Verso 25

1.2K 176 21
                                    

           

Oh, Ana Júlia, Júlia, Júlia

Existem mil coisas que fazem uma prova que dura o final de semana inteiro ser cansativa, uma delas era a falta de concentração de Ana Júlia.

Depois de meses tentando (mas falhando diariamente) estudar para o Enem, a prova tinha finalmente chegado e Anajú não podia estar mais despreparada e levemente desesperada. Ela tinha adiado os estudos o máximo que conseguira. No começo do ano, quando ainda namorava Mozart, conseguia se concentrar nos livros, mas depois aconteceu o primeiro término e todas as crises existenciais dela. Depois, quando estava voltando a ficar emocionadamente bem, aconteceu toda a confusão do assédio, o que atrasou ainda mais os estudos dela.

Ninguém esperava que Ana Júlia arrasasse na prova, que gabaritasse a redação ou que errasse somente cinco questões de matemática. Mas existia uma enorme pressão para que ela passasse na Universidade, aquela pressão normal em cima de toda pessoa de dezessete anos e, pior, a pressão que ela mesma fazia consigo. Ana Júlia se cobrava mais do que qualquer outra pessoa e tentava não se cobrar demais.

Nas últimas semanas ela tinha começado a trabalhar com sua psicóloga sobre o tempo. Aquele fator tão importante na vida das pessoas e que todos tentavam apressá-lo sempre. Ana Júlia mesmo sempre fora uma pessoa completamente ansiosa, gostava de fazer tudo com pressa: provas, exercícios da escola, andar, conversar, se alimentar, tudo. Ela tentava adiantar o máximo de coisas possíveis, até quanto não existia aquela necessidade de pressa. Tinha em mente constantemente a frase "quanto mais rápido, mais rápido".

Mas aos poucos Ana Júlia aprendia que na vida nada é tão rápido quanto ela deseja e se não pode ser assim, ela tem que aproveitar o tempo que é a única coisa real presente em toda a sua vida.

As pessoas vão embora, elas morrem, parar de se falar, brigas acontecem, novas amizades e amores são formados, mas a única coisa que permanece sempre com todos é o tempo – aquele narrador onipresente, que sabe tudo que se passa no dia a dia, que mesmo sendo indesejado ou apressado, está ali.

Ana Júlia tentou aproveitar o tempo da prova do Enem para poder fazer aquilo que uma garota de 17 anos tem a função de fazer: passar no vestibular. Se concentrou (ou tentou o máximo que conseguia) no que estava escrito nas questões, fez alguns cálculos que não eram tão impossíveis, discorreu maravilhosamente bem na redação – porque era uma das partes em que ela era muito boa – e respondeu as questões que falava sobre a história e geografia do mundo.

Quando os textos eram extensos e cansativo ela começava a pensar na despedida que estavam fazendo naquele exato momento com Mozart, ou suas memórias a levavam para a última noite deles, para a despedida que despedaçara ainda mais a garota.

Ela nem sabia direito o porquê de ter ido para a casa dele assim que saiu da casa de Agnes, mas sabia que queria o conforto dos braços do ruivo, sentir o cheiro dele e poder reafirmar que ele ainda gostava dela tanto quando antes. Depois daquela noite eles não tinham conversado mais, mas ambos passavam a madrugada rolando pela cama com os pensamentos tendo força de vontade própria.

Mas agora estava de novo naquele beco sem saída já que a ida de Mozart era real. Não existia nada que pudesse fazer, dessa vez ela não poderia correr para a Universidade do Rio e esperar que ele estivesse sozinho para poder ficar com ela, não poderiam assistir nenhum filme no sofá esburacado do garoto e nem cantar os sertanejos que os vizinhos do ruivo escutava. Naquele momento era definitiva a partida dele e fora terminar aquela prova Ana Júlia não podia fazer nada.

O que ela demorava para assumir para si mesmo era que o tempo passaria, demorasse o tempo que fosse, mas passaria. Seis meses e ele estaria ali de novo, cheio de histórias e sorrisos largos para iluminar os quatro cantos do planeta Terra.

So(fria)Onde histórias criam vida. Descubra agora