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Um mês depois...

Denner: Passa pra mim.. - pedi o cigarro.

Leozinho: Ih, Denner.. Sai fora! Essa porra aqui não é de graça não, eu comprei. Pra usar tem que pagar, pô.

Denner: Qual foi cara, vai negar um tapa?

Leozinho: Vou.. Tu já tá viciadão na maconha, se lembra da outra vez que tu se viciou. - disse rindo.

Acho que eu já tinha meses aqui, não sei ao certo. Quando tu vive na rua tu perde a noção dos dias, das horas. Tu só sabe que é manhã quando tá sol e só sabe quando é noite, quando escurece.

Eu agora estou diferente, sinto que estou mudando, aprendendo. Viver na rua é perigo puro! Estou me tornando arisco, cismado, alerta.

Já passei por poucas e boas.. Já tomei esculacho de cana, porrada, vassoura de comerciante e tudo mais.

Ninguém tem pena da gente não, ninguém quer saber porquê moramos na rua!

Eles nos tratam como animais, nos olham com nojo. Nós fazem nos sentir como lixo e inferiores a eles.

Se a gente estiver em uma calçada, eles passavam por outra, se a gente estiver em um banco eles não se aproximam, se a gente entrar em um mercado pra comprar alguma coisa, eles nos botam pra fora!

Independente da gente ter dinheiro ou não, isso nao conta. Só pelo fato de ser morador de rua pra eles não presta.

Sobre o que o Leozinho falou, foi verdade. Eu fiquei viciadão na cola mesmo. Depois que inalei a primeira vez não queria mais parar!

Só parei depois que fui parar no hospital. Lembro como se fosse ontem desse dia. Eu fiquei o dia todo cheirando.. Eu cheirava sem parar!

A cola me trazia outra dimensão, sabe? Me fazia fugir da minha realidade e das lembranças da Elza que ainda insistem em me perturbar.

Eu ficava anestesiado, muitas vezes não sentia meu corpo e nem conseguia me mover.

No dia que eu fui parar no hospital eu apaguei de tando inalar. Fiquei dois dias internado e quando inventaram de chamar o conselho tutelar eu fugi.

Voltei pra cá e fui apresentado a maconha. Ela é mais leve, deixa apenas meu corpo suave e me faz querer rir de tudo!

Fico feliz, danço até na chuva quando fumo e ela também me leva pra distante daqui.

Eu me imagino uma criança normal, não esse lixo que eu sou.. Um monstro que matou a própria mãe.

Leozinho: Denner? - me gritou.

Denner: Oi. - o encarei.

Leozinho: Tamo falando aqui, pô... Eu acho que tu já tá na hora de partir pra pista.

Denner: Que pista?

Elivelsson: Fazer assalto, Denner. Roubar as coroas, pô.. Ganhar nosso pão de cada dia! Nossa cara já tá manjada e a tua ninguém conhece.

Leozinho: É sim.. E com o dinheiro que tu conseguir a gente compra mais, pô. - me entregou o cigarro e eu fumei. - Vai dar pra gente comprar até pó. - sorriu.

Denner: Não sei, isso não é certo não. - tossi com a fumaça.

Elivelsson: Qual é, Denner? Tu falando do que é certo ou errado agora? Tu já foi.. Voce é menino de rua, porra! Não existe limites pra nós! Temos que sobreviver na selva, porra. Se ninguém da chance pra nós trabalhar, único jeito é roubar.

Era verdade, tudo que o Elivelsson falou era a mais pura verdade. Nós não temos oportunidade de nada..

Mas mesmo assim eu não queria fazer isso. Eu já fui assaltado e sei o quanto é ruim.

Pensa aí, tu tá com um dinheiro que ganhou ou trabalhou com todo sacrifício e vem um fdp e te roupa? Isso é revoltante! Não sei se quero fazer isso com os outros não.

Denner: Eu não sei, não sei não.. Eu.. Vou pensar se quero entrar nessa. - me levantei e fui caminhar.

REDENTOR  (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora