Verso 2

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Ter que ver você assim: sempre tão linda

O Sol sorria alegremente do lado de fora da janela. As seis horas da manhã, aonde o humor de todos estava péssimo, o Sol e o calor não se importavam com o que acontecia dentro de casa. A vontade de Anajú era fechar a janela, ligar o ar-condicionado e gritar que depois de duas semanas de férias suas aulas tinham voltado. Então que o tempo devia fechar, chover e cair neve (se possível), para combinar com seu humor.

Ana Júlia se jogou de volta na cama e colocou aquela máscara de olhos, aonde tudo ficava escurinho e noturno. Se cobriu com o cobertor e se entregou mais uma vez ao sono, mas não por muito tempo. Quinze minutos depois – mas aquele cochilo maravilhoso que fez parecer que ela tinha dormido mais uma hora – seu despertador começou a tocar uma música da Nicki Minaj em uma altura que era possível escutar do final da rua. O despertador de Ana Júlia era o da casa: todos acordavam.

Sem vontade ela se arrastou, mais uma vez, para fora da cama e foi direto para o banheiro. A única coisa capaz de acordá-la naquele momento era água gelada (Anajú era uma das poucas pessoas no mundo que não gostava de água quente quando o clima estava quente). Ela conectou o celular recém-carregado ao aparelho de som que ela juntara várias mesadas para comprar.

Automaticamente o aleatório começou a tocar Fancy nas caixas de som espalhadas pelo banheiro e Ana Júlia sentiu seu corpo começar a responder, ela se animava a cada batida e frase diferente. Tomou um banho rápido, o suficiente para escutar duas músicas animadas e tirar todo o vestígio de sono de seu corpo magro.

Ela se olhou no espelho e viu que estava conseguindo, finalmente, ganhar um pesinho. Suas costelas não ficavam mais a mostra, o osso do ombro agora era coberto por uma leve camada de gordura. Depois de toda a puberdade dois pequenos volumes cresciam aonde eram para ser seios. Diferente da melhor amiga Agnes, Ana Júlia parecia uma garota de treze anos: sem nenhuma curva, mais magra que uma porta. Mas o que importava era a verdadeira aceitação.

Anajú se achava a pessoa mais bonita do mundo. Sua auto-estima batia no céu e voltava. Depois de muito tempo se achando horrível, insuficiente, ela aprendera a ter amor próprio. Ana Júlia definitivamente não precisava de ninguém dizendo suas qualidades, já que ela mesma sabia o que tinha de errado e certo em si.

Vestiu sua melhor calça jeans e aquele uniforme horroroso da sua escola: uma blusa polo cinza com o brasão amarelo e duas listras pretas. Aquela blusa era cheia de erros, mas todos os alunos eram obrigados a usar. Para tentar esconder aquela peça de roupa horrorosa, ela colocou um casaco dois tamanhos maiores e bem fininho para não morrer de calor. Não passou nenhuma maquiagem porque ela não era obrigada as sete horas da manhã a parecer um pavão de tanta cor no rosto. Quem tivesse disposição e força de vontade para acordar mais cedo para passar maquiagem que fizesse, mas Anajú era preguiçosa demais para isso.

Assim que chegou na cozinha Bernardo entrava em casa pela porta dos fundos. O suor escorria pelo corpo inteiro. Assim como existia gente doida que acordava para se maquiar, existia gente doida que acordava para correr.

- Você é louco – Anajú resmungou. Ela começava a fazer o café para os dois, já que Luísa não gostava da bebida. 

- E você devia começar a se exercitar – ele disse, abraçando a menina e esfregando o suor no rosto dela. A relação de Bernardo e Ana Júlia era como de irmãos mais velhos e em alguns momentos ele agia como pai (quando precisava dar broncas ou aconselhar). A menina era completamente grata ao destino por ter ligado Bernardo e Luísa mais uma vez, dessa vez para sempre.

- Eu exercito o cérebro – ela brincou. No fundo Ana Júlia sentia vontade de ser fitness, mas ela tinha muita preguiça. Tinha prometido para si mesma que quando passasse no vestibular ela faria algum esporte.

Luísa logo apareceu ainda de pijama e o rosto todo amassado. Os três começaram a se organizar como era toda a manhã. Ana Júlia ficava por conta das bebidas: café e chá de morango para Luísa. Bernardo preparava ovos com queijo e presunto, Luísa fazia tapioca ou pão (depende do dia e do que eles estavam com vontade). Depois eles se sentavam em volta da mesa e comiam conversando sobre o que fariam naquele dia. Anajú costumava falar sua programação de acordo com o horário da faculdade de Mozart, mas agora que eles não tinham mais nada ela iria de volta para casa.

Para a surpresa de Ana Júlia, Mozart ainda não tinha entrato em contato. Tinha se passado uma semana inteira desde o término e o ruivo simplesmente sumiu. A única coisa que mostrava que ele ainda estava vivo era o perfil dele no facebook, que mostrava que ele tinha compartilhado algumas coisas naquele meio tempo. Anajú tinha certeza absoluta que o ex-namorado iria mandar alguma mensagem, falar algo ou até pedir para voltar. Aquela rejeição era nova para Ana Júlia.

Só para não perder o costume ela deu uma olhada na tela do celular para ver que não tinha perdido alguma mensagem ou ligação de Mozart, mas só Agnes tinha perguntando se ela iria para a aula naquela manhã. Ao pensar em Mozart a menina se lembrou do último olhar que ele lançou para ela, como seus olhos demonstravam decepção e mágoa. O coração sempre frio de Anajú, por um rápido momento, se contorceu de tristeza, mas a garota logo afastou toda aquela tristeza e voltou a se sentir indiferente em relação ao ruivo.

- Vamos? – Bernardo perguntou assim que se arrumou. Alguns dias ele a levava e em outros era Luísa.

Ana Júlia apenas concordou e pegou sua mochila na ponta do sofá. Bernardo a deixou na escola e foi para o trabalho. O estacionamento estava lotado de pessoas. Tinham sido só duas semanas longe daquele inferno, mas Ana Júlia sentia como se tivesse passado somente um final de semana longe. Avistou Agnes conversando com os meninos do time de vôlei e foi falar com a amiga e aqueles caras que se achavam os Reis.

A amiga abriu um longo sorriso quando viu Anajú chegando. As duas se abraçaram e começaram a andar de braços dados até a entrada da escola e conversando como tinham sido suas pequenas férias.

- Quinta-feira tem uma calourada da UFRJ do curso de Economia. Vamos? O Mozart deve estar sabendo também. Vamos nós quatro (já que eu tenho uma acompanhante) – Agnes a convidou. A amiga ainda não sabia do término e dizia animada, como se Anajú fosse adorar o convite.

- Na verdade, Ag, nós terminamos – Anaju disse sem nenhum remorso na voz. Deu de ombros com a novidade. Duvidava muito que isso seria surpresa para a amiga já que todos sabiam que era raro Ana Júlia namorar e não terminar um namoro.

- Sério? Eu ia te perguntar se você está bem, mas consigo reparar que está mais do que bem – a amiga a empurrou pelo ombro e as duas riram. – Então vamos só nós duas? Uma saída como não fazemos há muito tempo.

- Estou dentro – Anajú disse. As duas bateram as mãos em comemoração e foram em direção a sala de aula.

Agora Ana Júlia se sentia como realmente era: livre. Não tinha namorado e nem ninguém que pudesse tirar aquilo dela. Era ela e uma vida inteira pela frente, ambas prontas para serem aproveitadas.

 Era ela e uma vida inteira pela frente, ambas prontas para serem aproveitadas

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Capítulo 2: aqui estamos! Agora a história fica mais legal!

Os capítulos daqui são pequenos, é uma história curta, mas eu amo! Espero que vocês gostem tanto quanto eu!

Beijos no core <3

So(fria)Onde histórias criam vida. Descubra agora