida, a cada gemido ou orgasmo, eu vou pensar nele.
   Não, Anna!
   Karrigh arregala os olhos, incrédulo. Suas órbitas quase saltam do lugar. Com raiva, ódio, as narinas totalmente abertas, o maxilar trincado e os dentes cerrados, ele levanta a mão rapidamente para me bater, porém, sou mais rápida:
— É assim que você quer me conquistar?! — grito na cara dele, com o queixo erguido.
   Ele para na hora, bufando como um touro. Seus olhos escurecem e, dessa vez, fico com medo dele. O que é isso? Ele é vampiro?
— Ninguém me conquista dessa maneira, Karrigh. Será possível que durante três anos de casados você ainda não percebeu? É por isso e por muitos motivos que deixei de gostar de você. Você não sabe lidar com mulher nenhuma.
   Isso foi o seu limite. Ele me pega pelos braços e me põe contra a parede, me imobiliza por detrás e puxa firme meus cabelos.
— Ai! — gemo.
   O peso e o membro dele me esmagam. Com a outra mão livre, ele segura meu quadril.
   Dor, medo e confusão se misturam na minha cabeça.
— Me solte!
— Eu vou te mostrar se não sei lidar mesmo com mulher, sua vadia. Esqueceu das indecências que você prestava a mim entre quatro paredes?
   Me calo, relembrando de tudo. Gostava de fazer sexo com ele, mas com um tempo isso foi esvaziando.
— Responda! Você dava tudo pra mim, em qualquer lugar. Não dizia não porque gostava, sua putinha. Transamos até dentro da viatura da polícia quando te levei para a faculdade, como sempre você aceitava. Agora, vem me dizer merda? Que eu não sei lidar com mulher nenhuma? Ah, Anna! Isso foi golpe baixo. Eu vou...
— Pare! — grito sentindo o coro capilar pinicar.
— Grite o quanto quiser — ele puxa mais, fazendo meu rosto empinar.
   Rapidamente sou pega pelos braços, jogada na cama como um objeto qualquer e despida. O pijama lindo e elegante foi rasgado brutalmente.
   Karrigh tira um laço vermelho da gaveta do criado-mudo, monta em cima de mim, pega meus pulsos e amarra na cabeceira da cama. Assim, fico totalmente imóvel e sem saída, com os seios à mostra, empinados. Tento socá-lo com os pés, mas ele me segura com uma força dos diabos.
— Oras, mulher! Fique queitinha.
   Thomaz, cadê você? Pelo amor de Deus, vem me ajudar!
Não quero que me toque! Não quero que me toque! Tire as mãos de mim, imbecil! — berro, chacualhando o corpo inteiro.
   Ele levanta uma mão e diz:
— Vou te encher de tapas senão ficar parada.
   Seus olhos escurecem de novo, encarando-me.
— Me solte, por favor. Por favor, Karrigh, por favor... — imploro choramingando.
   Ele passa ambas as mãos, lentamente, do dorso do meu rosto e vai descendo até os seios, parando ali, analisando cada um deles com um sorriso safado. Em seguida, mete a boca no lado direito, enchendo da minha carne em seus dentes.
— Ah! — rosno, contorcendo-me. Ele me chupa, me chupa e me chupa como se estivesse com sede de mim. Passa para o outro e continua a tortura.
— Gostosa...
   Meus pulsos doem à medida que tento soltá-los. Chorando baixinho, imploro mais uma vez quando sinto os lábios dele desserem para baixo, onde eu menos queria.
— Minha mulher — rosna como um cão, chegando no meu sexo. — Só minha.
   É o fim! Ele me segura pela cintura com aquelas mãos grandes e mete a boca e a língua dentro de mim, bem no fundo. Gemo, chorando e pedindo para ele parar. Fecho os olhos, penso em Thomaz. Só ele me dá o verdadeiro prazer na cama, o amor que sempre almejava.
   Desculpe-me, Thomaz...
   Desculpe-me...
   Não era para ser assim.
   Queria muito ter conhecido você ao invés desse monstro.
   
  

O preço da infidelidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora