Verso 16

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Oh, Ana Júlia

Foram cinco horas completas de sono que fizeram Ana Júlia relaxar um pouco depois daquele dia longo e horroroso. O suficiente para fazê-la dormir bem, mas quando começou a sonhar com aquele cara de olhos escuros apertando seu pescoço, acordou com uma enorme sensação de alívio que tomava conta do seu corpo por perceber que aquilo já tinha passado. Agora ela estava segura, no sofá de Mozart, e ninguém entraria ali para machucá-la.

O Sol não tinha aparecido ainda, mas o relógio mostrava que já eram seis horas da manhã. Mozart cochilava na cadeira em frente ao sofá, com o corpo todo torto e uma caneca sem café na mão. Ele parecia estar cansado, dormia de boca aberta e o cabelo caía em seu rosto com os fios embaraçados e bagunçados.

Ana Júlia levantou do sofá e sentiu dores pelo corpo todo, não sabia se era por conta do sofá duro ou por conta de tudo que tinha acontecido no dia anterior – suspeitava que era a segunda opção. Sentiu que estava usando uma calcinha (pensou que fosse isso), e ficou aliviada por Mozart ter lembrado desse pequeno detalhe que para ela significava tanto. Se alongou inteira, sentindo dor nos braços e pescoço, seu hálito estava esquisito, com um gosto amargo (Anajú tinha a sensação que tinha comido ferro). Seus joelhos estavam levemente ralados e doloridos, sua panturrilha também estava dolorida por conta do tanto que ela andou e correu no dia anterior.

Se assuntou com o toque alto do celular de Mozart, fazendo com que o garoto também acordasse com um pulo. Os dois se encararam primeiro e depois mudaram o olhar para o celular tocando na mesinha de centro. O nome de Luísa estava na tela, tremendo e piscando sem fim, pedindo para ser atendido e não ignorado.

- Acho melhor você atendê-la. Tive que pedir para ela te deixar dormir e esperar acordar para vir para cá – Mozart disse, coçando a nuca e evitando olhar nos olhos de Ana Júlia. Ele estava completamente envergonhado por ter perdido o controle na frente dela quebrando aquela garrafa, e estava muito chateado pelo o que tinha acontecido com ela, e olhar para as marcas avermelhadas e roxas pelo corpo frágil dela só o lembrava que devia estar ao lado de Ana Júlia.

A garota concordou com a cabeça, mas ainda com certo receio por não ter falado ainda com a irmã. Se tinha sido difícil falar para Mozart, não conseguia nem imaginar a vergonha de falar para a irmã.

- Alô? – Ela atendeu com uma voz completamente diferente da sua usual. Grossa e rouca.

Até Mozart, que não estava com o celular no ouvido, conseguiu escutar o soluço alto de Luísa ao escutar a voz da irmã. Luísa não disse nada, apenas chorou e entregou o celular para alguém que tinha condições de falar.

- Oh, Anajú – Bernardo disse assim que pegou o celular de Luísa. A voz dele também estava rouca, mostrando que não tinha sido somente a irmã mais velha a chorar. – Você está bem?

- Estou melhor – ela não disse que estava bem, porque era óbvio que não estava. Ela já não tinha lágrimas para chorar, mas seu coração se apertava inteirinho ao ouvir as pessoas que mais amava chorando.

- Nós queremos ir aí, podemos?

- Por favor, venham – Luísa pediu. Mozart confirmou, ele não se importava que o apartamento era minúsculo, sabia que ela precisava enlouquecidamente dos parentes.

Ana Júlia explicou direitinho o caminho para Bernardo e desligou. Se sentou de volta no sofá e Mozart logo ficou ao lado dela. Ela não pensou muito, mas assim que ele se sentou, ela deitou com a cabeça no colo do garoto, querendo aquele carinho que desejava desde o dia anterior.

Mozart não demorou nem dois segundos para começar a fazer o tal cafuné nos cabelos embaraçados de Anajú. Seus dedos iam do topo da cabeça até a altura do pescoço, bem lentamente e fazia com que a menina quase dormisse de novo. Ana Júlia, automaticamente, começou a fazer um carinho no tornozelo dele, por baixo da calça jeans que ele usava. Eles faziam muito aquela combinação quando ainda estavam namorando, e fazer de novo fez com que Ana Júlia sentisse que eles ainda estavam juntos.

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