Verso 13

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Quando tudo tiver fim

           

Ana Júlia não era o tipo de garota que remoía suas dores amorosas durante muito tempo – na verdade, ela torcia para não ser essa garota que fica dias de cama, comendo somente alimentos com alto teor de açúcar, assistindo a comédias românticas que têm um final em que tudo dá certo e revendo todas as fotos que tirou durante o período em que esteve junto ao causador de toda a dor no coração. A verdade é que ela gostava de sofrer durante alguns dias, o suficiente para melhorar seu astral, mas depois seguia em frente: cabeça erguida e um escudo de proteção na sua frente, para fazê-la não ter contato com nenhum sofrimento que pudesse agravar seu coração partido.

Porém, Anajú só tinha tido seu coração partido uma única vez, há anos e tinha sido tão diferente da atual situação, que nem se lembrava direito da dor antiga. Sabia que tinha sido uma das piores coisas que passou, perdendo somente para o dia em que descobriu que seus país agora eram estrelas que vigiavam ela e seus irmãos. Mas, mesmo que não lembrasse de como tinha sido insuportável, quando Mozart foi embora, ela sabia que dentro do seu corpo as características do coração partido de anos atrás ainda estavam presentes, o que fazia com que ela sofresse em dobro, com uma dor acumulada. Percebeu que ao achar que não tinha mais nenhuma dor relacionada ao término com Paulo, ela tinha se enganado, porque pequenos pontos de angústia ainda estavam dentro do corpo de Ana Júlia e tinham sido ignorados pelo psicológico da garota para fazê-la seguir em frente, sem nenhuma mágoa.

Agora, como se não bastasse ter a dor da negação da parte de Mozart, ela ainda tinha que suportar aqueles pensamentos que infernizavam sua cabeça ao lembra-la de todas as vezes que ela foi recusada, negada ou abandonada pelas pessoas que amava – não tinha sido muitas vezes, mas a cabeça manipuladora de Ana Júlia fazia aqueles poucos momentos parecerem enormes, com uma importância muito maior do que a que realmente tinha.

Anajú agradecia por não se lembrar de como era ter um coração partido, porque senão ela não teria tido coragem para se abrir para o garoto que amava – porque sim, finalmente ela tinha aceitado que aquela fusão de sentimentos era amor, o mais honesto e verdadeiro amor por um garoto que por muito tempo a amou de volta, em silêncio, guardando o sentimento somente para ele (e quando se sentiu confortável para expor para a, até então, namorada, foi rejeitado de maneira cruel). A rejeição temporária era completamente compreensível. Ana Júlia não estava com raiva e nem achava que Mozart não podia ter dito não, era direito dele e totalmente coerente. Mas não dava para negar que aquilo ainda assim a magoava, mesmo sendo madura e assumindo para si mesma que Mozart estava certo e que ele não tinha dito um "não" para sempre, mas somente para um tempo para ele mesmo, para pensar, Ana Júlia ainda sentia que doía.

Tinham passado somente dois dias após a recusa do ex-namorado, somente uma parte do limite que Ana Júlia considerava tolerável para o momento de sofrimento (ela achava que sete dias era o suficiente para ficar triste, depois disso era bola para frente). Ela ainda estava no momento de ficar somente em casa, debaixo do seu cobertor e com o ventilador apontando para o rosto se não ela morreria de calor e não de coração partido. No chão estava um balde vazio que antes tinha tido pipoca para a maratona de "The O.C", a série favorita de Mozart e que ele apresentara para Anajú quando namoravam, alguns papéis de chocolate M&M, seu celular estava em cima da mesa, perto do carregador - mas Ana Júlia não tinha tido coragem o suficiente para esticar o braço para dar bateria ao aparelho, porque sabia que se tivesse com o celular ligado iria ficar o dia inteiro no Instagram e Facebook de Mozart, avaliando tudo que ele fazia e atualizando a cada cinco segundos para saber se ele tinha colocado alguma foto nova, compartilhado alguma coisa ou pior: adicionado, aceitado algum pedido de amizade de alguma garota ou seguido alguma menina nas redes sociais.

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