Minha mão pequena bate no vidro do carro, nos meus braços se destacam as várias queimaduras de cigarro. A chuva forte ensopava minha camisa e o short, qualquer dia a pneumonia me faria tossir até a morte.
Uma moeda, um passe me livrava do inferno.. Me faria chegar em casa e não apanhar de fio de ferro. O meu playground não tinha balança, escorregador nem nada disso!
Só minha mãe vadia perguntando quanto que eu ganhei.Todos os dias ela jogava na minha cara que tentou me abortar, que até tomou umas 5 injeções pra me tirar.
Quando eu era nenê tentou me vender uma pa de vez e que quase fui criado por um casal inglês!Olho roxo, escoriações, porra, o que foi que eu fiz? Pra em vez de tá brincando tá colecionando cicatriz...
Porque ela não pensou antes de abrir as pernas? Filho não nasce pra sofrer, eu não pedi pra vir pra Terra.Minha goma era suja, louça sem lavar, seringa usada, camisinha em todo lugar... Ela tinha os cabelos despenteados, bafo de aguardente... Era raro quando a mesma escovava os dentes. Várias armas dos outros muquiadas no teto, na pia mosquitos, baratas, disputavam os restos.
Cenário era ideal pra chocar até a UNICEF! Meu habitat natural era onde os assassinos crescem, e foi lá onde eu cresci.Eu não queria Playstation nem bicicleta, só queria ouvir a palavra: filho da boca dela, ou algo do tipo.
Queria ouvir o grito da janela: a comida tá pronta! Não ser espancado pra ficar no farol a noite toda!Qualquer um oraria pra Deus pra pedir que ele o ajudasse, a ter dinheiro, felicidade, saúde ou coisas parecida. Mas eu não, eu orava pra pedir coragem e ódio em dobro... Queria amarrar minha mãe na cama por querosene e meter fogo!
Outro dia a infância dominou meu coração, gastei o dinheiro que eu ganhei com um album do Flamengo.
Queria ser apenas uma criança normal que ninguém pune, que pula amarelinha, joga bolinha de gude. Cansei de só olhar o parquinho ali perto, senti inveja dos moleque fazendo castelo... Entao eu resolvi ir ate la, foda-se se eu vou morrer por isso! Obrigado meu Deus por apenas um dia de sorriso.A noite as minhas costas arderam no coro da cinta, ela tacou minha cabeça no chão e batia.. batia... me fez engolir figurinha por figurinha, espetou meu corpo inteiro com uma faca de cozinha.
Após ela parar com sua sessão de tortura, eu olhei pro teto e vi várias armas num pacote, subi na mesa catei logo a Glock.
Eu queria me matar, sim, queria tirar a minha própria vida, mas eu não faria o que ela sempre quis.
Ao invés de me matar, eu a matei!Você a quem o unico papel devia ser apenas cuidar de mim, cuidar de mim, cuidar de mim...
Não me espancar, torturar, machucar ou me bater. Eu não pedi pra nascer!Após esse dia a minha vida piorou, eu me tornei esse monstro que hoje sou. Destestavel e deplorável!
Se foi difícil pra mim apenas uma criança de 12 anos esconder o corpo da própria mãe? Foi sim, mas eu dei conta.Sai daquela casa, em que as lembranças me vinham a todo momento. Vaguei pelas ruas do Rio de janeiro sem rumo.. Durante dias andei sem destino, passei pela Febem, até que encontrei o meu lar, e futuramente o meu reino. Ah, o complexo da Coréia... Meu mais novo e infinito lar!
Prólogo atualizado,
18 de setembro
2017