Verso 3

2.2K 233 14
                                    

Contemplar o Sol no teu olhar, perder você no ar

           

Um dos maiores problemas da cidade maravilhosa, para Anajú, era o clima úmido e calorento que fazia seu corpo transpirar como se não houvesse amanhã – mas havia. O dia seguinte chegou tão quente quanto todos os outros, a semana seguinte também, mas só quando se passaram quinze dias depois do término que a loira percebeu que tinha que se mexer, fazer alguma coisa. O fim de um namoro não era nada demais e isso dava a completa liberdade para ela fazer o que bem quisesse, quando quisesse e aonde quisesse (após a liberação da irmã mais velha, lógico). Nunca tinha ficado tanto tempo sem fazer nada e não seria agora, com sua recém liberdade adquirida de volta que ficaria o final de semana parada em casa.

Ao planejar acordar cedo no dia seguinte para colocar em prática seu plano de ser uma mulher independente e maravilhosa, ela esperava acordar disposta para correr depois de toma um café da manhã de rainha, depois ir ao shopping e comprar alguma roupa maravilhosa para usar no karaokê bar que iria com sua melhor amiga naquele mesmo dia a noite. Mas, o que Ana Júlia tinha esquecido é que, mesmo que o fim do namoro tivesse mudado sua cabeça e dado a permissão para ela conhecer pessoas novas, a vida dos outros continuava exatamente a mesma coisa – talvez não a de Mozart, mas a dos seus irmãos não tinham sido influenciadas.

Mas, quando ela desceu as escadas as sete horas da manhã daquele sábado, completamente feliz por que o clima estava ameno e que seu plano de ser uma nova pessoa iria dar certo, viu tudo que tinha planejado ir para bem longe dela quando sua sobrinha agarrou a perna fina de Ana Júlia e tentou dizer, gaguejando, que não a soltaria até que ela fosse para a praia com todos ali.

Agora, mais uma vez, Ana Júlia derretia embaixo do Sol quente e cuidava da sua sobrinha completamente amada, mas as vezes cansativa, enquanto os casais ficavam em suas guarda-Sol tomando água de coco e comendo biscoito globo. Nem tomar um café da manhã descente Ana Júlia conseguia, já que Bruno dera para ela apenas trinta minutos para se arrumar e estar na porta para eles saírem.

- Plima, tô cum fome – Isabela reclamava enquanto balançava a alça da calcinha do biquíni de Anajú, praticamente deixando-a sem a roupa de baixo.

- Corre lá na mamãe e pede para papar – Ana Júlia, com toda a delicadeza que Deus não a deu, empurrou a sobrinha em direção a barraca que estavam seus pais. Assim que a criança correu, de maneira completamente desengonçada, a loira andou até aonde as ondas quebravam para molhar os pés.

Ela podia reclamar o quanto quisesse da temperatura elevada da cidade, mas não podia negar que era uma benção morar em um lugar praiano, aonde o mar estava ali para levar todos os males e problemas que rondavam em seus pensamentos. Ela não demorou a tirar os chinelos e se jogar nas ondas, recebendo uma enxurrada de areia que deslizava pelo seu corpo com tanta permissão que parecia que ela era uma sereia que fazia parte do mar tanto quanto ele fazia parte da sua vida.

Deitou com muita calma sob as águas e ficou, durante muito tempo, apenas boiando e indo e vindo com o balançar das ondas. De olhos fechados ela conseguia apenas se concentrar naquele movimento calmo e que fazia aquele momento parecer o melhor de todos. Não se ouvia mais os gritos das crianças e dos pais desesperados na areia, o calor já não a incomodava. Ir e vir com o mar já parecia ser o melhor plano para ser uma garota nova, que não se preocupava com ex-namorado, com problema algum. Ela estava completamente feliz e calma por ser quem era. Não existia corrida, café da manhã e nem compras que daria aquela sensação para ela.

Mas, como nem tudo é para sempre, todo o encanto e calma foi desmanchado quando um saco plástico encostou no pé da menina a assustando e fazendo com que Ana Júlia desse um pulo e se afogasse levemente na água. A poluição do mar da praia de Copacabana agora já parecia estragar tudo e toda aquela leveza e calma que tomava conta do corpo de Ana Júlia.

So(fria)Onde histórias criam vida. Descubra agora