Você sem me notar
Ana Júlia e Mozart se sentaram em uma fileira no meio do cinema, que estava lotado do início ao fim. Em momento algum eles conversaram, apenas esbarraram as mãos ao pegarem pipoca e Ana Júlia ofereceu o chocolate para ele – que poucas vezes aceitou, já que não gostava muito de chocolate.
Ana Júlia se sentia ser observada em alguns momentos do filme. Sentia o olhar de Mozart em cima dela, passando pelo seu corpo. Mas assim que a garota virava para ele, o ex-namorado voltava a fitar o telão do cinema. Então era a vez de Ana Júlia analisar, de novo Mozart, olhava para a mão longa dele que estava apoiada no encosto do braço e pensava se seria muito estranho se ela tocasse ali, se cruzasse os dedos como fazia quando eram namorados. Se perguntava se ele faria círculos com seus dedos na palma da mão dela, só porque ela gostava, ou se ele daria beijos em alguns momentos só para mostrar que estava ali, que ainda gostava dela.
Mas em momento algum ela encostou na mão dele, teve que se segurar, mas não fez. Não teve coragem, não queria arriscar fazer algo de tamanha proporção e ser rejeitada. Se imaginava encostando na parte de cima da mão dele, e ele logo a movendo para o colo, fugindo do toque de Ana Júlia. Provavelmente Mozart não faria aquilo, mas a hipótese da rejeição já fazia o corpo da garota murchar de medo e tristeza.
Ela prestou atenção no filme o máximo que pôde e conseguiu, ignorando a força que a puxava cada vez para mais perto de Mozart. E por mais que Ana Júlia não fosse a maior fã de filme de super-heróis, ela tinha amado tudo que assistira da Mulher-Maravilha. Era um filme completamente empoderador e criava uma força feminina enorme dentro de todas as mulheres que assistiam, que saiam da sala do cinema com o pensamento de que conseguiam fazer tudo que quisessem.
Saíram da sala em silêncio, parecia que tinham passado vinte dias desde a última vez que eles conversaram. Mas Ana Júlia queria demais conversar com Mozart não somente sobre o filme, mas sobre o que ele tinha dito antes de entrar na sala de cinema – queria saber se por ele ter dito que não tinha esquecido o que ela gostava de comer no cinema significava que ele também não tinha esquecido o sentimento por ela, ou somente alguns dos hábitos da garota (torcia enlouquecidamente para que ele se lembrasse do sentimento por ela, daquelas três palavras que alguns meses atrás Ana Júlia não tinha deixado ele falar, mas que agora ansiava por escutar).
- Você vai embora como? – Mozart perguntou, quebrando o silêncio e fazendo todos os pensamentos de coragem de Ana Júlia sumir com o vento.
- Preciso ligar para Luísa, mas meu celular descarregou – ela pegou da bolsa o celular e viu que realmente ele estava mortinho. – Você pode me emprestar o seu?
- Claro – Mozart pegou o celular e entregou para Ana Júlia.
A garota tentou colocar o antigo código de desbloqueio do celular dele, aquele que ela tinha decorado já que era a sua data de aniversário. Tentou duas vezes, mas ambas apareceram um aviso de senha incorreta. Ana Júlia sentiu seu rosto inteiro corar e subiu o olhar para Mozart, que parecia completamente distraído. Ele tinha todo o direito do mundo de ter mudado a senha do celular já que eles tinham terminado, ela repetia dentro da sua cabeça que aquilo não significava nada, apenas que Mozart era uma pessoa completamente normal. Mas doía tanto que a garota sentia vontade de gritar, bater os pés no chão e voltar no tempo para o dia em que eles estavam em seu quarto, no último dia de namoro dos dois.
- Hm... – Ela sentiu a garganta ficar seca, deu uma tossida para atrair a atenção de Mozart e continuou. – Preciso da senha – ela entregou o celular de volta para ele, que logo digitou quatro números (que Anajú tentou ver, mas não conseguiu reparar quais eram).
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So(fria)
ChickLitÚltimo livro da série 'Parênteses'. Para ler esse você NÃO precisa ler o primeiro ou o segundo, mas receberá alguns spoilers do que aconteceu em "En(tre)cantos" ou "(Amar)elo". ∞∞∞∞∞∞∞∞ Ana Júlia definitivamente não é mais uma criança. A...