Verso 21

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Mas vou reconquistar o seu amor todo para mim

- Então você vai viajar – Ana Júlia disse aquelas palavras com calma, temendo ser verdade. Não podia acreditar que aquilo não estava dando certo mais uma vez. Ela não estava chateada por ele não ter contado, mas porque ele ia viajar e a deixaria para trás.

- Vou, em novembro – Mozart aparentava estar triste. Ele se arrependia de não ter contado para ela, mas com tantas coisas acontecendo a última coisa que passou em sua cabeça foi avisá-la que viajaria dali há um mês e alguns dias.

O resto do jantar tinha ocorrido de maneira tranquila, sem mais nenhuma novidade de última hora, mas o clima não era o mesmo após a leve tensão entre Ana Júlia e Mozart. Eles tentavam conversar sobre assuntos aleatórios e neutros, mas todos olhavam para Anajú para ser se a garota estava bem. Logicamente ela não estava, mas não estava triste e com muita raiva como todos achavam que estava. Tinha sim sua parte que não queria nem ver Mozart pintado de ouro, outra parte queria ir para um quarto e passar a noite chorando porque ele a deixaria sozinha. Mas a maioria de seu corpo estava feliz por saber que Mozart finalmente faria algo que sempre sonhou, que sempre comentou que faria algum dia em sua vida. Saber que ele estava vibrando de felicidade a deixava feliz também.

Quando as pessoas diziam que se você ama uma pessoa o que mais quer é vê-la feliz, independentemente de estar ou não com ela, Ana Júlia não acreditava. Mas naquele momento ela percebeu, sentiu em sua própria pele a felicidade crescer ao ver que Mozart estava feliz, mesmo que por isso ela ficasse triste com sua partida.

Pelo menos seria temporária. Uma partida temporária.

Eles estavam de novo na casa de Mozart. Tinham decidido conversar durante a partida de imagem e ação, mas os gritos de Luísa, o choro de Isabela e a música alta de Bruno estavam complicando a conversa, então se despediram de todos e foram para o alojamento da UFRJ. Deram uma carona para Agnes, que morava no caminho. Quando ela se despediu, desejou boa sorte para a melhor amiga e disse que mais tarde ligaria para ela, contando sobre o tão esperado encontro com Laura.

Agora eles estavam sentados na cama de Mozart com vários papéis de passagem de ônibus, roteiros de viagens e mapas, olhando um para o outro e encarando aquelas folhas.

- Seis meses – ela praticamente sussurrou.

- Eu queria te contar, Anajú. De verdade. Mas estava acontecendo tantas coisas que não pareceu importante, e mesmo assim eu pensava todos os dias em te contar, só estava esperando aquele momento certo. – Mozart deu de ombros, não sabendo se ela entendia o que ele estava tentando falar.

- Eu estou feliz, mas também estou chateada. E não é porque você me contou, mas porque eu não quero ficar aqui sozinha.

- Mas você não vai, Anajú. Claro que não. Nós podemos ficar conversando todos os dias, eu te mando mensagem toda hora, podemos conversar todas as noites. E você tem sua irmã, uma melhor amiga que está sempre presente. A última coisa que você vai estar é sozinha.

Por mais que ela soubesse que teria toda a sua família ao seu lado, não teria ele. Não teria seu porto seguro para quando ela precisasse de alguém em um momento de desespero – por mais que tivesse Luísa e Agnes, as pessoas que ela mais confiava, não teria Mozart. E ela queria ele ali.

Ana Júlia também sabia muito bem que seria impossível continuar um relacionamento com Mozart a distância. Por mais que quisesse enlouquecidamente, não tinha cabimento. Ele estava indo fazer sua viagem dos sonhos, aproveitar tudo que sempre quis, não teria espaço para uma namorada deixada no Brasil. Não quando ele estava indo curtir, conhecer lugares (e, por mais que doesse admitir, também estava indo conhecer pessoas novas). Ela queria que existisse um espacinho para ela naquela viagem, só Deus sabe como ela queria, mas Ana Júlia não combinava com mochilão pela América do Sul.

So(fria)Onde histórias criam vida. Descubra agora