Verso 20

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Nota: por favor, leiam as notas finais. Preciso falar com todos vocês!

Boa leitura!


           

Eu sei que eu não sou quem você sempre sonhou

Era noite temática na casa de Bruno e Monalisa. Eles tinham inventado essa nova tradição para fazer que pelo menos uma vez a cada quinze dias todos se juntassem para dar boas risadas, comer comidas gostosas e conversar até a madrugada. O casal sentia que a família precisava daquilo depois de todo o clima tenso que permaneceu sobre eles durante aquele longo e estressante mês que os fizeram passar pelos piores sentimentos. Não tinham sugerido que todos se encontrassem em sua pequena casa, mas sim imposto que cada um levaria um jogo, um prato muito gostoso e nada saudável e que juntassem todas as fofocas familiares para poder contarem de uma vez.

Ana Júlia particularmente adorava aquelas noites. Tinha acontecido uma daquela somente uma vez, na mesma noite em que se entregou para Mozart. Agora era o segundo evento e ela estava completamente animada e ansiosa. Uma coisa que Ana Júlia tinha começado a dar muito valor para aqueles momentos em família, eles a faziam se sentir ainda mais especial e encaixada. Eram dias únicos, quando ficava Bernardo e seu irmão, Matheus, Luísa, Bruno, Isabela, Monalisa, Mozart, ela e Agnes, a agregada, todos ali somente para conseguirem relaxar com a presença daquela grande família unida.

Parecia até cena de filme americano, quando no Natal todos vestem suéteres e trocam presentes, enquanto a câmera se afasta pela janela mostrando uma família feliz. Só que eles estavam todos no Brasil, aonde vestiam regatas devido ao calor e a neve era o suor de cada um, não um elemento da natureza; ao invés de trocarem presente eles passavam de mão em mão as vasilhas com comidas – a única semelhança, e a que realmente importava, era o sorriso no rosto de cada um, demonstrando uma felicidade de invejar muitas pessoas.

Algumas vezes ao dia Ana Júlia parava para pensar e se sentia grata aos deuses que a permitiram ter a vida que tinha. Mesmo com seus problemas – a morte dos pais quando era praticamente um bebê, a depressão quando era criança e agora o assédio, na adolescência/quase vida adulta  – nada de ruim tinha acontecido de uma forma que não tinha jeito, que a quebrara para sempre. Ela sentia como se tivesse ganhado na lotérica sem nunca ter jogado, já que tinha uma família que a apoiava em tudo e estava sempre ao lado dela quando precisava, uma melhor amiga que, mesmo que fizesse de tudo para protege-la e evitava qualquer tipo de saída que resultassem em contato com o mundo masculino, era uma das melhores pessoas na vida de Ana Júlia; e também tinha Mozart, que somente por sem quem era já fazia um jardim inteiro florescer dentro dela. As vezes ela se percebia perguntando o que estava acontecendo para tudo estar tão bom e perfeito e esperava algo ruim acontecer para lhe mostrar que não, a vida dela não era tão boa como nos filmes onde tudo dá certo. Mas depois mudava de pensamentos porque Ana Júlia acreditava naquela teoria de que coisas ruins atraem coisas ruins.

Como forma de comprovar que tudo estava realmente maravilhoso, ela se pegava tentando aproveitar enlouquecidamente todos os momentos com a família. Cancelaria fácil qualquer convite de qualquer pessoa do seu colégio para poder ir a uma consulta com Luísa, ou para cuidar de Isabela. Porém, Ana Júlia não era de ferro. Cancelaria fácil qualquer compromisso sério (como grupo de estudos para o Enem, ou uma consulta de rotina – nunca seu terapeuta) para encontrar com Mozart.

Ela estava apaixonada por aquele garoto, mais do que isso, era um amor fora do comum que a fazia se sentir nervosa e uma pré-adolescente perto de encontrar o crush de anos. Cada beijo era como se fosse o primeiro depois de muito tempo, cada carícia, carinho e abraços causavam sensações novas, mesmo sendo ações já conhecidas por ambos. Ana Júlia adorava a sintonia que Mozart tinha com sua família, parecia que ele sempre fizera parte daquilo. Mas, uma coisa que ela não podia negar, era que sempre ansiava pelos momentos em que eles passavam sozinhos. Quando nenhum dos dois aumentava o tom de voz e falavam bem baixinho um com o outro – e quando falavam, porque muitas vezes o único som que se escutava deles era os dos beijos, gemidos ocasionais e os batidas nos móveis que eles sempre davam no caminho do quarto por serem extremamente desastrados.

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