Verso 7

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Oh, Ana Júlia

Se existia uma coisa na qual Ana Júlia era péssima essa coisa era física. Não só física, mas todas as matérias que envolviam números com somas, divisões e um monte de coisas que só serviam para confundir a cabeça da garota. Todas as vezes que ela entrava em semana de provas e precisava estudar as matérias da área de exatas era um enorme sacrifício – Anajú acabava chorando por se sentir burra e pensava que tiraria o zero mais redonda da sua vida. As únicas disciplinas que a preocupava para estudar para o vestibular eram as de exatas – mais especificamente física, química e matemática.

Ela estava sentada ao lado da cadeira de Agnes e ambas tinham um olhar aterrorizado para o professor. Ele falava, mas nada era absorvido. Agnes, um pouco mais relaxada com tudo, ria de desespero, mas Ana Júlia só pensava em mil vídeo-aulas que iria assistir para entender o mínimo da matéria, o suficiente para ela passar.

Sentiu um papel amassado cair em seu colo e olhou para a amiga, que fazia gestos pedindo para ela ler.

"Hoje tem a festa dos calouros de Educação Física da PUC. Vamos?"

Anajú riu da dispersão da amiga, que ao mesmo tempo que ficava desesperada com a matéria que não aprendia, não se deixava perder uma única festa da sua futura faculdade.

"A gente precisa estudar, Agnes."

"Eu prometo que estudaremos amanhã. Por favorzinho"

A garota apenas riu, balançando a cabeça. É lógico que ela iria, mas obrigaria a amiga a estudar com ela na manhã seguinte, mesmo que ela estivesse com a pior ressaca do mundo.

∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞

Agnes chegou na casa da amiga um pouco antes das seis horas da tarde. Elas eram grandes amigas, ou achavam que era. Desde o dia em que se esbarraram no corredor da escola e começaram a conversar surgira uma amizade inesperada, porém muito bem-vinda. Diferente de Ana Júlia, Agnes era cheia de amizades – mas daquele tipo que é amiga de todos, mas não é amiga de ninguém. Não existia uma pessoa que ela poderia contar se tivesse problemas familiares ou problemas de si mesma. Ela tinha muitos colegas, mas nenhuma amizade verdadeira.

Conhecer Ana Júlia foi a luz no fim do túnel quando imaginava que não conseguiria levar nenhuma amizade verdadeira do ensino médio para a faculdade. Elas se deram bem muito rápido e quando perceberam já eram amigas de verdade, que se davam bem e compartilhavam os mesmos gostos e opiniões. Mesmo que Agnes contasse tudo para a amiga, se abrisse e recebesse os piores conselhos (já que não era muito característico de Anajú aconselhar bem), Ana Júlia ainda não fazia isso direito.

Mas Agnes não via problema, estaria ali para qualquer momento que a amiga precisasse. Sabia que a cabeça loira e confusa de Anajú era cheio de pensamentos e sentimentos conturbados e quando ela se sentisse à vontade, teria uma boa ouvinte e conselheira para apoiá-la ou aconselhá-la.

O que Agnes tinha certeza era que Ana Júlia nunca estivera tão bem quanto dizia. Ela sempre falava "estou ótima", mas perdia os pensamentos no meio de uma conversa, olhava o celular todas as vezes e a caixa de pesquisa do facebook tinha o nome do ex-namorado em primeiro lugar de recentes pesquisas. O que a amiga não entendia era o porquê de terminar um namoro quando se gostava tanto da pessoa. Quem dera Agnes encontrar a pessoa certa – ou então alguém que pudesse parecer a certa e a fizesse feliz pelo tempo em que estiverem juntos. Mas ela, diferente de Ana Júlia, nunca encontrava um garoto digno de amor, ou até uma paixãozinha rápida, era sempre trastes atrás de mais trastes.

So(fria)Onde histórias criam vida. Descubra agora