Verso 11

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Eu passando o dia a te esperar

Depois da conversa na casa de seu irmão, Anajú decidiu aceitar o convite de Gustavo para sair. Parecia o certo a se fazer já que Mozart estava seguindo em frente e ela só pensava em mil planos que nunca colocava em prática – ou então, quando colocava, se deparava com o responsável por quebrar seu coração e não conseguia esquecer aquele término de namoro.

Ana Júlia, por sempre ter sido uma garota consideravelmente fria e desapegada, estava tendo novas sensações irreconhecíveis por ela mesma. Não se lembrava uma única vez (fora toda a história com Paulo) que tinha ido dormir pensando em um cara, que ficava o dia inteiro se perguntando o que diabos ele estava fazendo. Mas o pior para ela é querer estar junto mais uma vez. Algumas vezes ela se pegava pensando no arrependimento que tinha por ter terminado o namoro, e logo achava uma solução fácil: ligaria para Mozart, pediria para conversar e tentaria reatar o namoro. Seria lindo como nos filmes da sessão da tarde, tudo terminaria bem e eles caminhariam de mãos dadas em direção ao pôr-do-Sol.

Mas não era bem assim. Primeiro porque Anajú se considerava extremamente covarde no sentido de seguir atrás, de esquecer o passado e de pedir desculpas – isso era algo que ainda precisava urgentemente ser trabalho nela. Segundo porque Ana Júlia simplesmente não tinha mais o direito de pedir uma coisa dessas para Mozart, pedir para que ele esquecesse todo o sofrimento que ela causara, pedir para esquecer o término, esquecer as pessoas que ele conheceu e todos os planos que fez sem a presença de sua antiga namorada. Era completamente injusto com o ruivo que ela fizesse isso, que pedisse para entrar mais uma vez na sua vida quando ele, finalmente, tinha conseguido seguir em frente. Por mais egoísta que Ana Júlia fosse, ela não conseguia ser assim com as pessoas que amava incondicionalmente. Se ela tomasse alguma atitude egoísta, iria se sentir mal, com peso na consciência e entraria no problema de pedir desculpas – o que ela raramente fazia. E por último, Ana Júlia não sabia se queria realmente voltar com Mozart. Pensava algumas vezes que toda aquela confusão de sentimentos só existia porque ela ainda não tinha conhecido ninguém realmente interessante, ninguém que a fizesse esquecer o passado e seguir em frente feliz da vida.

Foi por conta do terceiro motivo relacionado aos outros dois e a descoberta que Mozart já estava até saindo com outra garota – e isso, na mente sofrida de Ana Júlia, era sinônimo de uma casamente entre o ruivo e essa garota, que eles iriam ter maravilhosos filhos, conversariam sobre política, dormiriam juntos todas as noites (coisa que ele não fazia com Anajú porque ela não queria ainda) e teriam uma casa na praia cheia de cachorros e filhos.

A imagem dele com outra garota perturbava ainda mais aquela cabeça problemática de Anajú, então, a solução mais fácil para ela seria simplesmente sair com outra pessoa. Beijar uma outra boca e tentar ter alguma coisa real com uma pessoa tão boa quando Mozart, que somente dessa maneira ela conseguiria seguir em frente.

Foi com esse pensamento, sem nenhum plano maluco, que ela combinou com Gustavo de se encontrar no Shopping do Leblon. Eles iriam ao cinema – sem nenhum filme em mente ainda -, assistiriam de verdade (porque Ana Júlia era louca por filmes, e não gastaria seu dinheiro para entrar em um lugar somente para se beijar, já que beijo e outras coisas ela poderia fazer em outro lugar) e depois sairiam para lanchar em algum lugar e então conversariam melhor, se conheceriam e assim a garota poderia ter a maravilhosa chance de seguir em frente.

Luísa deixou a irmã no estacionamento do shopping as quatro horas da tarde, trinta minutos antes do combinado. A garota, ansiosa como nunca, se sentou no Starbucks do shopping e mandou uma mensagem para Gustavo avisando que estava a sua espera ali. Ela pediu um chocolate-quente e esperou.

So(fria)Onde histórias criam vida. Descubra agora