Verso 22

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Oh, Ana Júlia

Ana Júlia sabia que aquele término com Mozart iria ser sofrido, tinha plena consciência disso. Mas ela não sabia que seria tão doloroso como estava sendo – pensava que passariam duas semanas e esqueceria como era bom ficar nos braços de Mozart, de como o carinho dele era bom e a sensação da respiração dele no pescoço da garoto. Ana Júlia, inocentemente, pensou que a felicidade por vê-lo feliz iria consumi-la por inteiro, mas tinham se passado quase vinte e cinco dias e ela ainda estava se sentindo péssima e completamente triste.

Realmente, Mozart estava mesmo feliz. Monalisa contava para Ana Júlia – que sempre perguntava e morria de interesse – sobre cada planejamento do roteiro de viagem do irmão e de como ele estava animado (ela, logicamente, omitia o fato de ele não estar tão feliz assim). Aquilo aliviava um pouco mais Ana Júlia, a fazia perceber que mesmo com toda dor ela estava certa.

Ela não era mais uma pessoa egoísta, agora Anajú se entendia como uma pessoa que abria mão da própria felicidade pela felicidade das pessoas que amava.

Uma das coisas que causou tanto sofrimento nela foi o fato de que Mozart simplesmente não desistia. Ele era um típico brasileiro que se encaixava no clichê "brasileiro não desiste nunca". Ele ligou diversas vezes nos dez primeiros dias, manda mensagem de manhã, tarde e noite. Mas depois, quando começou a perceber que não seria respondido, parou de ser tão persistente. Ele não tinha cessado com as mensagens, mandava algumas durante a semana, perguntava como estavam as coisas, mas não era com a mesma frequência.

O que Ana Júlia não entendia era o porquê de ela ser sempre tão confusa. Tinha terminado o namoro, mas estava tão satisfeita em receber aquelas mensagens de Mozart. E quando ele diminuiu, ela sentiu tanta falta, queria responder uma das mensagens só para pedir que ele continuasse perguntando como tinha sido a sua manhã, o que estava fazendo e se estava indo dormir. Mas ela sabia que não podia cobrar isso de ninguém, principalmente de Mozart.

A última mensagem enviada por ele tinha sido um convite para a sua festa de despedida. Era uma mensagem simultânea, enviada para várias pessoas. Não tinha nada íntimo, era só um convite frio e casual. A festa seria no salão de festas do prédio de Monalisa e Bruno, mas nenhum familiar tinha sido convidado – provavelmente porque teria bebida a cada metro do salão de festas e maconha, porque os amigos de Mozart eram extremamente maconheiros. A festa de despedida de Mozart junto com sua família seria feita dali há catorze dias, no dia anterior a sua partida, e Ana Júlia tinha certeza que seria completamente diferente da daquela noite.

Mesmo tendo recebido o convite há três dias Anajú não tinha certeza se ia ou não. Seria uma festa coletiva de todos que iriam fazer o mochilão, o que significava que ela teria que encarar a Mozart e Carol, um do lado do outro como um futuro casal que combinava em todas as coisas. Nada que ela pudesse reclamar, já que estava entregando o garoto que amava de mãos beijadas para uma possível namorada. Ana Júlia só torcia que para o envolvimento deles fosse somente na viagem e que quando chegassem no Brasil não continuasse com nada – porque ela alimentava aquelas esperanças de que quando ele voltasse eles ainda estariam juntos.

Ana Júlia pensava se valeria a pena ou não sofrer e ver Mozart com outra garota ou se era melhor ficar em casa e imaginar os dois recebendo seus amigos como um casal feliz.

- Eu vou – ela disse, decidida. Agnes, que dividia a cama com ela a olhou e soltou uma risadinha, já imaginando o porquê de ela ir.

- Está com ciúmes imaginário? – Perguntou ainda rindo.

- Melhor eu ir e olhar o casal com meus próprios olhos do que imaginar cenas aqui na minha cama, sofrendo antecipadamente. Pelo menos lá vai ter comida para eu me empanturrar.

So(fria)Onde histórias criam vida. Descubra agora