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Coréia

Ouvi cada palavra da mãe Ana, na maior concentração. Atento mesmo em cada dizer, enquanto na minha cabeça minha ideia perpetuava, não vou mentir!

Ela me disse um monte, um monte mesmo, pô. Teve coisa até que eu não entendi, mas deixa estar...

Mesmo assim eu percebi que não era tudo! Tu sente, tá ligado? Tu sente quando não é tudo que está sendo explanado pra tú.

Isso é foda, rapá! Tua mente já bola várias idéias e neuroses... Me esfrio logo, fico todo desconfiado, neuroticão mesmo, papo reto.

As paradas do meu jeito ela me fala sempre, já tô até ligado. Mas não posso fazer nada não, papo reto mesmo! Sou isso, sou assim.

A maldade já tá na minha mente à muito tempo e o ódio no coração também. Se instalou, já foi... Não tem como mudar!

Já foi irmão, fudeu... Sociedade me criou, minha própria mãe me machucou, as ruas me deram vez junto com o tráfico e e aqui eu estou, sem mais...

Aprendi a ser assim, a vida me fez ser assim. Não queria ter vivido tudo que eu vivi não, queria ter tido uma infância, adolescência normal, mas não tive...

Voltando ao assunto da obirin... A minha idéia tá batendo, ela tá fazendo coisa pra mim mesmo, tô ligado nisso.

Mãe Ana que não quer contar, pois sabe que se confirmar pra mim eu vou machucar de verdade. Nada passa abatido e nem pode!

Tem essa não! De maldade pro meu lado não cola, ninguém se cria não pô. Corto logo... Ninguém se cria!!!

Nunca tive essas idéias comigo pô, sempre fui de boa, agora tô viajando em mulher, deixando entrar na minha mente. Porra nenhuma, rapá! Tomar no cu. Ela vai confundir a mente de outro, essa bruxaria vai sair na marra!

(....)

Tava em uma base resolvendo várias tretas, vida tá corrida irmão. Lazer é quase nunca. Só pica pra resolver... Ser frente de favela é o bicho.

Assim que deu um tê, chamei um cria e passei meu papo pra ele. Ele era do mesmo axé que o meu, então entendia dos trabalhos.

Coréia: Tu tá entendendo o que tá na porra do papel? - ele assentiu. - Tu compra o milho branco, faz ou manda alguém fazer, fechou? Trás a noite, bagulho sem falta, mané. - o encarei. - Quero atraso nessa porra não! - entreguei umas notas de cem pra ele.

Xxx: Pô... Tu quer quantos mais ou menos?

Coréia: Meia dúzia, cara. Já tá de bom tamanho! - ele assentiu e saiu saindo.

Col foi, sou de dentro e não sou besta... Se eu tô achando que tá pegando algo, vou me fechar mesmo pra essa porra bater e voltar.

Nem quero mais ver aquela garota, vou me sair dela mesmo, nem que seja a força.

Bagulho estranhão que ta pegando comigo, sei nem explicar essa porra direito. Que nada...

Tô sentindo umas paradas estranhas, as vezes fico com raiva de mim mesmo por isso, pô. Até monitorar a pastora, eu tô. Que nada... Nunca quis rastrear boceta! Não fode.

Mas é isso, vou dar rl. Se minha mãe nao quer fazer, eu mesmo faço. Nao tem k.o, mermão! Passei a visão e dei uma grana pro cria comprar o milho branco. Só banho pra dentro mais tarde! Xô feiticeira do caralho, vai se foder pra lá com amarração.

(....)

Quarta feira pegando e eu já reuni meus seguranças. Vou sair vazado desse favelão, partir pro morro aliado espairecer a mente, pô.

Que nada... Deu em nada o que eu tinha em mente, deu em nada meus trabalhos, cara. Ontem mesmo chamei a desgraçada pra jogo. Só ódio! Só ódio...

Porra, tô ficando doido, cara. Nem tô me entendendo. Bagulho estranho pra caralho, coisa louca!

Vou atravessar a pista na madrugada, ganhar o meu, mermão... Manter distância dessa feiticeira do caralho.

Pixta fica limpa, só progresso e segurança pro bonde. Mas é aquilo né? Se tentar, caí. Disposição aqui não falta!

Final de semana vai rolar aniversário de um chegado de lá e já grudo uma coisa na outra... Uma viagem só!

Sai daqui era 3:40 pô, madrugada boladona no favelão. Na rua só tinha os meus mesmo. Um comboio com cinco carros e mais dez motos me acompanhando. Tudo forte, pesadão!

Coloquei minha conta por dentro do roupa e conforme eu ia passando pelas pistas, eu pedia licença ao dono dos caminhos... Agô!

Agô: Licença!

REDENTOR  (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora