Verso 19

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Sei que você já não gosta de mim

Ana Júlia sempre teve um lema em sua vida: não se envolver intensamente, não deixar com que os namoros evoluíssem muito na questão amorosa e nunca confiar 100% em nenhum garoto. Ela passou por uma única experiência negativa com seu primeiro namorado, mas que causou sentimentos ruins o suficiente para a vida toda dela. Tudo isso a fazia pensar duas vezes antes de se envolver com qualquer pessoa que pudesse ser mais do que simples beijos. Com Mozart mesmo tinha sido um sacrifício e terminou por conta daquele medo que a cercava 24 horas por dia.

Mas tudo isso tinha sido antes.

Antes mesmo dela saber o que era ter o coração partido por um cara – um completo desconhecido que te destrói da pior maneira em poucos minutos.

Todo o seu drama por conta de seu primeiro namorado – que agora achava que ela namorava sua melhor amiga, Agnes – não se comparava ao que ela sentira ao perder Mozart e depois perder a pouca inocência que tinha em relação aos garotos que ofereciam bebidas que pareciam inofensivas.

Mas toda a dor era passado. Nada se comparava com a felicidade que ela estava sentindo naquele momento. Era como se sua vida tivesse passado por um giro de 360 graus e mudado completamente. Um dia ela estava solteira e tentando seguir em frente após um término sofrido, mas não assumido. No dia seguinte seu medo de relacionamento não existia mais e ela queria enlouquecidamente ficar com Mozart de novo, e dessa vez para sempre; junto com o desejo de voltar para os braços do único garoto que ela se permitiu amar, veio a rejeição e a destruição.

Todo o giro tinha sido bom, porque agora ela tinha os braços quentes e confortáveis de Mozart ao seu redor. Agora ela tinha uma melhor amiga onde conseguia se abrir completamente, a cada dia mais. Tinha uma irmã grávida de gêmeos – uma menina e outro neném com o sexo ainda tampado pela perna da irmã – e estava conseguindo evoluir mentalmente a cada consulta com sua terapeuta.

Tinha sido uma vitória pegar ônibus sozinha para ir ao cinema, outra vitória foi ir de táxi para a casa de Mozart. Aos poucos Ana Júlia dava pequenos passos que representavam um mundo cheio de vitórias para ela e nada mais gratificante que aquela sensação de uma nova conquista.

Ela e Mozart tinham passado o dia na praia de Joatinga, um local bem escondido dos turistas e que tinha uma paisagem incrível. Tinha virado o local deles, aonde eles passavam longas horas de seus finais de semana. Ana Júlia já ostentava os ombros vermelhos e Mozart tinha suas sardas mais escuras do que nunca, realçando o tom avermelhado do cabelo dele e os olhos claros.

Eles ficavam deitados na areia, torrando em baixo do Sol. Entravam no mar e balançavam com as ondas. Depois dividiam uma única toalha e voltavam a deitar na areia. Mozart muitas vezes tinha sua longa lista de textos da faculdade, ele se enroscava no corpo de Ana Júlia e lia sem parar, enquanto ela muitas vezes caia no sono enquanto recebia um carinho nas costas.

Naquela manhã nada tinha sido diferente. Eles tinham se encontrado as oito horas da manhã e partido para a praia, prontos para um dia cheio de biscoito Globo, chá mate e a companhia um do outro. O Sol estava insuportavelmente quente, os obrigando a entrar no mar várias vezes durante a manhã – eles praticamente não ficaram na areia que estava pegando fogo.

- Está quente demais, vamos lá para casa – Mozart sugeriu, enquanto se limpava com a toalha de Ana Júlia.

A garota não demorou a concordar, queria naquele momento um banho gelado e deitar debaixo de um ventilador. Eles arrumaram suas poucas coisas e voltaram para o alojamento da UFRJ, prontos para passarem o dia hibernando.

- Posso tomar um banho? – Ana Júlia perguntou sem graça. Mesmo estando mais juntos do que nunca, ela tinha adquirido aquela timidez que a envergonhava a cada passo mais íntimo.

So(fria)Onde histórias criam vida. Descubra agora