HONG JONG HYUN X CAMILA

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Hong Jong Hyun. Mais um nome para algoz, mais um homem para se ter medo. 

Não que não tivéssemos medo de muita gente dentro de um campo de concentração. 

Mas existia algo de mais perigoso em específico nele, aquela faísca que saia dos seus olhos quando olhava para mim, e a faísca que eu sabia que saia dos meus também. 

Isso era absolutamente perigoso. 

Diziam que a nossa situação ali era melhor que no lado dos homens, afinal nós recebíamos mais comida e o trabalho apesar de pesado não nos levaria a exaustão, pelo menos não a maioria. 

Mas não parecia que era isso que meus ouvidos capitavam toda noite. Todo dia, às nove ou algo perto disso os oficiais começavam a vir, cada um escolhia uma garota e elas não voltavam até o amanhecer. 

A maioria das vezes elas retornavam machucadas, chorando e humilhadas. 

Digamos que trabalhar até a exaustão é melhor do que perder sua honra. 

Ser estrangeira ajudava nessas horas, ninguém queria a estranha, graças a Deus por isso. Me esconder bem no dormitório úmido também ajudava. 

Hong Jong nunca veio buscar nenhuma garota, mas isso não me fazia "admirá-lo" mais que os outros.

Ele era quem mandava aqui, o que queria dizer que nada ali acontecia sem o seu consentimento, o que nos trás a informação que cada uma ali não passava de um espólio de guerra para ele. 

Isso me fazia o odiar mais que tudo. 

Mas ainda existia aquela faísca.

E então ele apareceu em uma noite, não me viu mas sabia meu nome então o chamou. 

Infelizmente não podia me esconder de um chamado, acho que nunca senti tanto medo na vida. 

Até sua voz era coberta por cicatrizes. Ela era capaz de cortar meus ossos, e cortou. 

Fui guiada até seus aposentos, ele apenas abriu os primeiros botões da camisa e se sentou. 

Passamos doze horas seguidas nos encarando. Nenhum sono foi capaz de interferir naquela conversa silenciosa que estávamos tendo, aquela batalha que decepa membros sem armas afiadas, pelo menos não de metal.

Aquilo de alguma forma nos levou a beira do precipício. 

Meu trabalho foi dobrado, talvez eu tenha dormido algumas noites ao relento por não ter forças para voltar ao dormitório. 

E novamente fui levada até o lugar dele. Hong Jong se aproximou mais dessa vez. 

-Isso é torturante. - Crio coragem para falar. 

-O que? - Novamente sinto meus ossos em pedaços. 

-A eletricidade entre nós. 

Então se aproximou mais, quase encostou sua pele na minha, roçou os lábios nos meus, mas não efetivou nenhum toque. 

Me condenei até a última sentença por querer tanto que ele tivesse concluído seus movimentos e sucumbisse a um desejo tão descaradamente estampado em seus olhos.

Mas ele ainda tinha estômago para as torturas, estupros e eventuais mortes que aquela terra regada de sangue era testemunha. 

Encarava a tudo sem desviar os olhos, muitas vezes comandava as ações na procura de qualquer coisa que eu com certeza não me interessaria em saber. 

Mais trabalho para mim. 

Fui jogada contra a água, contra os aterros e tantas outras coisas. 

Desejei secretamente que ele me deixasse no frio, aguardasse até a neve me cobrir, assim eu não poderia me mover, estaria apenas embutida no gelo. 

Talvez isso fizesse o que todo o resto não pode: sobrepujar a faísca. Aquilo cansava nós dois, eu podia ver.

Mais noites nos encarando se passaram até o ponto de eu não poder mais negar que o queria tanto que doía mais do que qualquer tortura, doía mais ainda ter coincidência de que era recíproco. 

Talvez tivesse sido maldade do destino ter nos colocado de lados opostos em uma guerra, de qualquer modo era mais fácil culpá-lo. 

Continuaria a detesta-lo. 

Cheguei ao meu limite enquanto cavava mais um aterro e era observada a distância por ele. 

-Quer saber, jogue-me nesse aterro, jogue-me em um cova de terra, mas não pense sobre as consequências, nem sobre as escolhas que você faz. - Tremo de frio. - Empurre-me para o mar, não se preocupe com os respingos que eu vou causar. Só não deixe isso continuar assim. 

-Você está absolutamente fora de si. - Afirma e se aproxima um pouco. 

-Então me deixe nos trilhos para esperar até que o trem da manhã chegue. - Choramingo. - Não se atreva a olhar para trás, vá embora, corra para alcançar o sol nascente. 

Hong Jong parece receoso em se aproximar, mas não o para. 

-Isso é torturante. - Repito. 

-A eletricidade entre nós. - Completa para mim. 

-E é perigoso. - De algum lugar ainda tenho uma reserva de água para derramar lágrimas. - Por que eu quero tanto você, mas eu odeio as suas entranhas. - elevo minha cabeça para poder encará-lo nos olhos, ele está tão próximo agora. - Eu odeio você. 

-Não ache que meus sentimentos são diferentes. - Pede. -Não me odeio por não sentir dor. 

Fecho meus olhos e me lembro de querer abaixar a cabeça, mas ele não deixa. 

Sinto as mãos calejadas por armas, com uma delicadeza recém descoberta, em meu queixo, o mantendo erguido em sua direção.  

Algo nunca pareceu demorar tanto para chegar ao seu destino como a boca dele para alcançar a minha. 

A sensação de ter os lábios finos colados a mim era como eu imaginei e além. 

Nunca me senti tão bem incluída a algo, meu corpo nunca se encaixaria tão bem a outro quanto se encaixou ao dele. 

Naquele momento simplesmente parecíamos peças de um quebra-cabeças feitas uma para combinar perfeitamente com a outra. 

Mas assim que abrimos novamente nossos olhos realizamos que fazíamos parte de jogos completamente diferentes. 

Então ele se afastou de novo, deixando-me na chuva. 

Esperou até que minhas roupas se agarrassem ao meu corpo, limpando as minhas lágrimas e algumas dele. Tinha certeza de o sentir chorar contra a minha pele, mesmo que pouco. 

Aquele contato poderia ser comparado com a sensação de quando enfiamos algo de metal nas fissuras de uma tomada. 

A energia passava bem por um bom condutor, nesse caso ambos éramos fonte de energia e também ótimos condutores. 

Causara prazer e contentamento, mas também ardia e queimava na mesma intensidade. 

Hong Jong voltou antes do sol nascer. Eu já me sentia doente, doente pela chuva, doente por ele. 

Sua expressão era dolorosa de se ver, ele parecia não ter gostava de me ver assim tão debilitada. 

-Pensei que você havia dito que não sentia dor. - Sussurrei para ninguém além de mim, mas estava convicta de que ele também ouvira. 

Depois disso não sei muito bem os caminhos da guerra, não importavam mais. 

De repente Hong Jong não tinha mais tanto estômago como antes, então os oficiais não invadiam mais os dormitórios e a terra não cheirava mais tanto a sangue. 

Não passávamos mais a noite toda nos encarando, também não me envergonhava por querer tanto que ele me tocasse e não doía mais saber que era recíproco. 

As coisas simplesmente ficam mais fáceis depois da auto aceitação, principalmente se isso incluía tê-lo para mim sem arrependimentos. 

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