4. Precisamos falar sobre tombos

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[Segunda à noite]

O jantar de Lily foi interrompido pelo som do celular apitando. Olhou de soslaio para sua mãe, que fingia não estar escutando, e nem prestando atenção ao fato de que Petúnia não largava do seu, que estava mal escondido em seu colo, por baixo da mesa. A regra do jantar era clara, nada de celulares, mas, como era o único tempo que tinham em família, Doralice parecia estar ignorando aquilo.

— E quando teremos um livro publicado por Lily Evans? — brincou o seu pai.

Carver Evans trabalhava em uma editora de livros. Passava bastante tempo em seu escritório aprovando manuscritos, cuidando pessoalmente da restauração de obras antigas, entrando em contato com grupos estrangeiros para negociar uma tradução oficial na Inglaterra, entre outras funções.

Lily o admirava e, por sempre gostar de escrever, sabia que o sonho de seu pai era ver um livro seu nas prateleiras, mas não conseguia manter os seus enredos por muito tempo.

Nas férias, passou grande parte de seu tempo na editora, junto com seu pai, ajudando-o a controlar os funcionários que cuidavam da revisão dos livros, design das capas e escritas nas orelhas dos livros. Ela mesma já tinha formatado uma sinopse, sob a supervisão de Andrômeda, a mãe de Tonks.

— Em breve — Lily respondeu, como sempre fazia, sorrindo timidamente.

— Não a pressione! — Doralice disse — Sabe como os autores passam por um processo criativo próprio.

— Autores de verdade têm prazos — a voz de Petúnia surgiu, quase que desatenta da conversa.

— Desligue esse celular! — a sua mãe parecia ter perdido a paciência.

Apesar de revirar os olhos, ela obedeceu, a outra mão logo subindo para cima da mesa, embora o aparelho continuasse entre as suas pernas. Lily lembrou-se da mensagem que enviou para a sua amiga, no outro dia, e precisou conter-se para não gargalhar, os lábios pressionados um contra o outro, enquanto ela disfarçava levando o copo d'água próximo de sua boca.

Petúnia tinha uma espécie de alarme para saber quando as pessoas estavam rindo dela, e não demorou a entrecerrar os olhos, desconfiada, procurando por alguma explicação.

— Tenho uma coisa para você — seu pai murmurou para ela, no momento em que Doralice e Petúnia foram levar os pratos para a cozinha.

Petúnia era mais chegada aos livros juvenis (geralmente, lidos pelo celular), e Carver não tinha muito contato com essa seção, então conseguia um livro mais clássico, e dava-o a Lily, quando a sua irmã mais nova não estava por perto.

Tirou um pequeno livro da maleta, a qual levava para o trabalho todos os dias, e entregou-a.

— O retrato de Dorian Gray! — Lily quase gritou, os olhos arregalados, e ele ergueu o dedo indicador à frente de sua boca.

Ela assentiu, sorrindo, antes de levantar-se e ir guardar o exemplar em seu quarto, como sempre combinavam fazer. Doralice encostou o quadril ao batente da porta, os braços cruzados e uma sobrancelha levantada.

— Eu estou vendo isso daí! — ela disse, casualmente.

Quando Petúnia apareceu, contudo, eles aparentaram tranquilidade.

Enquanto que Carver dava livros clássicos para Lily, Doralice sempre comprava os livros juvenis e revistas teen que Petúnia queria. O seu vício em revistas científicas era financiado somente pela sua mesada, enquanto que a irmã preferia gastar o dinheiro com outras coisas.

Voltou para a sala, já que tinha esquecido o seu celular em cima da mesa, e sua mãe poderia precisar dela.

— Pai! — Lily exclamou.

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