58

17.7K 1.6K 215
                                    

Elivelsson

Morrer! Era isso que eu preferia, papo reto. Estou me sentindo um nada! Impotente, inválido, um lixo, dependendo dos outros pra tudo.

Porra, quando o doutô me mandou aquele papo eu fiquei sem ação, fiquei sem chão mesmo! Ficha não caiu no dia, foi cair com os dias.

Foi com o passar dos dias que eu não consegui levantar, que eu permaneci deitado vendo o mundão de um ângulo completamente diferente.

Várias coisas passaram na minha cabeça mesmo e em varios momentos eu questionei a Deus o porquê disso tudo está acontecendo comigo. Qual é?

Eu nao merecia isso não pô, apesar da vida que eu levo/levava eu não sou tão miserável assim não. Não merecia ficar condenado a invalidez.

Pra quem sempre aprendeu a se virar desde menor, sozinho, pra quem sempre correu com as suas próprias pernas, depender das dos outros pra tudo é revoltante!

Já tenho um tempão no hospital já iniciando o tratamento lá. Foram alguns dias levantando a cabeceira da cama aos poucos para me acostumar de novo com a posição, porque dava muita falta de ar no bagulho!

Nessas horas era foda, muito foda... Eu fechava meus olhos pô. Preferia fechar meus olhos e deixar as lagrimas caírem silenciosamente do que ver a cara de pena dos outros e a da minha mulher tentando segurar o choro.

Thauanny teve que aprender até a fazer cateterismo (retirar a urina com uma sonda de 6 em 6 horas) e a me dar banho deitado em uma maca fria.

(....)

Thauanny: Olha, já estamos chegando mor!  - apontou pra fora do carro.

Já estava voltando pra casa, mas nem queria. Meu coração tava a mil, na minha cabeça só passavam as cenas deu entrando e saindo da comunidade.

Do dia que eu pisei meus pés aqui pela primeira vez, do dia que eu fui alvejado e de agora... Desse momento em que eu estou voltando em uma cadeira de rodas!

Thauanny: Pode entrar moço, tem problema não. - disse ao motorista.

Continuei em silêncio, apenas observando tudo e martelando várias idéias na minha mente.

Thauanny: Tu nem pergunta pela tua filha né? - me cutucou.

Eli: Cadê ela?

Thauanny: A Luna vai trazer ela mais tarde, quando a gente se ajeitar.

Eli: Uhum..

O carro parou e a Thauanny desceu no carro rápido e começou a tirar as sacolas de dentro, enquanto eu fiquei lá dentro quieto.

Thauanny: Moço, da pro senhor me ajudar a tirar ele ?

Xxx:  Da sim minha filha.

Virei a cara enquanto eles retiraram a cadeira e em seguida tentaram me carregar, mas foi impossível só pros dois.

Thauanny: Vamos tentar de novo... - insistiu.

Xxx: Ele é muito pesado. Arranja mais alguém pra ajudar moça. - a encarou.

Thauanny: Pera... Eu vou na boca ali perto chamar os meninos pra ajudar, pera.

Ela nem me olhou pra falar isso, acho que ela já sabia qual seria minha reação. Ela apenas saiu andando rápido e voltou alguns minutos depois ao lado de dois soldados.

Eles me olharam com pena, tristeza e falaram comigo logo em seguida. Mas aquilo só me deixou pior...

Xxx: Da uma ajuda aí cara, tá pesado pra caralho. - brincou comigo.

Eu permaneci quieto, apenas fechei meus olhos e deixei as lagrimas rolarem enquanto eles me carregavam.

Thauanny: Coloca ele aqui na cadeira, colega. - disse e eles me sentaram ali. - Obrigada mesmo, de verdade.

Xxx2: Por nada pô... Aí, Eli. Tu vai ficar bem cara. Deus tá com nós, tu vai ficar bem pacero. Fica com Deus aí! - tocou no meu braço.

Os meninos foram embora e o motorista também. Thauanny arrastou minha cadeira entrando em casa enquanto as pessoas que pssavam pela rua olhavam a cena.

Thauanny: Eu vou guardar as coisas, tá bom? Quer deitar? Daqui a pouco nossa neném tá aí. - sorriu. - Luna disse que ela toda hora pergunta por você. - limpou minhas lágrimas.

Eli: Tô suave... - respondi curto e grosso.

Ela me encarou por algum tempo, mas eu desviei o olhar encarando qualquer outra coisa que não fosse ela.

Então ela saiu com as sacolas em mão e me deixou ali, imóvel, sem poder levantar. Inválido!

Tava com saudades da minha filha, mas te falar? Eu tava com medo também! O que eu iria falar pra ela? Qual seria a reação? Tomar no cú! Que ódio!!

REDENTOR  (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora