[Terça à noite]
Lily estava sentada nos degraus de entrada de Hogwarts. Algumas luzes ainda estavam acesas, sendo a única iluminação da fachada. Alguns alunos e professores da peça estavam fazendo ensaios extras e resolvendo o que estava pendente para a peça que se aproximava cada vez mais.
Mesmo com a pouca luz, conseguiu sentir uma sombra à sua frente e levantou o olhar, séria.
— Olá — disse.
A mulher sentou-se ao seu lado, também séria, parecendo estremecer somente pela visão do lado de fora de Hogwarts.
— Olá, Lily — respondeu Mary.
— Eu não esperava por sua mensagem — ela disse, sem conseguir olhá-la.
— Sim, eu posso imaginar.
Elas permaneceram em silêncio, observando a garagem quase vazia de Hogwarts. Lily pôde jurar que tinha escutado uma coruja piar de algum canto entre as árvores.
— Então voltou para a cidade? — tentou puxar assunto.
Mesmo vendo que ela não tinha cicatrizes ou feridas abertas, olhar para ela a fazia se lembrar exatamente daquela noite. Dos gritos, das risadas daqueles supremacistas e dos machucados, tanto internos quanto externos que ambas sofreram. Era uma realidade que não esperava encarar outra vez.
— É difícil seguir em frente — disse Mary — O meu psicólogo acha que voltar para cá e encarar de frente o lugar, as pessoas, que isso pode me ajudar.
— Entendo — Lily assentiu.
— Fiquei sabendo que vai acontecer um evento daqui a algumas semanas.
— É só uma peça de teatro.
Mary concordou com a cabeça, voltando a olhar para a frente.
— É aberto ao público? — perguntou — Talvez seja divertido.
— Sim, sinta-se à vontade para vir, se quiser — Lily apressou-se em responder, sorrindo para ela.
— Eu soube que... Snape estava fora.
A sua afirmação soou mais como uma pergunta.
— Ele estava, mas não vai mais nos incomodar — disse Lily, mordendo o lábio.
Não quis mencionar as mensagens, nem o fato de que quase infartou quando recebeu a sua mensagem mais cedo, achando que podia ser Snape novamente.
— Mas incomodou? — perguntou Mary, percebendo que ela escondia algo, como que dizendo que ela aguentava a verdade.
— A presença dele era incômoda. Você sabe como é.
Ela concordou. Se tinha algo que ela sabia como era, era ter que ver o rosto de seus agressores.
— Eu quase não tive como te agradecer, naquela época — Lily viu Mary abaixar o rosto, como se estivesse contendo as lágrimas — Se não fosse por você...
— Você não precisa me agradecer por isso — interrompeu-a — Foi apenas sorte eu estar lá.
— E essa sorte me salvou. Eu fiquei revivendo essa noite por todos esses anos, pensando no que poderia ter acontecido. O julgamento foi tão difícil, o reconhecimento... Ter que relatar o que aconteceu para advogados de defesa que só queriam jogar na minha cara que eu não deveria andar sozinha à noite.
Lily podia imaginar como era. Sempre foi mais fácil culpar as vítimas do que educar e recriminar os agressores.
— Eles vão gostar de te ver de novo — ela comentou — Essa peça é para nos lembrarmos dos anos anteriores, estamos quase nos formando, e ter você aqui vai fazer muito bem a todos.
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Precisamos Falar Sobre James
FanfictionUm celular em cima da mesa. Um grupo de WhatsApp silenciado. Naquela noite de sábado, Lily Evans só queria comer uma pizza, jogando conversa fora com o seu melhor amigo, James Potter. Contudo, a única coisa que conseguiu foi comprar um saco de jujub...