MARK (NCT) X FANNY

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Começava a sentir meu cérebro atrofiar, não era como se ainda entendesse as relações humanas.
Acho que essa era a intenção quando me tiraram o direito de ser humana.
Isso se perdia dentro de mim, caindo cada dia mais fundo a cada semana que me envernizavam e tornavam meus membros mais duros sobre as sapatilhas de ponta dura.
Observei a vida dos meus carcereiros dia após dia por trás do vidro daquela cúpula.
O que poderia ser mais encantador do que um globo de neve com uma bailarininha que toca violino no centro girando sobre o suporte?
Talvez um em tamanho real com uma bailarina de verdade.
Já vi muitos entrarem e saírem dali, alguns eram clientes, outros as encomendas.
O mais novo "boneco" ali era um garoto de cabelo berinjela que insistia em dizer que se chama Mark.
Ninguém ali tinha nome, e ele era o único que demorou tanto para entender isso, ou a protestar por tanto tempo.
-Ei, bailarina, qual é o seu nome?
Forço girar o pescoço para olhar na sua direção. A visão embaçada não me permitia o ver tão bem, creio que fazia parte da preparação nos tornar cegos.
-Não tenho um nome.- Minha voz soa entranha aos meus ouvidos, já fazia algum tempo desde que falara alguma coisa. Era até como se tivesse desaprendido.
-Bobagem, todo mundo tem um nome.- teima.
-Ninguém aqui tem nome garoto. - Repito o que me foi dito repetidas vezes.
-Eles disseram isso para você. - Afirma. - São um bando de sádicos malucos.
Ele prossegue um longo tempo me encarando e eu volto a minha posição original.
-Vou te chamar de Fanny. - Diz por fim. - Por que você é engraçada.
Enrugo a testa por reflexo mas ela não se mexe um centímetro. Com o queixo encostado no apoio do violino me pergunto o que poderia ter de engraçado em mim.
A conversa naquela noite termina assim.

A preparação dele parecia demorar tanto quanto a minha, realizo que era por que provavelmente se tornaria um soldado de chumbo.
Pelo que sabia das produções isso parecia dar trabalho.
Esse garoto me faz lembrar dos dias que se seguiram quando cheguei aqui.
Recordo de pensar que se os relógios falassem não estaria assim tão solitária, e de querer ter compainha.
Isso tinha passado há tanto tempo e só conseguia sentir ódio do rapaz por me fazer lembrar disso.

Eles começam a vir de noite e não a tarde como faziam, então sou obrigada a dar piruetas no escuro.
Vários acessórios são colocados no meu globo me permitindo ver estrelas através de mim mesma.
Mais verniz e meu coração que se tornou mecânico a força já estava cansado e batia até a canção que me fazia girar na ponta dos pés parar.
Acho que a única coisa que odeio mais que o garoto Mark é essa música irritante que começa quando me dão corda.
-Eu estou ficando duro, Fanny. - Ele tenta dobrar o braço mas não consegue. - O que estão fazendo comigo?
-Verniz. - Respondo simplesmente sem muito interesse em manter uma conversa.
-Posso entrar aí? - Pergunta ansioso.
Giro em minha plataforma para vê-lo por trás da entrada do globo.
Tento dar de ombros para expressar que não me importo, mas a posição com o violino me impede então só solto um "tanto faz" desanimado.
-Você está colada aí?- Quer saber enquanto me observa.
-Só encaixada. - Seus olhos em mim me faz desconfortável.
-Então pode descer? - Ele parece se iluminar com a possibilidade
-Tecnicamente sim.
Ele se aproxima rapidamente e apóia as mãos sobre as pregas plisadas da minha saia rosada.
-Então desça. - Pede antes de me erguer no ar com força.
Antes de poder protestar as pontas da minha sapatilha toca o chão.
-O que você fez? - Pergunto incrédula. - Me põe de volta.
-Não. - Mark me encara com certo fascínio. - Seu rosto é tão perfeito, já era assim antes ou te fizeram desse jeito.
-Não sei. - Respondo com medo de ser pega.
-Consegue por o pé inteiro no chão?
Olho para os pés do futuro soldado de chumbo e tento colocar os meus iguais aos dele, mas estam duros de mais.
-Não.
-Isso pode ser um problema, mas resolvemos isso depois. - Toca levemente o violino. - Não deixaram seus dedos e braços duros para poder parecer que está tocando.
-Mas eu toco de verdade. - retruco.
-Você é mais incrível do que pensei. - Afirma. - Nunca pensou em fugir daqui?
Demoro a responder, e mesmo dizendo que não, sei que estou mentindo.
Pensei em estilhaçar o vidro da minha cúpula milhares de vezes. Mas se eu o quebrasse teria que voar e não tinha ninguém para me pegar caso mergulhasse.
Eu tinha medo de mudar, então consequentemente os dias continuavam os mesmo.
Aquele sentimento borbulha em mim cada dia mais. Queria que alguém me fizesse sentir viva, que me deixassem em pedaços. E de todas as formas Mark era essa pessoa que rompia meu verniz dia após dia e parecia feliz, afinal acabava rompendo o seu próprio.
-Agora que pode por o pé inteiro no chão... - Começa. - Poderíamos fugir daqui.
Alguns dias antes sua proposta pareceria indecente, mas agora era deliciosamente fascinante.
Como eu queria poder ver o mundo além do meu próprio globo nevado.
O mundo continuava girando mas era em vão, nada mudaria, mas Mark estava me segurando.
Já estava tonta de girar sem parar, não aguentava mais.
Em alguma noite aceitei fugir com ele. Mark parecia desesperado, começariam a trabalhar com o chumbo nele em breve e aquilo poderia danificá-lo para sempre.
Marcamos na noite mais escura, quebrariamos o vidro do globo, sairíamos correndo e seríamos felizes para todo o sempre .
Obviamente seria mais fácil sair pela pequena porta no fundo da cúpula, mas por algum motivo a estavam trancando, então do lado de fora Mark usava tudo o que via para quebrar o vidro.
Tentada por fazer o mesmo por dentro descubro que a parte interna é mais frágil que a externa.
Ouvir os cacos caírem no chão soava como música, uma melhor que a que eu ouvia todo dia quando a "neve" começava cair.
Corremos duros por toda extensão do hall e uma luz se acende quando esticamos a mão para a maçaneta.
Congelo no mesmo instante, tenho muito medo guardado em mim.
-Calma, vai dar tudo certo. - Sussurra para mim.
Mark repete um movimento que já vi os preparadores fazer muitas vezes.
Ele se inclina para mim e encosta sua boca na minha delicadamente e isso me faz flutuar e sentir como se realmente estivesse estilhaçando.
-Acho que o seu verniz é diferente. - Diz ao se separar e me encarar bem de perto. - A atmosfera do globo provavelmente mantinha ele.
Toco meu rosto e sinto fissuras na minha pele, estava quebrando de verdade?
-O que diabos está acontecendo aqui?
Viro ,de olhos arregalados, para encarar um estranho.
-Era verdade então. - Afirma outro chegando. - Não precisam ter medo, estamos aqui para ajudar.
Em segundos o lugar está cheio de estranhos que dizem que vão cuidar de nós.

Passo semanas sem ver Mark e isso me deixa angustiada. Disseram que fomos vítimas de pessoas que transformavam outras pessoas em bonecas e as vendiam por muito dinheiro.
Retiraram o verniz da minha pele e depois que eu já podia me mexer apropriadamente me deixaram ver Mark.
-Você está muito melhor agora. - Fala me olhando com atenção. - Gosto mais sem o verniz.
-Eu também. - Abro um pequeno sorriso.
-No final das contas não precisamos nem fugir. - Realiza animado. - Disseram para mim que algumas mudanças que fizeram em mim não podem ser concertadas, mas acho que não vai interfirir na minha vida... Nossa vida.
-Nossa? - Inclino a cabeça para o lado deixando minha cabeça divagar pelas possibilidades de um futuro melhor que o de antes, desses felizes que eu poderia viver ao lado do garoto de cabelo berinjela.
-Sim, não vou ficar longe de você mais um segundo se quer.
Ele encosta os lábios na ponta do meu nariz e a partir daquele instante aquilo vira uma promessa para nós dois.
Nenhuma outra cúpula ou chumbo seria capaz de nos separar, jamais.

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Não esqueçam de votar paras fics inspiradas nas one shots aqui.
Esse é o segundo capitulo de votação, o que quer dizer que acaba daqui a três capítulos.
NÃO ME DEIXEM FLOPAR QUE EU CHORO.
A tia ama vocês, até o próximo capítulo💙

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