So(fria)

Verso 8

           

Oh, Ana Júlia

Depois da fatídica festa em que Ana Júlia e Agnes tinham ido somente para darem boas risadas, as garotas voltaram para casa completamente frustradas com o que achariam que seria maravilhoso, mas se mostrou completamente infantil. Quando elas iam para festas universitárias tinham em mente encontrar garotos maduros, que antes de tentarem algo, tentariam conhece-las melhor para pelo menos saber o nome de cada uma. Só que isso não estava dando certo – pelo menos não nessas últimas festas que elas iam.

Já não bastava Ana Júlia encontrar o pior ex-namorado que ela teve na vida, a pior pessoa do mundo inteiro para ela. A sorte foi ter sua melhor amiga ao lado e poder sair daquela situação desesperadora como alguém superior. A expressão de Paulo quando ela apresentou Agnes como sua namorada foi impagável, um misto de choque, surpresa e até um pouco de raiva. Já com a melhor amiga, no meio da pista de dança, enquanto tentava curtir a festa dançando (uma das coisas que ela mais gostava de fazer para relaxar), as coisas foram completamente diferentes. Agnes sentiu pelo menos três diferentes caras passarem de maneira nada educada por ela, tentando encostar em tudo que eles conseguiam. Para ela aquela festa estava tão horrorosa quanto para Ana Júlia.

Por chegarem bem mais cedo do que o esperado e com muita fome e pouco álcool no sangue. Elas passaram no mercado e compraram duas latas de leite condensado para poderem passar a madrugada comendo brigadeiro e beijinho e roubaram uma garrafa de vinho do estoque praticamente intocável de Bernardo para deixarem a noite mais divertida e mais leve enquanto conversavam e assistiam a séries.

Ana Júlia passou boa parte da madrugada contando toda a história de Paulo em sua vida para a melhor amiga. Desde o começo, a sua primeira paixão, até o momento do térmico e a depressão que a consumiu enquanto sua irmã viajava e que ainda batia a sua porta em alguns dias. Ela não tentou parecer forte para Agnes, não mais. Sabia que precisava ter uma amiga para poder contar, para se abrir e não ser um enorme túmulo fechado e cheio de segredos. Não guardou nenhum sentimento e liberou todas as lágrimas que ameaçaram cair e em momento algum foi julgada por isso. Pelo contrário, Agnes a apoiou e deu suporte para todas as palavras tristes que Ana Júlia desabafava.

Depois de quase uma hora inteira de lágrimas, uma garrafa de vinho seca e quase a metade dos brigadeiros devorados, elas se ajeitaram na cama de Anajú e começaram a assistir "amizade colorida", rindo alto demais devido ao alto teor de álcool no sangue das duas e sonhando acordada com um homem maravilhoso como o Justin Timberlake – e também com a maravilhosa da Mila Kunis, porque uma mulher como ela não era de se recusar.

Dormiram como pedras que não acordavam com nenhum possível barulho, mesmo com Luísa acordando cedo e andando de um lado para o outro gritando com Bernardo. Não acordaram quando ela entrou no quarto e começou a fazer uma limpeza pela bagunça que estava no chão e nem quando Luísa deixou a garrafa de vidro do vinho quebrar inteirinha no chão – muito menos Bernardo resmungando de um lado para o outro chateado por elas beberam um dos seus melhores vinhos da coleção.

Só acordaram perto da hora do almoço, não por conta do barulho, mas por conta do maravilhoso cheiro de estrogonofe. Elas acordaram juntas, sem nenhum momento de timidez da parte de Agnes por acordar antes da amiga. Elas estavam com dor de cabeça devido ao vinho e muita preguiça, mas tinham que estudar física durante a tarde toda já que era a condição imposta por Ana Júlia quando decidiram ir para a festa da noite anterior.

Elas desceram para a cozinha ainda sonâmbulas e parecendo dois zumbis quando deram de cara com toda a família de Ana Júlia espalhada pelo cômodo, cada um com uma função. Não estava somente Luísa e Bernardo, mas também Bruno, Monalisa, Isabela e até Mozart – para desânimo de Anajú e felicidade de Agnes que ainda torcia loucamente por aquele casal.