Verso 5

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Pois sem ter o seu carinho, eu me sinto sozinho

           

O debate na Universidade Federal do Rio de Janeiro durou praticamente o dia inteiro, até o final da tarde, apenas com uma pausa para lanchar as três horas da tarde após a pausa do almoço. Ana Júlia fez questão de mudar de lugar para sentar ao lado de Alessandro, o garoto que felizmente tinha esbarrado com ela na fila da lanchonete. Eles não tiveram muito tempo para conversar e "se conhecerem melhor", mas o pouco tinha sido o suficiente para que surgisse um enorme interesse da parte de Anajú. Sabia que ele gostava de tocar violão e tinha uma pequena banda, que servia como escape da correria da faculdade, já que cursava ciências econômicas e não era nada fácil as várias provas durante o semestre.

Para a sorte da garota, ela não tinha visto mais o ex-namorado no enorme anfiteatro. De maneira discreta ela conseguiu procura-lo entre as cadeiras, mas não encontrou nenhum cabelo ruivo encaracolado. Ao mesmo tempo que sentiu um enorme alívio por não tê-lo em sua vista e ter o caminho livre para tomar qualquer atitude em relação ao Alessandro, mas não pôde negar que estava um pouco curiosa para saber aonde estava Mozart, já que nunca perdia palestras sobre política enquanto eles namoravam - era uma das coisas preferidas em relação ao curso do garoto.

Ana Júlia não sabia explicar muito bem o que teve com Mozart, ela tinha milhares de lembranças boas que parecia de outra vida. Sabia que eles tinham namorado depois de meses apenas ficando as escondidas, curtindo aquele momento maravilhoso e sereno quando duas pessoas se apaixonavam, mas não entendia direito o que tinha acontecido, aonde eles tinham se perdido naquela antiga maré de amor (o pior sentimento para se ter quando não está totalmente confiante, no ponto de vista de Anajú).

Parecia uma lembrança antiga, uma memória de anos passados, mas o término tinha acontecido há quase um mês e o namoro durou por muito tempo, tempo o suficiente para marcar ambos de uma maneira que nenhum dos dois previra. Porém, nenhum tempo era capaz de apagar da cabeça loira de Anajú como tudo tinha começado. Ela não era mais uma garota inocente que caia de paixões pelos primeiros olhos bonitos que vê em sua frente, mas gostava de colecionar boas histórias de amores passageiros.

Mas Mozart tinha sido diferente desde o começo. Desde aquela quinta vez que ela pisara no chão gelado da casa de Monalisa e não encontrara sua professora que estava sempre a sua espera, tudo passou a ser diferente. Mozart, como um ótimo anfitrião, disse que ela podia ficar a vontade e se sentou ao seu lado, enquanto lia um dos vários livros que Ana Júlia sentia vontade de ler e, praticamente a ignorava (o que para Ana Júlia era um absurdo, até descobrir, anos depois, que ele estava completamente nervoso com a presença dela).

Começaram conversando sobre os livros daqueles sociólogos que tanto falavam as verdades que os dois concordavam, depois eles descobriram todas as manias e gostos em comum: como o sonho de ambos de fazer um intercâmbio para a Austrália, fazer um mochilão pelo nordeste brasileiro e comprar uma combi para viajar pelas praias. E quando deu por si, Ana Júlia já chegava todos os dias mais cedo na casa da Monalisa para poder se encontrar com Mozart enquanto a professora e grande amiga ainda não chegava. Conversas passaram a ser braços ao redor do corpo e o sofá foi cada vez tendo mais espaço já que eles se sentavam sempre mais perto um do outro. Quando já não aguentava mais esperar uma atitude de Mozart, Ana Júlia o beijou assim que ele abriu a porta para ela entrar, em uma das várias vezes que o surpreendia.

Tudo cresceu muito rápido, aquele momento mágico de todo início de namoro durou mais tempo do que o que Anajú pensou que duraria. E, por mais que não achasse que conseguiria, ela seguiu com o namoro até as coisas ficarem realmente sérias. Negava para si todos os dias que ela não o amava, que o fim tinha sido o certo. Repetia, repetia e repetia, até que um dia ela acordaria e acreditaria que aquilo era verdade.

So(fria)Onde histórias criam vida. Descubra agora