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Peguei minha quentinha e caminhei até a mesa no fundo do Refeitório sendo guiado por vários olhares, inclusive o do "dono" daqui.

Ontem no baba ele implicou comigo e só chegava com entrada pesada pro meu lado. De cansado de só tomar porrada, fui pra cima dele, mas os meninos separaram.

Me sentei na mesa e joguei a quentinha em cima da mesma. Tirei a tampa que cobria e era um feijão preto.

Tirei o garfo plástico do saquinho e coloquei na comida pra dar a primeira garfada. Quando então um menino se levantou chamando a atenção de todos.

Xxx: Licença aí rapaziada, na humildade. Queria pedir pra todo mundo levantar e fazer aquele agradecimento e oração do dia aí, firmeza? - todos assentiram e se levantaram.

O Marquinhos que estava do meu lado ficou de pé, o Elivelsson a minha frente também e todos que estavam no refeitório assim fizeram.

E eu? Eu sentado estava, sentado fiquei. Agradecer pra quê? Por estar nesse inferno? Por ter a vida de merda que eu tenho? Não fode!

Elivelsson: Denner, levanta. - disse baixo me cutucando.

Denner: Vai se fuder.. Vou levantar não! - comecei a comer.

Elivelsson: Todo mundo te olhando cara. Tu foi o único que não levantou..

Denner: Tô nem aí. - continuei de cabeça baixa comendo.

Eu podia sentir o olhar de todos sobre mim, mas eu não estava nem aí. Continuei comendo o meu rango e o menino iniciou a oração dele lá

Xxx: Primeiramente eu queria agradecer a Deus pelo prato de comida aí na nossa mesa, se ligou? E queria pedir que ele olhe por nossos famíliares que estão lá fora e que chegue paz e liberdade pra nós! Agora vamos fazer um pai nosso aí na humildade. - começaram a rezar.

Depois de terminar o pai nosso, todos se sentaram novamente e eu continuei com a cara no prato comendo.

Elivelsson: Denner? - sussurrou. - Ele tá vindo pra cá, se liga! - levantei minha cabeça.

O pivete que se acha o "dono" daqui estava vindo em direção a minha mesa junto com os seus comparsas.

Xxx: Qual foi? Tu se acha o bicho solto mesmo né? - bateu na mesa.

Nem liguei continuei comendo e ignorando a presença dele. Mas não satisfeito, ele puxou a minha quentinha jogando a mesma no chão.

Denner: Porra! - me levantei.

Xxx: Agora tu se levanta? Na hora de orar tu ficou tirando onda né pau no cú? Abaixa sua bola, pô. Tu se acha demais e desfaz dos outros.. Fica esperto fodão, se não tu vai virar viado aqui. - apontou o dedo na minha cara.

Denner: Tira o dedo da minha cara! - bati no dedo dele. - Vai tomar no cú, rapa.

Só foi eu fazer isso que ele já caminhou em minha direção e eu claro não abaixei a guarda.

Foi soco certeiro... Ele deu um no meu estômago dei outro na cara dele e a gente caiu no chão trocando luva.

Em questão de segundos a gritaria já estava formada e todos estavam ao nosso redor.

Ele deu dois socos na caixa dos meus peitos que eu fiquei sem ar na hora. Mas quando eu consegui recuperar o ar, fiquei por cima e joguei uma sequência na cara dele.

Xxx: Que porra é essa? - de longe ouvi alguém gritar.

Senti quando me deram uma gravata por trás e me tiraram de cima dele.

Denner: Me solta, porra! - gritei.

Me debati gritando pra me soltarem e na mesma hora tomei uma joealhada na coluna.

Guarda1: Abaixa a bola, filha da puta! Aqui não tem bagunça não meu bom.. - saiu me puxando.

Denner: Me deixa, ele que começou.. - gritei.

Guarda1: Quero nem saber.. Quem vai se fuder é tu, pra aprender a chegar no sapatinho. Ô, Nonato? Desce o pau nesse filha da puta e depois joga no isolamento.

Guarda2: Pode deixar. - me pegou pega camisa.

Nem deu tempo de respirar... Ele me jogou no chão, pegou um pedaço de madeira e começou a me bater.

No intervalo entre as madeiradas era só soco e chute por todo o corpo mesmo enquanto eu gritava e chorava!

Guarda2: Para de gritar, filha da puta! - deu um chute em minhas bolas.

Me contorci mais ainda de dor ficando em posição fetal e ele então segurou no colarinho da minha camisa me arrastando.

Ele abriu a porta e entrou em um corredor escuro. Ao fundo do corredor tinha uma porta grande de ferro.

Paramos em frente daquela porta e ele abriu a mesma me jogando lá de qualquer jeito.

Abri meu olhos e não enxerguei nada... O cheiro era insuportável e o calor também.

Não tinha luz naquele lugar e o silêncio era quase total, a não ser pelos ratos que estavam ali e faziam zuada.

Sentia meu corpo inteiro doer, mas ao mesmo tempo senti medo! Comecei a gritar e me debater pedindo para que me tirassem dali, mas ninguém me tirou.

Me sentei no canto e encolhi minhas pernas apoiando meus braços em cima. Fechei meus olhos e as lágrimas começaram a descer por meu rosto...

O que eu fiz pra merecer tanto sofrimento desde que nasci? Porque essas coisas acontecem comigo? Porquê a minha fazia aquelas coisas comigo?

Denner: Porquê? Porquê tudo pra mim tem que ser assim? - comecei a gritar. - O que você fez comigo mãe? O que você fez? - chorei. - Porquê você me deu a vida pra eu sofrer? Porquê não me matou?! Porra!!! Porra!! Eu não aguento mais.. Eu não aguento.. Eu nao como, eu nao vivo.. Eu não sou nada! Mesmo com você morta eu continuo sofrendo.. - chutei a parede. Eu nunca fui nada, mãe.. Sempre me fudi! Olha onde eu tô, olha o que você fez comigo.. Eu tô preso igual a um bicho.. Igual um monstro, mãe. - coloquei minhas mãos na cabeça. - Era isso que você queria? Isso não presta! Isso tá acabando comigo! Isso tá me destruindo... - gritei. - Isso tá acabado comigo! - respirei - Mas eu vou ser alguém na vida, isso vai mudar!!! Isso vai mudar... - gritei.

REDENTOR  (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora